Conselho de Paulo Henrique Amorim a Lula
Como governar quando toda a imprensa é contra
Por Paulo Henrique Amorim*
Ou se faz como Hugo Chávez ou como Roosevelt. São as duas formas conhecidas de enfrentar a oposição de toda a imprensa, num regime democrático. Prefiro a de Roosevelt.
Explico-me.
“Na eleição de 1932, seis de cada dez jornais fizeram oposição a ele e Roosevelt acreditava que era vítima de um ódio profundo de donos de empresas jornalísticas, que distorciam as notícias para prejudicá-lo. As redes de estações de rádio, ao contrário, deram total colaboração... e o Presidente usou o rádio para atingir o público diretamente e explicar seus programas”.
(Paul Starr, The Creation of the Media – Political Origins of Modern Communication, Basic Books, New York, 2004, página 360)
A diferença entre a situação do Presidente Franklin Roosevelt e a do Presidente Lula, caso se reeleja, é um pouco diferente:1) Todos os jornais são contra Lula;2) Todas as revistas são contra Lula, com exceção da Carta Capital;3) Todas as rádios são contra Lula;4) E uma rede de televisão – a Globo – líder de audiência, sempre desempenhou um papel ativo contra Lula e os candidatos trabalhistas (por exemplo, Leonel Brizola) e agora reagrupou suas forças e aliados (o delegado Bruno, por exemplo – clique aqui para ver e ouvir a integra da conversa do delegado sobre o Jornal Nacional) para derrotar o presidente Lula.
Roosevelt fugiu dos jornais – que, então, tinham muito mais força do que hoje – e se aliou às rádios.
Em troca, Roosevelt, ainda segundo Starr, manteve a posição privatizante dos governos conservadores de antes e deixou o rádio (e mais tarde a televisão) como uma indústria inteiramente privada, ao contrário do que aconteceu na Inglaterra, com a hegemonia da BBC, estatal.
O que extrair dessa lição?
Roosevelt teve a chance de dar a volta por cima pela tecnologia. Foi para outra mídia – o rádio – e deixou os jornais conservadores para lá.
E foi um campeão de reeleições.
Em abril de 2002, todas as redes de televisão da Venezuela conseguiram, por algumas horas, dar um golpe de Estado. Teria sido o primeiro golpe de Estado da televisão, na telinha – um golpe criado e realizado pelo que as redes mostravam na tela: o caos, a desordem, o desgoverno, a ingovernabilidade, a corrupção desenfreada.
Sem falar, é claro, da oposição da imprensa escrita.
Quais são os meios de Chávez enfrentar isso?
Segundo a jornalista Alma Guillermoprieto, num artigo Don´t Cry for me, Venezuela, publicado em The New York Review of Books, Volume 52, Numero 15, de Outubro de 2005), Chavez fez duas coisas:
1) Criou um programa dominical Alô Presidente, em que, às vezes, fica no ar o dia inteiro.
2) Interrompe a programação das redes de televisão, entra em cadeia nacional, sem avisar, e critica os telejornais que acabaram de ir ao ar.
Uma vez, Chávez interrompeu por quatro horas toda a programação da noite, inclusive as “telenovelas”.
(A reprodução em texto dessas quatro horas pode ser encontrada no endereço www.analitica.com/bibliotec/hchavez/cadena20010615.asp)
Deixo de considerar aqui as soluções já exploradas por outros presidentes trabalhistas (ou aliados de trabalhistas), no Brasil.
Vargas, por exemplo, com a ajuda do banqueiro Walther Moreira Salles, estimulou Samuel Wainer a fundar a Última Hora.
Juscelino ajudou Adolpho Bloch na Manchete.
Brizola ajudou a Manchete e usava extensivamente a Radio Mayrink Veiga, no Rio.
Todas essas me parecem soluções politicamente irreproduzíveis, hoje, no Brasil. O Sindicato dos Bancários, no início do Governo Lula, cogitou de lançar um jornal nacional, mas a idéia nem saiu do papel.
A solução Chávez também é inconcebível.
O Governo Lula não enfrentou nem enfrentará a Rede Globo.
A relação de Lula com a Globo é a mesma de Tony Blair com Murdoch (sem comentários...)
E a solução Roosevelt – dar um salto tecnológico?
É a mais plausível. Usar a internet.
O Governo Lula é quem mais precisa de inclusão digital. Os sites de informação do Governo ou de instituições ligadas ao Governo na internet são de uma inépcia petista.De uma maneira geral, os governos, os partidos (com exceção do PCdoB) e os políticos brasileiros (com exceção de César Maia e Zé Dirceu) não sabem usar a internet.
É o único espaço que sobra para o governo Lula – se ele for reeleito.
PS: Sobre como usar a internet para fazer politica dentro da democracia representativa, recomenda-se ver o que fez e o que faz o atual presidente do Partido Democrata nos Estados Unidos, Howard Dean.
Por Paulo Henrique Amorim*
Ou se faz como Hugo Chávez ou como Roosevelt. São as duas formas conhecidas de enfrentar a oposição de toda a imprensa, num regime democrático. Prefiro a de Roosevelt.
Explico-me.
“Na eleição de 1932, seis de cada dez jornais fizeram oposição a ele e Roosevelt acreditava que era vítima de um ódio profundo de donos de empresas jornalísticas, que distorciam as notícias para prejudicá-lo. As redes de estações de rádio, ao contrário, deram total colaboração... e o Presidente usou o rádio para atingir o público diretamente e explicar seus programas”.
(Paul Starr, The Creation of the Media – Political Origins of Modern Communication, Basic Books, New York, 2004, página 360)
A diferença entre a situação do Presidente Franklin Roosevelt e a do Presidente Lula, caso se reeleja, é um pouco diferente:1) Todos os jornais são contra Lula;2) Todas as revistas são contra Lula, com exceção da Carta Capital;3) Todas as rádios são contra Lula;4) E uma rede de televisão – a Globo – líder de audiência, sempre desempenhou um papel ativo contra Lula e os candidatos trabalhistas (por exemplo, Leonel Brizola) e agora reagrupou suas forças e aliados (o delegado Bruno, por exemplo – clique aqui para ver e ouvir a integra da conversa do delegado sobre o Jornal Nacional) para derrotar o presidente Lula.
Roosevelt fugiu dos jornais – que, então, tinham muito mais força do que hoje – e se aliou às rádios.
Em troca, Roosevelt, ainda segundo Starr, manteve a posição privatizante dos governos conservadores de antes e deixou o rádio (e mais tarde a televisão) como uma indústria inteiramente privada, ao contrário do que aconteceu na Inglaterra, com a hegemonia da BBC, estatal.
O que extrair dessa lição?
Roosevelt teve a chance de dar a volta por cima pela tecnologia. Foi para outra mídia – o rádio – e deixou os jornais conservadores para lá.
E foi um campeão de reeleições.
Em abril de 2002, todas as redes de televisão da Venezuela conseguiram, por algumas horas, dar um golpe de Estado. Teria sido o primeiro golpe de Estado da televisão, na telinha – um golpe criado e realizado pelo que as redes mostravam na tela: o caos, a desordem, o desgoverno, a ingovernabilidade, a corrupção desenfreada.
Sem falar, é claro, da oposição da imprensa escrita.
Quais são os meios de Chávez enfrentar isso?
Segundo a jornalista Alma Guillermoprieto, num artigo Don´t Cry for me, Venezuela, publicado em The New York Review of Books, Volume 52, Numero 15, de Outubro de 2005), Chavez fez duas coisas:
1) Criou um programa dominical Alô Presidente, em que, às vezes, fica no ar o dia inteiro.
2) Interrompe a programação das redes de televisão, entra em cadeia nacional, sem avisar, e critica os telejornais que acabaram de ir ao ar.
Uma vez, Chávez interrompeu por quatro horas toda a programação da noite, inclusive as “telenovelas”.
(A reprodução em texto dessas quatro horas pode ser encontrada no endereço www.analitica.com/bibliotec/hchavez/cadena20010615.asp)
Deixo de considerar aqui as soluções já exploradas por outros presidentes trabalhistas (ou aliados de trabalhistas), no Brasil.
Vargas, por exemplo, com a ajuda do banqueiro Walther Moreira Salles, estimulou Samuel Wainer a fundar a Última Hora.
Juscelino ajudou Adolpho Bloch na Manchete.
Brizola ajudou a Manchete e usava extensivamente a Radio Mayrink Veiga, no Rio.
Todas essas me parecem soluções politicamente irreproduzíveis, hoje, no Brasil. O Sindicato dos Bancários, no início do Governo Lula, cogitou de lançar um jornal nacional, mas a idéia nem saiu do papel.
A solução Chávez também é inconcebível.
O Governo Lula não enfrentou nem enfrentará a Rede Globo.
A relação de Lula com a Globo é a mesma de Tony Blair com Murdoch (sem comentários...)
E a solução Roosevelt – dar um salto tecnológico?
É a mais plausível. Usar a internet.
O Governo Lula é quem mais precisa de inclusão digital. Os sites de informação do Governo ou de instituições ligadas ao Governo na internet são de uma inépcia petista.De uma maneira geral, os governos, os partidos (com exceção do PCdoB) e os políticos brasileiros (com exceção de César Maia e Zé Dirceu) não sabem usar a internet.
É o único espaço que sobra para o governo Lula – se ele for reeleito.
PS: Sobre como usar a internet para fazer politica dentro da democracia representativa, recomenda-se ver o que fez e o que faz o atual presidente do Partido Democrata nos Estados Unidos, Howard Dean.
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