*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Friday, September 29, 2006

Por que a imprensa não derrubou o Lula





A grande imprensa comercial-burguesa - constituída pelos principais jornais, revistas e emissoras de rádio e TV do Brasil - costuma ser muito poderosa, influencia a maior parte da população, promove e destrói reputações rapidamente, ajuda a disseminar os valores liberais e os padrões de consumo e quase sempre está envolvida diretamente nas eleições para apoiar os candidatos mais conservadores e mais identificados com o capitalismo. No atual processo eleitoral, no entanto, o poder da grande imprensa sofreu um baque diante da reeleição de Lula, já que o candidato do PT foi alvo de forte bombardeio e se manteve no topo das pesquisas de indicação de voto. Vários estudiosos, pesquisadores, jornalistas e cientistas políticos trataram de analisar esse "fenômeno", que coloca em xeque as teorias da comunicação de massa e a força dos oligopólios que controlam as mídias no Brasil.
A história recente do País tem sido fértil em situações de intensa manipulação dos meios de comunicação e de resultados corrosivos para a sociedade. A mídia comercial-burguesa criou a figura do "caçador de marajás" em 1989 e encheu a bola de Fernando Collor de Mello até que ele pudesse derrotar a forte liderança operária de Lula e o movimento popular que o apoiava. A aventura da mídia burguesa e das elites deu no que deu. Da mesma forma, a grande imprensa embarcou com tudo na candidatura de Fernando Henrique Cardoso em 1994, articulou com ele a reeleição de 1998 e retirou de circulação qualquer notícia que pudesse prejudicar aquela candidatura. Em 2002, mesmo sendo simpática a José Serra, a mídia equilibrou a cobertura depois que o candidato Lula assegurou, em documento firmado, que não tocaria nos postulados do neoliberalismo e nem confrontaria o poder dos oligopólios privados. No último ano, no entanto, o partido de Lula e seu governo foram violentamente atingidos pelos escândalos do "mensalão", do "valerioduto", do "caixa-dois" e dos "sanguessugas". Esses episódios serviram de pretexto para que boa parte da imprensa liberal-burguesa cerrasse baterias permanentes contra a reeleição de Lula, com ataques constantes nos principais jornais e revistas, e com reprodução variada nos meios eletrônicos. Diante do assalto midiático, apoiadores de Lula e analistas simpáticos ao governo do PT, passaram a interpretar o "fenômeno" (o poder da mídia não derrubou Lula nas pesquisas eleitorais) com várias hipóteses, desde o efeito do programa Bolsa-Família na população de baixa renda, a melhoria das condições de vida da população pobre e miserável, a ação concreta dos projetos sociais até o descolamento da figura do presidente em relação às denúncias de corrupção. Parece evidente que as mazelas éticas realmente não colaram em Lula, e se colaram não foram suficientes para mudar a posição do eleitorado sobre o candidato; aparentemente parcela da população considerou as denúncias menos relevantes do que a substituição de Lula por outra candidatura não representativa; ou, ainda, que é preferível seguir com Lula (mesmo que tenha culpa nas denúncias) do que retroceder ao conservadorismo do PSDB/PFL ou arriscar com algo desconhecido e incerto. É possível compreender um pouco sobre o "fenômeno" se a análise levar em consideração que as elites políticas já vinham operando, desde o início do governo Lula, no sentido de afastar o presidente da área de influência dos setores da esquerda, partidária ou não, de tal forma que ele pudesse levar adiante as políticas que interessam às classes dominantes. No processo eleitoral, essa operação teve seqüência na composição dos governos estaduais e das bancadas para o Congresso Nacional, ambos controlados pelos setores de direita. Essas alianças ligadas aos oligopólios regionais de comunicação conseguiram diminuir o impacto dos ataques provenientes da grande imprensa nacional, na medida em que não reproduziram nos estados e nos meios eletrônicos locais a bateria de ataques, inclusive porque os grupos conservadores de vários estados participaram aberta ou camufladamente da campanha de Lula. Assim, mesmo que as políticas sociais tenham proporcionado dividendos eleitorais para Lula, mesmo que os pobres tenham forte identificação com o presidente, mesmo que o carisma de Lula supere todo o desgaste do PT e do governo, está claro que o prestígio e a imagem de Lula não foram arrasados pela mídia porque as forças conservadoras de vários estados pegaram uma boa carona na campanha da reeleição. Lula provavelmente vai eleger mais gente de direita - dos vários partidos - do que de sua própria base social original popular e de esquerda. Nesse sentido, a manobra da grande imprensa contra Lula obteve sucesso no processo eleitoral, porque afastou do governo e do PT uma boa parcela da classe média, jogando-a no colo do conservadorismo, enquanto as oligarquias regionais se encarregaram de capturar na massa pobre e carente do Bolsa-Família os votos cativos do lulismo. Agora resta saber qual será a conta que as oligarquias vão entregar no Palácio do Planalto. Quem vai pagar, com certeza, será o povo brasileiro. Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor universitário.

O presidente boliviano conclama as nações latino-americanas a se unir contra o Império





Romper com a política unilateral dos Estados Unidos, e construir uma nova ordem mundial, baseada na multipolaridade. Essa foi a estratégia tirada nas discussões da 14ª Cúpula do Movimento dos Países Não-Alinhados (da sigla em espanhol, MNOAL), realizada em Havana, capital cubana, entre os dias 11 e 16.
Em comum, os representantes dos 118 países, que participaram do encontro, carregam o título de integrantes do Terceiro Mundo. Alcunha que lhes é imposta pelas grandes potências e simboliza sua dependência política, econômica e cultural. O presidente boliviano, Evo Morales, apresentou propostas na MNOAL. "Somente a união do povo organizado, consciente, pode garantir profundas transformações", afirmou.
Em entrevista ao Brasil de Fato, em Havana, ele falou da necessidade de refundar a Bolívia, criando um modelo que beneficie a população. Também comentou sobre o decreto de nacionalização das reservas de hidrocarbonetos: "Necessitamos de sócios, necessitamos de investimentos, não de patrões."
Brasil de Fato - Durante a MNOAL, o senhor se reuniu com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O que discutiram?
Evo Morales -Ele me expressou duas preocupações. A primeira delas era sobre a Assembléia Constituinte, a outra sobre os processos judiciais contra os ex-presidentes da Bolívia. Expliquei-lhe que o movimento indígena e o movimento popular, assim como outros setores, apostam em mudanças profundas, por uma revolução democrática, cultural e pacífica. Pequenos grupos, que antes privatizaram os recursos naturais e os serviços básicos, resistem a esse processo. A maioria do povo boliviano aposta nessas mudanças. Quando lhe expliquei isso, ele entendeu perfeitamente. Desejou-nos muita sorte. Sobre o outro tema, pode ser que alguém tenha dito a Annan que estaríamos manipulando o poder judicial, o que é absolutamente falso. O poder judicial nunca foi nomeado por Evo Morales, nem pelo MAS ou pelos movimentos sociais. O poder judicial é formado por restos dos partidos neoliberais e, portanto, não há como manipular. Nem que pudéssemos, manipulariamos. É obrigação do poder judicial fazer justiça, ainda que tente minar o processo de mudanças em curso. Isso acontece porque representa uma outra cultura, outra ideologia, outro programa. A força do povo obriga o poder judicial a julgar os ex-presidentes, que fizeram tanto mal ao país, com tantos massacres, tantas violações. Alguns fugiram para os Estados Unidos. Não é possível que os EUA continuem sendo a lixeira de terroristas, dos que violam os direitos humanos - temos que mudar isso. Expliquei isso a Annan, e acredito que ele ficou satisfeito.
BF - A direita boliviana quer desestabilizar seu governo?
Evo -Seis dos 9 prefeitos (governadores) bolivianos se reuniram e decidiram que deveriam retira Evo Morales da Presidência. A justificativa é que deve haver maioria de dois terços na Assembléia Constituinte para que seja aprovada. O plano é desestabilizar a democracia e nosso governo, além de impedir as profundas mudanças em curso. Querem impedir a realização da Constituinte. São pequenos grupos, ainda que a imprensa controlada os coloque como poderosos. Por isso, somente a união do povo organizado, consciente, pode garantir profundas transformações, que pretendemos realizar.
BF - Os grupos de direita reivindicam a reforma da Constituição, e rejeitam a criação de uma nova.
Evo - Necessitamos de uma Constituição nova. Até agora, desde a fundação da Bolívia, em 1825-1826, houve 16 Assembléias Constituintes, em que simplesmente se reformou a Constituição. Agora, o povo está apostando em uma refundação, e não em uma reforma. A população indígena não participou da fundação da Bolívia. Em 1825-1826, 92% da população era indígena, mas não participou da criação da Constituição. Agora, trata-se de refundar a democracia, com a participação dos indígenas , , mas também com a participação de intelectuais, empresários, profissionais liberais. Estou convencido que é importante combinar a consciência social com a capacidade profissional e intelectual.
BF - Qual a tarefa das organizações sociais para garantir a refundação?
Evo - Na Bolívia, e que seja assim em toda a América Latina, esperamos que sejam os movimentos sociais que apostem na transformação. Nem precisa tanto ser o partido - que este seja uma legenda, legalmente reconhecida pela Corte Nacional Eleitoral, mas que, atrás desta sigla, estejam os movimentos sociais, especialmente os indígenas. Esses povos são os donos absolutos da terra. Nossa luta é como fazer para recuperar o território, o que significa recuperar todos os recursos naturais. Há uma enorme tarefa. Depois de 20 anos de neoliberalismo, é preciso acabar com as políticas de exclusão. Estou certo de que, com a solidariedade internacional, com os países não-alinhados, vamos garantir os processos de mudanças que têm os movimentos sociais à frente, como condutor.
BF - Um dos primeiros passos adotados pelo seu governo nesse sentido foi a nacionalização dos recursos naturais. Qual o poder de transformação do decreto de nacionalização?
Evo - A partir de 1º de maio, o Estado exerce o direito de propriedade, o que representa uma esperança para os bolivianos. Após o decreto supremo de nacionalização, aumentou a arrecadação de nossa economia. Até agora, foram mais de 100 milhões de dólares adicionais em relação ao que recebíamos antes. Começamos a recuperar nossa dignidade. Como bolivianos, temos o direito de ter o controle sobre nossos recursos naturais. O próximo passo é garantir os novos contratos e a industrialização. Temos esse processo bastante avançado com a Argentina, Venezuela e estamos negociando com o Brasil. Queremos a participação do Brasil. Quero que nossas estatais petrolíferas e de produção de gás sejam a esperança para todos os latino-americanos.
BF - O que mudou para as empresas?
Evo -Em primeiro lugar, e de maneira bastante responsável, não expulsamos ninguém. Mas também consideramos que não devemos indenizar as empresas. Garantimos que têm o direito de recuperar seus investimentos e o direito de obter lucro. No entanto, o que muda é que não vai ser como antes, em que 18% dos lucros da exploração do gás ficava com a Bolívia e o resto com as empresas. Nos governos anteriores, quando se falava em aumentar um centavo da arrecadação do Estado, ameaçavam abandonar o país. Depois, quando decidimos modificar as regras, invertemos a lógica. Agora, 82% fica com o povo boliviano e 18% com as empresas. E ninguém abandonou o país, porque continuam ganhando.
BF - Ainda é lucrativo para as transnacionais?
Evo - Necessitamos de sócios, necessitamos de investimentos, não de patrões.
BF - O senhor falou do controle sobre os meios de comunicação. Qual a importância da mídia popular e comunitária em seu governo?
Evo - Os meios de comunicação estão concentrados nas mãos de pequenos grupos, os donos de sempre. Decidimos que temos o direito de ter nossos próprios meios de comunicação. Rádios comunitárias, televisões comunitárias, e isso não só porque queremos expressar nossos sentimentos e sofrimentos, mas também porque é uma questão de educação. Por exemplo: há muitos estudantes camponeses que não tiveram o direito de entrar em uma universidade. Tenho certeza que pelos meios de comunicação, poderíamos impulsionar a profissionalização. Precisamos de meios de comunicação que digam a verdade sobre as pessoas abandonadas em nosso país, sobre a situação política que estamos vivendo.
BF - Em 1961, quando surgiu a MNOAL, o mundo estava dividido entre duas grandes potências - Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O que significa ser não-alinhado hoje, no mundo unipolar?
Evo -Somos alinhados às lutas dos povos, e não-alinhados ao Império. É importante fortalecer e consolidar a relação entre esses países, sua unidade. O companheiro Hugo Chávez, da Venezuela, gritou: "Pátria ou Morte!" Eu digo: Planeta ou Morte! Temos que salvar a humanidade.
BF - O Tratado de Comércio dos Povos (TCP) e a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), assinados entre Cuba, Venezuela e Bolívia, são o caminho para a construção da unidade à qual o senhor se refere?
Evo - Os acordos entre Cuba e Venezuela têm tido resultados. Surpreendi-me com os dados econômicos da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), de 2005. Os países anti-imperialistas, anti-neoliberais, encabeçam o índice de crescimento econômico. Queremos agregar à Alba o TCP, baseado em um comércio de equilíbrio, cooperação e solidariedade.
BF - Qual a responsabilidade dos movimentos sociais latino-americanos no sentido de garantir e aprofundar as transformações sociais no continente?
Evo - União. Não só na Bolívia, mas em toda a América Latina. Compartilhar as distintas vivências e os processos de luta. Espero que possamos estimular as relações entre movimentos sociais e chefes de Estado, fundamental para a unidade do continente.

stop imperialismo











stop imperialismo










Thursday, September 28, 2006

@S ZAPATISTAS E A OUTRA: OS PEDESTRES DA HISTÓRIA.Por Subcomandante Insurgente Marcos 27/09/2006 às 22:25

















Este escrito é pensado e dirigido para @s aderentes à Sexta e à Outra Campanha e, obviamente, a quem puder simpatizar com o nosso movimento.
@S ZAPATISTAS E A OUTRA: OS PEDESTRES DA HISTÓRIA. Introdução Este escrito é pensado e dirigido para @s aderentes à Sexta e à Outra Campanha e, obviamente, a quem puder simpatizar com o nosso movimento. As que aqui apresentamos, são parte das reflexões e conclusões que têm sido partilhadas com algumas pessoas, grupos, coletivos e organizações aderentes à Sexta Declaração da Selva Lacandona. Seguindo nosso "jeito" na Outra Campanha, primeiro ouvimos a palavra dest@s companheir@s e em seguida expusemos nossa análise e conclusão. A Comissão Sexta do EZLN tem se mantido atenta às opiniões e propostas de uma parte de companheir@s da Outra Campanha, no que se refere à chamada "crise pós-eleitoral", às mobilizações em vários pontos do país (particularmente em Oaxaca com a APPO, e no DF com AMLO [Andrés Manuel López Obrador]), e à Outra Campanha. Através de cartas, relatórios de reuniões e assembléias, na página eletrônica, em alguns casos em suas posições públicas e em encontros pessoais e de grupo, alguns aderentes têm se manifestado sobre estes pontos. Durante parte do mês de julho e de todo o mês de agosto, a Comissão Sexta do EZLN manteve reuniões multilaterais com alguns companheir@s aderentes de 19 estados da república: DF, Estado do México, Morelos, Michoacán, Querétaro, Tlaxcala, Puebla, Veracruz, Oaxaca, Guerrero, Jalisco, Hidalgo, Zacatecas, Nuevo León, San Luis Potosí, Colima, Nayarit, Guanajuato e Aguascalientes. Além disso, com organizações políticas e sociais presentes em vários pontos do país e com noss@s companheir@s do Congresso Nacional Indígena. De acordo com nossas limitadas possibilidades, mantivemos estas reuniões em locais d@s companheir@s da Outra na Cidade do México e nos estados de Morelos, Michoacán, Querétaro, Tlaxcala e Puebla. Não foi possível, nem desejável para nós, falar diretamente com tod@s @s aderentes. Isso deu lugar a que, em alguns lugares, nos acusassem de "excluir" alguns. Em relação a isso, dizemos que, na Outra Campanha, cabe a cada grupo, coletivo, organização ou pessoa decidir com quem se reúne da Outra, quando, como e com que agenda. Fazendo uso deste direito, a Comissão Sexta do EZLN ouviu e falou com quem aceitou o nosso convite. Contudo, ainda que se tratasse de reuniões privadas, nossas colocações não foram nem são secretas. Àqueles que nos escutaram amavelmente pedimos então que transmitissem a outr@s companheir@s de seus estados e unidades organizativas de trabalho, o que pensávamos enquanto Comissão Sexta do EZLN. Alguns del@s, com nobreza, concordaram e cumpriram isso completamente. Outr@s aproveitaram para acrescentar avaliações pessoais como se fossem do EZLN ou, em seus "relatos" editaram propositadamente o que haviam ouvido para dar uma versão tendenciosa do que colocávamos nas reuniões. Os temas destas reuniões foram: A situação nacional de cima, particularmente o aspecto eleitoral. A situação nacional de baixo, entre o povo que não é da Outra. A situação da Outra Campanha. A proposta do EZLN para "o que vem depois?" da Outra Campanha. Algumas das reflexões d@s companheir@s com @s quais nos reunimos estão agora incorporadas ao nosso pensamento, reflexão e conclusão. Contudo, é preciso deixar claro que o que comunicamos agora, e propomos, a tod@s @s noss@s companheir@s da Sexta e da Outra é responsabilidade única da Comissão Sexta do EZLN, e é como organização aderente à Outra que o fazemos. Àqueles que se sentiram excluídos ou marginalizados, nossas sinceras desculpas e nosso pedido de compreensão. Só de passagem, apresentamos uma breve resenha do que ocorreu no interior do EZLN e desembocou na Sexta Declaração, nosso balanço (que não pretende ser O balanço) a um ano da Sexta e da Outra, nossa análise e posição sobre o que acontece em cima e nossa proposta para os próximos passos da Outra. O que vamos apresentar aqui já passou por uma consulta, em suas linhas gerais, com @s comandantes do Comitê Clandestino Revolucionário Indígena do EZLN, de tal forma que não só representa a posição da Comissão Sexta como a da direção do Exército Zapatista de Libertação Nacional. Valeu. Subcomandante Insurgente Marcos. México, setembro de 2006. @S ZAPATISTAS E A OUTRA: OS PEDESTRES DA HISTÓRIA. Primeira parte: os caminhos para a Sexta. Setembro de 2006. De forma sintética, já que falamos muito sobre este tema, exporemos o processo que antecede a Sexta Declaração no interior do EZLN: 1. A traição da classe política mexicana e sua decomposição. No final de abril de 2001, depois da Marcha da Cor da Terra e do apoio de milhões de pessoas, do México e do Mundo, à causa do reconhecimento constitucional dos direitos e da cultura indígenas, a classe política em seu conjunto aprovou uma contra-reforma. Disso já falamos mais amplamente, agora sublinhamos só o fundamental: os três principais partidos políticos nacionais, PRI, PAN e PRD, deram às costas às justas demandas dos indígenas e nos traíram. Então algo se rompeu definitivamente. Este fato (cuidadosamente "esquecido" por aqueles que reclamam de nossas críticas à classe política em seu conjunto) foi fundamental para os passos do EZLN que vieram depois, tanto interna como externamente. A partir daí, o EZLN faz uma avaliação do que foi sua proposta, do caminho que seguiu e das possíveis causas desta traição. Através de análises públicas e privadas, o EZLN caracterizou o modelo sócio-econômico dominante no México como NEOLIBERAL. Apontou que uma de suas características é a destruição do Estado-Nação, e que inclui, entre outras coisas, a decomposição dos atores políticos, de suas relações de dominação e seus "jeitos". Até então, o EZLN havia acreditado que existia certa sensibilidade em alguns atores da classe política, particularmente os que se agrupavam em torno da figura de Cuauhtémoc Cárdenas Solórzano (dentro e fora do PRD) e que era possível, através de mobilizações e em aliança com este setor, arrancar dos governantes o reconhecimento de nossos direitos enquanto povos indígenas. Por isso, boa parte das ações públicas externas do EZLN foi destinada à interlocução com esta classe política, ao diálogo e à negociação com o governo federal. Pensávamos que os políticos de cima iam entender e cumprir uma demanda que havia custado um levante armado e sangue de mexicanos; que isso encaminharia o processo de diálogo e negociação com o governo federal a um final satisfatório; que assim poderíamos "sair" para fazer política civil e pacífica; que com o reconhecimento jurídico se teria uma "proteção jurídica" para os processos de autonomia que vêm ocorrendo em várias partes do México indígena; e que se fortaleceria a via do diálogo e da negociação como alternativa para a solução de conflitos. Erramos. A classe política em seu conjunto foi avara, vil, ruim... e estúpida. A decisão tomada naquele momento pelos três principais partidos políticos (PRI, PAN e PRD) demonstrou que as supostas diferenças entre eles não passam de simulações. A "geometria" da política de cima havia se transformado, não havia esquerda, nem centro, nem direita. Tão somente um bando de ladrões com espaço... e com cinismo em horário nobre. Não sabemos se erramos desde o início, se já por volta de 1994 (quando o EZLN opta pelas iniciativas civis e pacíficas) a decomposição da classe política já era um fato (e o chamado "neocardenismo" era só uma nostalgia de 1988); ou se nestes 7 anos o Poder havia acelerado o processo de putrefação dos políticos profissionais. Desde 1994, pessoas e grupos da então chamada "sociedade civil" haviam se aproximado de nós para nos dizer que o neocardenismo era honesto, conseqüente, e um aliado natural de todas as lutas populares, não só da neozapatista. Acreditamos que, na maioria dos casos, esta gente fez isso com boa intenção. A posição do hoje empregado de Vicente Fox, Cuauhtémoc Cárdenas Solórzano, e do seu filho, o patético Lázaro Cárdenas Batel (hoje governador de um Michoacán controlado pelo narcotráfico), na contra- reforma indígena já é conhecida. De mãos dadas com o depois chamejante coordenador da campanha de AMLO, Jesus Ortega, os senadores perredistas votaram uma lei que foi denunciada como farsa inclusive por organizações indígenas antizapatistas. Confirmaram-se assim as palavras de um antigo militante de esquerda: "o general Cárdenas morreu em 1988". Por sua vez, os deputados do PRD aprovaram na câmara baixa uma série de leis secundárias e regulamentos que consolidaram a traição. Só lembramos que, quando denunciamos publicamente esta atuação do neocardenismo, fomos atacados (caricaturas incluídas) pelos mesmos que agora dizem que, de fato, Cárdenas é um traidor (só que agora por não ter apoiado López Obrador). Claro, uma coisa é trair alguns indígenas, e outra bem diferente é trair o LÍDER. Naquele momento, nos chamaram de "sectários", "marginais", e disseram que, ao "atacar" Cárdenas "os zapatistas faziam o jogo da direita". Viu como soa? E agora o engenheiro se quer fazer de "esquerdista" e crítico de AMLO... enquanto trabalha para o inquilino de Los Pinos na comissão de comemorações do bicentenário da independência. Depois desta traição, nós não podíamos fazer como se nada tivesse acontecido (não somos perredistas). Tendo como meta a lei indígena, havíamos estruturado o processo de diálogo e negociação com o governo federal e chegado a acordos, havíamos construído uma interlocução com a classe política e havíamos chamado gente (do México e do mundo) a se mobilizarem conosco através desta demanda. Em nosso erro havíamos arrastado muita gente. É só. O próximo passo do EZLN não só não seria dirigido a falar e ouvir os de cima, mas sim entraria em confronto com eles... radicalmente. Ou seja, o passo seguinte do EZLN iria contra todos os políticos. 2. Luta armada ou iniciativa civil e pacífica? Depois do rechaço da Suprema Corte de Justiça da Nação aos protestos e inconformidades de várias comunidades indígenas pela contra-reforma, alguns intelectuais (vários deles nos reprovariam depois o fato de não apoiar AMLO e o PRD na luta pela cadeira presidencial) chamaram implicitamente à violência. Palavras mais, palavras menos, disseram que aos indígenas já não resta outro caminho (vejam-se as declarações e editoriais destes dias ? setembro e outubro de 2002). Um deles, hoje chamejante "intelectual orgânico" do movimento pós-eleitoral de López Obrador, festejou a decisão da Suprema Corte e escreveu que, então, ao EZLN só restavam dois caminhos: ou renegociar com o governo ou levantar-se novamente em armas. As opções que se colocam lá em cima (e que são apropriadas por alguns intelectuais "de esquerda") são falsas. Foi olhando para dentro de nós que decidimos não fazer nem uma coisa nem outra. Tínhamos então a opção da retomada dos combates. Não só tínhamos capacidade militar para fazê-lo, como também contávamos com a legitimidade para isso. Mas a ação militar é uma ação tipicamente excludente, o melhor exemplo do sectarismo. Nela estão os que têm os apetrechos, o conhecimento, as condições físicas e mentais, e a disposição não só para morrer, mas também para matar. Nós recorremos a ela porque, como dissemos então, não haviam nos deixado outro caminho. Além disso, em 1994, havíamos assumido um compromisso de insistir no caminho civil. Não com o governo, mas sim com as "pessoas", com a "sociedade civil" que não só apoiou nossa demanda como também participou diretamente de nossas iniciativas durante 7 anos. Essas iniciativas foram espaços para a participação de tod@s, sem outra exclusão a não ser a desonestidade e o crime. De açodo com a nossa avaliação, tínhamos um compromisso com este povo. De tal forma que o passo seguinte, pensávamos, deveria ser também uma iniciativa civil e pacífica. 3. A lição das iniciativas anteriores: olhar para baixo. Em 2001, enquanto a classe política transformava em lei a sua traição, nas comunidades zapatistas a delegação que participou da chamada "Marcha da Cor da Terra" trazia seu informe. Ao contrário do que se pode pensar, o informe não se referia primordialmente ao que havia se falado e ouvido com e dos políticos, dirigentes, artistas, cientistas e intelectuais, mas sim ao que havíamos visto e ouvido do México de baixo. E a avaliação que apresentávamos coincidia com a que haviam feito os 5.000 delegados da consulta de 1999 e os da marcha dos 1.111 em 1997. A saber, havia um setor da população que nos interpelava, que nos dizia "estamos apoiando vocês nas demandas indígenas, mas e nós?" E este setor era, e é, formado por camponeses, operários, funcionários públicos, mulheres, jovens. Sobretudo mulheres e jovens, de todas as cores, mas com a mesma história de humilhação, espoliação, exploração e repressão. Não, não lemos que eles pediram para levantar-se em armas. Tampouco, que esperavam um líder, um guia, um caudilho, um "raio de esperança". Não, lemos e entendemos que esperavam que lutássemos junto a el@s por suas demandas específicas, assim como el@s lutavam conosco pelas nossas. Lemos e entendemos que esta gente queria outra forma de se organizar, de fazer política, de lutar. A "saída" dos 1.111 e dos 5.000 havia significado "abrir" ainda mais nossos ouvidos e olhar, porque est@s companheir@s haviam visto e ouvido, DIRETAMENTE E SEM INTERMEDIÁRIOS, @s de baixo. Não só a situação de vida de pessoas, famílias, grupos, coletivos e organizações, mas também sua convicção de luta, sua história, seu "estou aqui". Era gente que nunca havia podido visitar nossas comunidades, que não conhecia diretamente nosso processo, que só sabia de nós o que a nossa palavra lhe havia narrado. E não era gente que estava no palanque das várias iniciativas nas quais @s neozapatistas mantinham contato direto com cidadãos e cidadãs. Era gente simples e humilde que ninguém escutava e que precisávamos escutar... para aprender, para tornarmo-nos companheir@s. Nosso próximo passo deveria fazer um contato direto com esta gente. E se antes havia sido para falar e para que nos escutassem, agora deveria ser para ouvi-l@s. E não para nos relacionarmos com el@s numa determinada conjuntura, mas sim a longo prazo, como companheir@s. Analisamos também que a delegação zapatista, quando "saía" para alguma iniciativa, era "isolada" por um grupo de pessoas: as que organizavam, as que decidiam quando, onde e com quem. Não julgamos se eram boas ou más, só o assinalamos. Portanto, a próxima iniciativa devia poder "detectar" estes "isolamentos" de início para evitá-los mais adiante. Além disso, querendo ou não, as "saídas" do EZLN haviam privilegiado a interlocução com um setor da população: a classe média letrada, intelectuais, artistas, cientistas, líderes sociais e políticos. Postos a escolher, na nova iniciativa teríamos que eleger entre este setor o dos mais despossuídos. E, se tínhamos que escolher, o faríamos por est@s, @s de baixo, e construir um espaço para nos encontrarmos com el@s. 4. O "custo" de ser conseqüente". Cada conclusão que tirávamos na análise interna nos levava a uma definição, e esta a uma nova conclusão. De acordo com o nosso jeito, não podíamos chamar as pessoas para uma iniciativa sem dizer-lhes claramente o que pensávamos e onde queríamos ir. Se avaliamos que não havia nenhuma possibilidade com a classe política, deveríamos dizê-lo. Devíamos fazer uma crítica frontal e radical de TODA a classe política, sem diferenciar (como antes diferenciávamos Cárdenas do PRD), dando nossos argumentos e razões. Ou seja, avisar as pessoas do que havia se quebrado. Pensamos então (e, como se veria depois, não erramos) que o setor que antes seguiu Cuauhtémoc Cárdenas Solórzano "esqueceria" depois as ações legislativas e de governo do PRD, as incorporações de ex- priistas, os galanteios com o grande dinheiro, as repressões e agressões de governos perredistas a movimentos populares fora de sua órbita, o silêncio cúmplice de López Obrador diante do voto perredista no Senado contra os Acordos de San Andrés e proclamaria AMLO como novo líder. De López Obrador falaremos mais adiante, por enquanto, diremos só que a crítica o incluiria e, era de se esperar, isso molestaria e afastaria este setor que havia estado próximo do neozapatismo. Este setor, formado principalmente, mas não só, de intelectuais, artistas, cientistas e líderes sociais, incluía também o que chamam de "base social perredista" e muita gente que, sem ter afinidade ou ser simpatizante do PRD, pensa que houve ou há algo resgatável na classe política mexicana. E toda esta gente, junto com muitas outras, que não subscreverá nem subscreve as análises e posições do PRD, havia formado uma espécie de "escudo" em volta das comunidades indígenas zapatistas. Havia se mobilizado cada vez que sofríamos uma agressão... menos quando a agressão veio do PRD. A crítica e a distância em relação a AMLO, a quem consideravam e consideram uma alternativa para o de cima, seria considerada uma crítica a el@s. Logo, não só deixariam de nos apoiar, como também passariam a nos atacar. Assim aconteceu. Entre os "triunfos" daqueles que, da academia, das ciências, das artes, da cultura e da informação, apóiam incondicional e acriticamente López Obrador (e fazem ostentação de intolerância e despotismo... mesmo sem ter o governo) há um que tem passado despercebido: conseguiram o que o dinheiro não pôde, as pressões e as ameaças, ou seja, fechar os poucos espaços públicos que davam lugar à palavra do EZLN. Primeiro mentiram, em seguida tergiversaram e caluniaram, depois afastaram e, por último, eliminaram nossa palavra. Agora têm campo livre para fazer uma eco estridente (com edição prévia) do que diz e contradiz AMLO, sem que nada e ninguém lhe faça sombra. Mas o custo não seria só político... também militar. Ou seja, o "escudo" deixaria de sê-lo e a possibilidade de um ataque militar contra o EZLN seria cada vez mais atraente para os poderosos. A agressão viria então com roupas verde oliva, azuis, tricolor... ou, como aconteceu, amarelas (o governo perredista de Zinacantán, Chiapas, atacou com armas de fogo uma mobilização pacífica de bases de apoio zapatistas em 10 de abril de 2004, os paramilitares amarelos, patrocinados pelo PRD, formaram depois as primeiras "redes cidadãs de apoio a AMLO" ? outro "esquecimento" daqueles que reclamaram e reclamam pelo fato do EZLN não ter apoiado nem apoiar o perredista). Decidimos então separar a organização político-militar da estrutura civil das comunidades. Isto era uma necessidade premente. A ingerência da estrutura político-militar nas comunidades havia passado de estímulo a obstáculo. Era o momento de colocar-se de lado e não estorvar. Mas não se tratava só de evitar que o processo que as comunidades zapatistas haviam construído (com aporte, engenho e criatividade próprios) fosse destruído ao mesmo tempo em que o EZLN fosse estorvado por ele. Buscar-se-ia também que o custo da crítica à classe política fosse "pago" só pelo EZLN e, preferencialmente, por seu chefe militar e porta-voz. Mas não só. No caso das comunidades zapatistas decidirem dar o passo que o EZLN via como necessário, urgente e conseqüente, devíamos estar prontos para sobreviver a um ataque. Por isso, um tempo depois, a Sexta Declaração da Selva Lacandona começaria com um alerta vermelho e era necessário preparar-se, por anos, para ela. 5. Anticapitalista e de esquerda. Mas a principal conclusão a que chegamos na nossa avaliação não tinha a ver com estes aspectos, digamos táticos, mas sim com algo fundamental: o responsável por nossa dor, pelas injustiças, desprezos, espoliações e golpes com os quais vivemos, é um sistema econômico, político, social e ideológico, o sistema capitalista. O passo seguinte do neozapatismo tinha que apontar claramente o responsável, não só do desprezo dos direitos e da cultura indígena, mas sim do desprezo dos direitos e da exploração da grande maioria da população do México. Ou seja, deveria ser uma iniciativa anti-sistêmica. Antes disso, ainda que tendencialmente todas as iniciativas do EZLN fossem anti-sistêmicas, não estavam claramente sublinhadas. Toda mobilização em torno dos direitos e da cultura indígena havia sido dentro do sistema, inclusive com a intenção de construir uma interlocução e um espaço jurídico no interior da legalidade. E definir o capitalismo como responsável e inimigo trazia consigo outra conclusão: precisávamos ir além da luta indígena. Não só em declarações e propósitos, mas também em organização. Precisava-se, e precisa-se, pensávamos e pensamos, de um movimento que una as lutas contra o sistema que nos espolia, nos explora, nos reprime e nos despreza como indígenas. E não só soa, como indígenas, mas também milhões que não são indígenas: operários, camponeses, funcionários públicos, pequenos comerciantes, camelôs, trabalhador@s do sexo, desempregados, migrantes, subempregados, trabalhador@s de rua, homossexuais, lésbicas, transexuais, mulheres, jovens, crianças, anciãos e anciãs. Na história pública do EZLN havíamos conhecido outras organizações e povos indígenas e havíamos nos relacionado com eles com sucesso. O Congresso Nacional Indígena havia nos permitido não só conhecer e aprender das lutas e processos de autonomia que povos indígenas estavam levando adiante, mas havíamos aprendido também a nos relacionarmos com el@s com respeito. Mas havíamos conhecido também organizações, coletivos, grupos políticos e culturais com uma definição claramente anticapitalista e de esquerda. Diante del@s havíamos mantido desconfiança, distância e ceticismo. A relação havia sido, sobretudo, um contínuo desencontro... de ambos os lados. Ao reconhecer o sistema capitalista como responsável pela dor indígena, o EZLN tinha que reconhecer que não é só a nós que produz esta dor. Havia e há est@s outr@s que temos encontrado ao longo destes 12 anos. Reconhecer sua existência era reconhecer sua história. Ou seja, nenhuma dessas organizações, grupos e coletivos havia "nascido" com o EZLN, nem a seu exemplo, nem à sua sombra, nem sob o seu teto. Eram, são, agrupamentos com uma história própria de luta e dignidade. Uma iniciativa contra o sistema capitalista não devia só levá-los em consideração, como estabelecer uma relação honesta com el@s, ou seja, uma relação respeitosa. @s companheir@s do Congresso Nacional Indígena haviam nos ensinado que a base para o respeito é reconhecer histórias, jeitos e âmbitos. Assim pensávamos que era possível colocar isso a outras organizações, grupos e coletivos anticapitalistas. A nova iniciativa devia se colocar a construção de pontos convergentes e alianças com est@s outr@s, sem que isso significasse unidade orgânica ou hegemonia del@s ou do EZLN. 6. Olhar para cima... o que não se diz. Conforme, lá em cima, ia avançando a luta pela cadeira presidencial, ia ficando claro para nós que não se tocava no fundamental: o modelo econômico. Ou seja, o sistema que nos faz sofrer como povos indígenas e como mexican@s não era abordado por nenhuma proposta daqueles que disputavam o espaço de cima, nem pelo PRI, nem pelo PAN, nem pelo PRD. Como tem sido apontado, não só por nós, a proposta supostamente de "esquerda" (a do PRD em geral e a de AMLO em particular) não era nem é tal. Era e é um projeto de administração da crise, garantindo ganhos para os grandes proprietários e controlando o descontentamento social com ajudas econômicas, cooptação de dirigentes e de movimentos, ameaças e repressão. Da chegada de Cárdenas Solórzano ao governo da capital, depois com Rosário Robles e, em seguida, com López Obrador e Alejandro Encinas, a cidade do México era e é governada como com o PRI, mas agora sob a bandeira do PRD. Mudou o partido, mas não a política. Mas AMLO tinha, e tem, o que nenhum de seus antecessores possuía: carisma e habilidade. Se antes Cárdenas usou o governo da cidade como trampolim para a presidência, López Obrador também fez isso, mas com maior perícia e sucesso do que o engenheiro. O governo de Vicente Fox, com seus aspectos torpes, se transformou no principal promotor e propagandista da candidatura do perredista. Segundo nossas avaliações, AMLO ganharia a eleição para presidente da República. E não erramos. López Obrador obteve o maior número de votos entre aqueles que disputavam a presidência. Ainda que não com a folga prevista, sua vantagem foi clara e contundente. Onde erramos é em pensar que o recurso à fraude eleitoral já era coisa do passado. Falaremos disso mais adiante. Continuando a nossa análise, a chegada de AMLO e de sua equipe (formada por puros salinistas descarados ou envergonhados, além de uma corja de pessoas vis e ruins) à presidência da República significava a chegada de um governo que, aparentando ser de esquerda, agiria como de direita (tal como fez, e faz, no governo do DF). E, além disso, chegaria com legitimidade, simpatia e popularidade. Mas nada do que é essencial para o modelo econômico seria tocado. Nas palavras de AMLO e de sua equipe: "as políticas macro-econômicas seriam mantidas". Como não diz quase nada, as "políticas macro-econômicas" significam aumento da exploração, destruição da seguridade social, precarização do trabalho, expropriação de terras ejidais e comunais, aumento da migração para os Estados Unidos, destruição da história e da cultura, repressão diante do descontentamento popular... e privatização do petróleo, do setor elétrico e da totalidade dos recursos naturais (que, no discurso de López Obrador, se disfarçavam de "co- investimento"). A política "social" (os "analistas" próximos de AMLO "esquecem", outra vez, as grandes semelhanças com aquela "solidariedade" de Carlos Salinas de Gortari ? o "inominável" relembrado na equipe de López Obrador) da proposta perredista, diziam-nos, seria possível reduzindo o gasto do aparato governamental e eliminando (olha só) a corrupção. A poupança obtida serviria para a ajuda aos setores "mais vulneráveis" (anciãos e mães solteiras) e para apoiar as ciências, a cultura e a arte. Então pensamos: AMLO ganha a presidência com a legitimidade e o apoio dos grandes empresários, além do respaldo incondicional da intelectualidade progressista; o processo de destruição da nossa Pátria continua (mas com a desculpa de ser uma destruição "de esquerda"); e qualquer tipo de oposição ou resistência seria catalogada como "patrocinada pela direita, a serviço da direita, sectária, ultra, infantil, aliada de Martha Sahagún (então era Martinha a "soar" a pré-candidata do PAN ? depois da etiqueta diria "aliado de Calderón") e blá, blá, blá", reprimida (como o movimento estudantil de 1999-2000; o povo de San Salvador Atenco ? lembremos que tudo começa com o prefeito perredista de Texcoco ? os deputados do PRD no Estado do México, que hoje pedem a liberdade d@s pres@s, saudaram e apoiaram a seu tempo a repressão policial; e @s jovens que foram reprimid@s pelo governo perredista deste "defensor do direito à livre expressão", Alejandro Encinas, paradoxalmente, por bloquear uma rua para reivindicar justiça e liberdade para Atenco); agredida (como as bases de apoio zapatistas em Zinacantán); ou caluniada, perseguida e satanizada (como a Outra Campanha e o EZLN). Mas a ilusão acabaria na hora em que se visse que nada havia mudado para os de baixo. E então viria uma etapa de desânimo, desespero e desilusão, ou seja, o caldo de cultivo para o fascismo. Para este momento seria necessária uma alternativa organizativa de esquerda. De acordo com nossos cálculos, nos três primeiros anos de governo se definiria a verdadeira natureza do chamado "Projeto Alternativo de Nação". Nossa iniciativa devia levar em consideração isso e preparar-se para ir com tudo contra (caricaturas incluídas) por vários anos, antes de transformar-se numa opção real, de esquerda e anticapitalista. 7. O que vinha depois? A Sexta. Pelo final de 2002, o projeto que depois seria conhecido como a Sexta Declaração da Selva Lacandona estava esboçado em grandes linhas: uma nova iniciativa política, civil e pacífica; anticapitalista, que não só não havia buscado a interlocução com os políticos, mas que os havia criticado abertamente e sem considerações; que permitisse o contato direto entre o EZLN e @s outr@s de baixo; que @s ouvisse; que privilegiasse a relação com a gente simples e humilde, que permitisse a aliança com organizações, grupos e coletivos com o mesmo pensamento; que fosse de longo respiro; que se preparasse para caminhar com tudo contra (incluído o setor progressista de artistas, cientistas e intelectuais) e disposta a enfrentar um governo com legitimidade. Em suma: olhar, ouvir, falar, caminhar, lutar em baixo... e à esquerda. Em janeiro de 2003, dezenas de milhares de zapatistas "tomaram" a cidade de San Cristóbal de las Casas, Chiapas. Facões (em honra d@s rebeldes de Atenco) e tochas de madeira ardendo brilharam e iluminaram a praça central da antiga Jovel. A direção zapatista falou. Entre el@s, o Comandante Tacho advertiu aqueles que apostavam na falta de memória, no cinismo e na conveniência: "Erram, há sim outra coisa". Neste momento, ainda entre as sombras da madrugada, a Sexta Declaração começou a caminhar... (a continuar...) Pelo CCRI-Comando Geral do EZLN e Comissão Sexta. Subcomandante Insurgente Marcos México, agosto-setembro de 2006. Você pode recuperar os textos já divulgados acessando o site:
http://groups.google.com.br/group/chiapas-palestina ___________________________________ As informações sobre a 2ª Edição ampliada do livro "EZLN: passos de uma rebeldia" podem ser obtidas junto à Editora Expressão Popular através do e-mail vendas@... ou do telefone (11) 3112.0941.

protestos em londres anti blair,anti bush.26/09/06










protestos em Washington 27/09/06






Wednesday, September 27, 2006

mais fotos das greves no chile...