*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Friday, December 01, 2006

A queda do dólar e a economia global.






Por Federico Garcia Moralesfegarc@yahoo.com.mx Um texto importantíssimo para percebermos o mundo em que vivemos...
'History is not an infallible guide to the future' (A história não é um guia infalível para o futuro) Alan Greenspan, Nov. 2004. 'The dolar is not what it used to be' (O dólar já não é o que era), The Economist, 2 de Dezembro de 2004. Por estes dias, a situação de todo o sistema monetário e os mercados globais está sob a pior ameaça terrorista, representada pela queda do dólar. Que é a queda não só de um símbolo monetário de um país, mas a de uma moeda que tem estado a cumprir o papel de dinheiro mundial. O fundo da questão é o assombroso desiquilíbrio orçamental dos EUA, uma economia acostumada a importar muito e a exportar muito pouco e que, no entanto, nos oferece o espectáculo de uma procura cada vez mais escabrosa de recursos. De acordo com Lawrence Sommers, ex secretário do Tesouro, actual presidente de Harvard, quando falava, a 16 de Outubro, em Yale, o défice estadunidense é de 660 mil milhões de dólares, o que perfaz 5,7% do Produto Interno Bruto e 1% do Produto Bruto Global, e absorve dois terços da conta corrente acumulada de todos os países do mundo. Uma situação insustentável que parecia, no entanto, equilibrar-se sobre 'algo' que, quando se começou a levantar o obscuro manto que o cobria, veio a revelar uma série de círculos viciosos e projecções espantosas, todos difíceis de tocar, dada a sua fragilidade. Para enfatizar este curso, o Congresso eliminou este mês1 as restrições aos cortes de impostos e elevou o tecto da dívida federal em 800 mil milhões de dólares, o que a leva a totalizar 8,18 triliões de dólares (em números inteligíveis para os economistas e matemáticos estadunidenses, onde, no trilião, a unidade é seguida de 12 zeros). No ponto em que está, a dívida estadunidense só pode aumentar. Qualquer diminuição é problemática. Pior, catastrófica. E, no entanto, já estão sobre a mesa muitos planos para a baixar, sendo o principal, precisamente, a desvalorização do dólar � que muitos países seguiram. Outros não. A Europa, por exemplo. Que, no último ano, viu uma valorização do Euro de 30%. A questão é que, agora, as pressões sobre o dólar se tornaram mais fortes e uma nova desvalorização é inevitável. Esta é, claramente, a política já adoptada. Mas a economia estadunidense tinha vindo a sustentar-se � e sustentava-se � através de uma captura fenomenal de recursos financeiros. Em determinado momento, depois da crise asiática e das outras posteriores a 1997, foi uma economia de refúgio onde se podia esperar até à chegada de condições de retoma. Durante algum tempo, as altas taxas de juro favoreceram esse movimento que podia suportar o crescimento do consumo. As finanças podiam assistir á chegada de uma estranha cumplicidade até da China, que adquiria os seus títulos e os acumulava (a China e o Japão acumularam cerca de 900 biliões de títulos do tesouro). A acumulação mundial, estimada em triliões de dólares, seguia esse caminho. E o ritmo de crescimento de outras dívidas e o pagamento de juros vitaminizavam o sistema. Em determinado momento, 80% dos fundos mundiais estavam dirigidos para suster a economia dos EUA. Com a chegada das taxas baixas, este fluxo começou e esfriar. E o investimento nos EUA deixa de ser rentável. A desvalorização eleita tornou esta situação ainda mais aguda. Como que a juntar uma hemorragia a um tísico. É certo que, desvalorizando, os EUA podia vigarizar os seus credores, mas também torna difícil que alguém se interesse em fazer contratos com o documento verde que apregoa a confiança em Deus. Por estes dias, há uma desesperada conversão das reservas dos bancos centrais. A Rússia desfaz-se massivamente dos seus dólares e, na Ásia, ocorre o mesmo. O Chile lança títulos de dívida em Euros. Outros, principalmente os que tinham as suas dívidas em dólares, prolongam as negociações. E começa a levantar-se o fantasma da conversão dos petro-dólares em petro-euros. A OPEP já se ressente com a desvalorização corrida nos últimos meses, com perdas de um terço no valor do petróleo, que tentam remediar mediante aumentos no preço do petróleo, na razão da perda do valor em dólares. Isto começa a parecer-se com a desvalorização da Libra Estrelina, nos anos 30. Também traz a recordação da desvalorização do dólar nos anos 70, que originou um aumento considerável do petróleo. Nessa altura, a desvalorização foi, apenas de 20% (para ser exacto, 22% em relação ao franco suíço e 21,5% em relação ao yen) e, claro, aconteceu em contextos económicos muito diferentes. E, mesma assim, originou alterações na estrutura financeira mundial. Agora, as perdas parecem maiores nos países petrolíferos. Há quem defenda que tudo dependa do grau que possa ter a queda do valor de câmbio. Mas uma vez iniciado este processo, a experiência diz que é difícil sustê-lo, sobretudo quando decorre num espaço global, onde tendem a dar-se reacções gigantescas. Neste momento, os europeus vêem a desvalorização como uma ameaça para o seu comércio, mas dão-se conta que uma moeda forte pode ter outros atractivos na luta pela hegemonia. Isso, até, um limite, é verdade. Para os chineses, já lançados numa forte carreira expansiva e em sobreaquecimento da sua economia, a desvalorização do dólar afecta fortemente as suas reservas, até uma percentagem importante do seu PIB, e a possível reacção em relação ao preço do yen também pode trazer consequências, seja no sobreaquecimento, seja numa detenção demasiado brusca. Por outro lado, o seu próprio sistema de crédito está esburacado por um excesso de créditos não saldáveis que, por não se basearem no fluxo acrescido de investimentos, maior crédito e expansão comercial, pode conduzir a uma séria contracção. O que se passar na Ásia, sob esta tendência, não será e,m benefício da expansão económica mundial. Uma contracção apenas na China, sem falar da Índia e outras regiões, tocaria em 20% da base industrial do Ocidente. No entanto, a desvalorização do dólar vai obrigar a definir decisões difíceis, que mexem com muitos interesses, tanto nesses países como no resto do mundo. Os EUA trataram de escapar á chegada deste momento, mediante o sobre-estímulo aos investimentos. Isso notou-se a partir do 11 de Setembro, e o salto que experimentou o orçamento militar � hoje em dia elevado a 500 mil milhões de dólares � serviu para ingressar numa espécie de 'keynesianismo militar', que fixava como objectivos imediatos uma certa manutenção do emprego e o abastecimento de energia barata que desse um novo esplendor ao crescimento estadunidense como fortaleza financeira e industrial. Mas esse movimento não se enquadrou com o seu desastre comercial, nem logrou atingir os seus objectivos. Apenas prolongou a agonia. E provou que as injecções fiscais já era, por si só, demasiado frágeis. Ao fim e ao cabo, os défices estadunidenses vinham a ser financiados pela banca internacional. Só os bancos da Ásia Oriental punham 1,8 triliões de dólares (em números: 1.800.000.000.000). Por isso se veio a revelar, na guerra do Iraque, esse outro fundo bélico, algo mais fantasmagórico, de uma guerra entre o dólar e o euro. E a estratégia dos EUA é livrar-se dos juros da sua enorme dívida. A perspectiva desvalorizadora dos EUA A eleição de Bush já era um problema para o povo estadunidense e, agora, vê-lhe a cair em cima esta desvalorização, acompanhada de um RECITADO sobre a dívida trilionária. O efeito resume-se a que cada dólar no bolso do cidadão, e sobretudo do trabalhador estadunidense e de muitos migrantes, se transformará rapidamente em três quartos e, portanto, neste sentido mecânico, o de derretimento, o seu nível de vida começará a experimentar um forte estreitamento. Isto não tardará a repercutir-se numa nova contracção das taxas de lucro e no crescimento do desemprego. Não se duvida que a subida dos juros e algo de inflação serão parte da procissão, neste país com taxas de poupança quase inexistentes e com um grande afã de consumo. A desvalorização do dólar afecta salários, pensões, contas-poupança, valor de títulos de dívida, afectando, assim amplos sectores sociais, com a excepção, talvez, de um estreito sector especulativo. Mas ainda assim dá que pensar o facto de os 10 bancos mais importantes dos EUA tenham empréstimos que comprometem 100% dos seus activos apenas na América Latina. É verdade, a sua aposta paralela é a subida das taxas. Ao nível dos negócios, a questão nas primeiras fases desta desvalorização (que já tem algum tempo) foi adequar as cotações na bolsa e os preços de tantos produtos à nova realidade monetária. Mas sob condições mais explosivas, ou para além de certo tecto, pode chagar-se a condições muito difíceis. Alan Greenspan di-lo assim: This situation suggests that international investors will eventually adjust their accumulation of dollar assets or, alternatively, seek higher dollar returns to offset concentration risk, elevating the cost of financing of the U.S. current account deficit and rendering it increasingly less tenable,'. 'It seems persuasive that, given the size of the U.S. current account deficit, a diminished appetite for adding to dollar balances must occur at some point,' ('Esta situação sugere que, eventualmente, os investidores internacionais ajustarão a sua acumulação de activos em dólares ou, como alternativa, tentarão retornos mais altos em dólares para compensar o risco de concentração, elevando o custo do financiamento do déficit da conta corrente dos EUA e tornando-o cada vez menos sustentável.' 'Parece persuasivo que, dado o tamanho do déficit da conta corrente dos EUA, em determinado momento haverá uma diminuição do apetite por fazer as contas dos balanços em dólares.') E indica também o rumo das suas preocupações: 'More will need to be done in Europe as well as in the United States to ensure that our economies are sufficiently resilient to respond effectively to all the shocks and adjustments that the future will surely bring,' ('Será necessário fazer muito mais, tanto na Europa como nos Estados Unidos, para assegurar que as nossas economias sejam suficientemente flexíveis para responder com eficiência a todos os impactos e ajustamentos que o futuro seguramente trará.') Greenspan, quando diz isto, também se dirige aos grupos multinacionais. Ao fim e ao cabo, quase tudo o que se produz no mundo tem estado a ser cotado em dólares. Mas também constitui o mundo económico das reservas. Tudo o que os países poupavam para contingências futuras estava convertido e amontoado em dólares ou títulos do Tesouro estadunidense. Esse era o apoio real de todas as outras divisas, quando já não existia o apoio do ouro ou da prata das épocas anteriores a Breton Woods. Com uma desvalorização tão brusca como a que se está a apresentar, os Bancos Centrais perdem a fé no dólar e começam a devolvê-lo ao mercado em quantidades que podem ser fabulosas, ameaçando assim com afundar ainda mais a nota verde. o Governo dos EUA, que parece ver com certa complacência sadomasoquista esta deriva, fez orelhas moucas até agora aos clamores de outros Governos que lhe pedem que estabeleça um novo acordo monetário. Definitivamente, acredita que este é o caminho para resolver o seu déficit. Uma soma de déficits orçamentais e déficits comerciais que acaba numa cifra trilionária. Os que apoiam a sanidade da desvalorização supõem várias coisas: que se pode sustentar um crescimento de cerca do 4% até ao ano de 2008, que o déficit poderia crescer, até lá, ainda 8%, e que, sob essas condições, a procura poderia crescer e a poupança e o investimento continuar a fazer os seus papeis, produzindo taxas de lucro moderadas, ou maiores, no caso dos investimentos estrangeiros, que veriam chegar uma revalorização dos seus bens. O comércio ver-se-ia tonificado ao melhorar a sua competitividade e o sector financeiro receberia alvoroçado um aumento de tarifas. Voltar-se-ia assim à idade do ouro, com todos os sectores do poder económico unificados por uma política expansionista. Tudo isto dito em bom neoliberalismo presbiteriano. (Veja-se: Wynne Godley A. Izurieta,G. Zezza - Prospects and policies for the US economy' CERF - University of Cambridge July 2004, http://www.cerf.cam.ac.uk/publications/files/USJul04.pdf) É certo que a desvalorização aparentemente poderia deter este crescimento deficitário, mas o resultado da operação tem um potencial de venda acelerada de reservas em dólares e de retirada de capitais asiáticos e europeus, que poderia conduzir ao aparecimento de uma situação que tornaria impossível continuar a manejar o mercado e a economia estadunidense nos termos que conhecíamos. Não haveria uma quebra em termos de uma declaração de insolvência dos negócios privados, mas pode aparecer um crash. O facto é que a desvalorização já soltou as suas amarras, e em vão se recordará no futuro algumas objecções que se poderiam ter feito valer: - Que as importações superavam em 40% as exportações - Que taxas de juro mais altas aumentariam as dívidas de pagamentos a investidores estrangeiros. - Que é preciso pagar as guerras de Bush - Que na estabilidade estadunidense, o investimentos internacional tem uma forte incidência, que está a ser afectada. - Que há uma diminuição ou detenção do crescimento mundial - e que os preços do petróleo estão a aumentar. Objecções estas que querem dizer 'o endividamento continuará a crescer apesar da desvalorização, só que agora crescerão ainda mais os problemas.' Até agora, a linha de combate passava pelo Tesouro, mas irá em breve para a banca e a as bolsas de valores. E a resposta darwiniana de Greenspan é, 'já ganharam muito, agora, adaptem-se'. Deve juntar-se também às considerações sobre este duplo déficits, que tanto a condução de um orçamento fiscal deficitário como o déficit comercial, têm estado até agora a dar uma contribuição muito efectiva ao movimento dos negócios, onde os lucros privados tiveram a sua contrapartida em perdas públicas. Basta olhar para as compras massivas de armas, à custa de déficits em orçamentos presentes e futuros durante a administração Bush. Ou as injecções fiscais à bolsa de valores depois do 11/9. Agora a jogada é a desvalorização que se tentará equilibrar com uma subida das taxas de juro. Como poderá toda esta negatividade fundar uma nova política de recuperação, que deveria supor um maior fortalecimento da procura, do emprego e do comércio? Como pode todo este desastre continuar a relacionar-se com os objectivos imperiais da política externa de Bush? O corte massivo nos rendimentos que pressupõe a desvalorização e a alta das taxas dá origem a uma contracção da procura, a uma sinuosa baixa da poupança e do investimento e por fim, ao desemprego. Novas condutas deficitárias somadas a uma inflação crescente não lograrão iluminar a saída do túnel. A ideia de uma expansão do Produto Bruto fica para melhores tempos. As estratégias monetárias que procuravam equilíbrios num extremo, desequilibraram outros: de facto, a baixa das taxas nos EUA, enquanto na Europa se mantinham mais altas, drenou capitais para o velho continente. e já com estas precisões o próprio recurso ao keynesianismo militar, à extorsão de outros países e à guerra efectiva é, apenas,um deliro e um disparate, que só poderá efectivizar-se na fascização do governo e da sociedade estadunidense. O exame do manejo do déficit e a saída desvalorizadora, aproximam-nos, por outro lado a uma nova dimensão da essência imperialista dos EUA: é ao serviço da sua expansão que procura a reestruturação do mundo, ainda empregando as suas próprias misérias, segundo o lema 'tudo ao serviço da acumulação'. Forçando a concorrência através da sua desvalorização, tenta destruir os seus rivais, pondo seu povo em risco, procura explorar as poupanças dos demais -que sejam os explorados de sempre a pagar as dívidas!- , enquanto assume militarmente a ocupação dos recursos que lhe permitam fundar um império -de novo- de mil anos. E para isso também emprega as suas contradições. Greenspan diz que não se aprende com a história mas, nesta mesma conjuntura, ele mesmo e os factotums da política económica estadunidense parecem obcecados por voltar ao segundo pós-guerra, quando construíram a sua idade de ouro logo a seguir a destruir os seus rivais. A desvalorização e os países menos desenvolvidos Aqui a queda do dólar tem efeitos bastante funestos. No plano puramente monetário, deve observar-se que, para se blindar perante situações como a crise asiática, se procurou manejar um excedente de reservas em dólares. Uma grande acumulação, na maioria dos casos inerte, à espera do sumo da realização de pagamentos de juros de dívida. Ao produzir-se a desvalorização, toda esta massa de dólares praticamente se derrete, e a perda de valor passa a ser uma parte importante da riqueza desses países. Não se pode deixar de admirar o estoicismo dos directores dos Bancos Centrais que continuam afectos a manter o seu 'superávit'. Se se considerar que os países em desenvolvimento têm reservas que vão de 10 a 20% do produto Bruto, essas perdas que se seguiram à presente desvalorização poderão alcançar, de acordo com os casos, de 2 a 5% do produto Bruto. Supondo que o dólar baixe, numa tentativa de reduzir a dívida estadunidense, entre 20 e 30%. É certo que houve quem tivesse preferido deita ro fora as lealdades com o Tesouro estadunidense e está com grande afã em comprar euros ou ouro. O ouro está a registar preços record por estes dias. De acordo com cálculos do FMI, (Developing Country Losses Due to a Declining Dollar) estas perdas poderiam projectarsse até ao equivalente a 3.5% do produto Bruto, na Argentina, 5.8% no caso do Chile, e 14.1% na Malásia (!). Economias que actualmente empurram com o seu dinamismo o crescimento mundial, como a China, poderiam perder 10% do seu produto. (Veja-se Mark Weisbrot, David Rosnick, and Dean Baker1: 'Going Down With the Dollar: The Cost to Developing Countries of a Declining Dollar' http://www.cepr.net/publications/dollar_reserves.pdf) As consequências para países que têm o seu comércio dirigido para a área do dólar, poderiam agravar ainda mais a sua situação. Muitos países 'exportadores' aparentemente fazem grandes negócios através da entusiasta alta que experimentaram o petróleo e outras matérias primas, cujos preços nominais foram empurrados para cima pela queda do dólar. Por sua vez, eles transformam-se num meio de câmbio que leva em si mesmo um efeito de enfraquecimento progressivo. E assim a alta dos produtos mineiros pode ser muito notada em países que intercambiam com o dólar americano, mas não tão visíveis para quem o faz com o dólar australiano. Isto pode originar efeitos diferentes nas manufacturas , na distribuição dos favores do consumo e no emprego. Em suma, o mercado vê acentuada a sua turbulência. Sob este espectro de circunstâncias, são de esperar bolhas de ar e fortes contracções na economia mundial, e uma recaída na recessão e o encaminhamento duma extensa depressão passam a ser praticamente inevitáveis. As medidas que se estão a insinuar só actuariam como aceleradores. Uma maior abertura e liberalização das economias, como se vinha a recomendar até à recente reunião da APEC em Santiago, só reforçariam a exposição aos efeitos nocivos da desvalorização. Já vimos que a entrada de divisas deveria ser selectiva. A moeda debilitada pouco teria que apostar na disputa 'livre' pelo domínio dos mercados. A intervenção nos mercados financeiros converte-se, assim, numa prática recomendável. E toma a forma dum escorrimento da esfera do dólar e de uma eliminação das reservas nessa moeda. Isso leva, a curto e médio prazo, a que muitos produtos procurem ter a sua cotação noutras moedas. Nos EUA, este conflito tem estado presente desde há uns tempos. Primeiro, tentou-se abaratar o dinheiro, baixando os juros, até ao ponto em que os empréstimos deixam de ser rentáveis. Agora a recomendação é para o aumento das taxas. O que, numa economia em grande parte empantanada em efeitos recessivos, vem a ser um convite à depressão. Na formulação de qualquer medida de política económica, nestes círculos viciosos da economia, gravitam as expressões de uma sociedade que se vai trilhando sem retorno. O sector financeiro pode assim estar a reclamar algo que o emprego deverá suportar, ao mesmo tempo que o comércio empurra outras soluções igualmente contraditórias, e assim também por sector ou ramo industrial. Das grandes visões sobre a concorrência internacional, cai-se, regularmente, na concorrência interna. O outro é o redobramento das fricções internacionais. Numerosos encontros financeiros não chegam a nenhum acordo. Os EUA utilizam, então, o Banco Mundial e o Fundo Monetário para aconselhar alguns países a manter o câmbio da suas moedas e a 'saúde' das suas reservas, a outros -como China- ao contrario, una revalorização e um aumento das taxas, que possa esfriar a sua economia. Este esfriamiento, como dizíamos, na sua brusquidão, poderia deslocar não só a economia chinesa. O que importa aos EUA é o grau de abertura que a China possa continuar a mostrar e, sobretudo, a sua manutenção 'tributária' através do seu asseguramento de títulos do Tesouro. Um suor frio percorreu os financeiros estadunidenses quando correu o rumor de que a China estaria a contemplar afastar-se dessa prática. Europa E a Europa? No desenho da política desvalorizadora malgré lui dos EUA, existe a esperança de deslocar nem que seja parcialmente a concorrência comercial da Europa, e, com isso outros projectos relacionados com a expansão europeia. Ao fim e ao cabo, em algum canto isolado da doutrina monetária se supõe que uma moeda mais barata -como mercadoria mais barata- poderia conquistar maiores espaços do mercado. Este dogma, a ser universalmente partilhado, poderia levar a um trilho desvalorizador entre as grandes potências. Mas, ao que parece, as coisas não se estão a perfilar dessa forma tão mecânica. Vê-se, por exemplo, a preferência que tem o mercado por moedas mais estáveis, ou como tentam mudar as suas reservas para euros. Mudando a moeda que se abarata pela que conserva o seu valor. Ou também a forte tendência do grupo petrolífero para realizar as suas transacções em euros. Noutra época, também foi a estabilidade do dólar que lhe trouxe os favores do mercado. mas o caso é que se no ano 2000 o euro estava a U$S 0.82, agora está a 1.33 e provavelmente muito brevemente estará a 1.60 dólares. No último ano subiu 57%. Sem que isto tenha implicado que a Europa esteja a encaminhar-se paralelamente a estes números, para um avançado estado de depressão ou de retrocesso notável no seu comércio. Ou, ainda, num mais avançado estado de endividamento, como o estão cada vez mais os EUA, apesar de que uma violenta desvalorização já se fazer presente há mais de um ano. Os EUA tinham então 480 mil milhões de dívida, agora têm 660. É possível que o encarecimento relativo do euro faça as mercadorias europeias menos competitivas no interior dos EUA. Mas há que notar que o desiquilíbrio dos EUA se formou fundamentalmente como resultado das suas importações de países da Ásia. Uma participação importante da Europa é, sim, em termos de capitais. E não é menor o investimento de países árabes (antes do 11/9 os árabes tinham mais de um trilião de dólares investidos nos EUA dos quais ainda permanece cerca de 85%). E a sua retirada pode fazer ainda mais insustentável a posição estadunidense. Em todo o caso toda a fábrica da industria europeia receberá um choque, no meio das grandes reorganizações da Europa Expandida, deverá pensar uma reorganização a fundo do seu sistema produtivo, das suas regulações, sistema laboral, mercados, procurando cortar custos e sustentar os benefícios sociais. Do que depende também o rumo da sua organização política. De todos os modos deve-se considerar que a actual aventura desvalorizadora, que tem, para além do déficit, uma base de concorrência com o comércio europeu, deve ter em conta que se há regiões no mundo que têm uma inter-relação muito forte são os EUA e a Europa. O comércio transatlântico compreende 20% do comércio total de cada uma das partes. Para além disso, cerca de 60% dos investimentos nos EUA provêm da Europa e 45% dos investimentos estadunidenses para o exterior vão para a Europa. Se a desvalorização fosse desejada. Não é a desvalorização a melhor forma de competir, já que, no interior, pode desenvolver toda a sorte de anomalias económicas, inflação ou estanflação, e para fora, um desgaste notável das forças do mercado. A desejada baixa das exportações tanto europeias como asiáticas não seria propriamente algo que pudesse tonificar as exportações estadunidenses. Mas é algo que a Europa teme. É que é patente que o avanço da crise estadunidense acabará por engolir a Europa. Mas no marco da recaída numa verdadeira crise mundial. (Em Outubro, no Congresso estadunidense, quando se falava nesta questão, estimava-se que a Europa teria à força, num certo ponto, que seguir os EUA na desvalorização monetária... Com todas as consequências). Sudeste Asiático Bailando a estes compassos está também a Ásia -aludimos à China- mas no Sudeste, foi notória, nas últimas semanas, a subida das moedas locais.. Analisando a situação em retrospectiva, o Economist assinala, num artigo do mês de Novembro: 'O legado da crise ainda inibe os políticos da Ásia. Tendo passado sete anos desde então, trataram de manter as suas moedas baratas e as suas reservas de dólares abundantes. o won sul coreano, a rupia e o dólar de Taiwan, que caíram em dominó depois de o Baht da Tailândia ter ficado fora de cotação em Julho de 1997, ainda tentam ganhar as suas paridades anteriores à crise. O won ainda se mantém desvalorizado em cerca de 5% perante o dólar... o ringhit da Malásia, que manem paridade com o dólar, está 25% abaixo do seu valor. No entanto, na semana passada, o won alcançou o seu preço mais alto desde a crise... o Baht e o dólar de Taiwan fortaleceram-se... mas as vastas reservas em dólares expõem a Ásia a enormes perdas (perante esta nova desvalorização do dólar)'. 'Currency conundrums' -
O yen aumentou 5%, o won (Coreano) 13.9% , Taiwan, 5.6%. Não sã boas notícias para os negócios. A leve recuperação japonesa, com isto, encontra-se outra vez em sérios apertos. Desloca exportações não só para os EUA, mas também para o grande mercado chinês que continua (ainda)na sua paridade com o dólar. Em economias exportadoras como a Coreia do Sul, isto gera actividades muito dispares. Como cada percentil de aumento da sua moeda é um percentil de baixa da suas exportações, uma vez que decidiu comprar dólares, o que com o deslize contínuo dessa divisa, origina grandes perdas à sociedade coreana. Outros países iniciaram a diversificação das suas reservas. Como a situação parece agravar-se, inicia-se movimentos proteccionistas no ambiente comercial Ásia-Pacífico. Amplas fusões transnacionais, tratados comerciais acelerados, etc. Há um par de dias, por exemplo, os membros da ASEAN assinaram um acordo com a China que criará um Mercado aberto de 2000 milhões de consumidores para competir com a Europa e os EUA, e que entrará em vigor no curto prazo. É interessante anotar que vincula também a Índia, a Nova Zelândia e a Austrália, estas duas últimas desde há muito na esfera do dólar. No entanto, começa a subir o temor de uma nova recaída na crise. América latina e a desvalorização do dólar Na América Latina, alguns países optaram, há tempos, pela dolarização (Salvador, Equador, Panamá) Estes 'dolarizados' no extremo da colónia latinoamericana, já não podem com a sua pobreza e agora, com a depreciação gerada tão longe deles deverão enfrentar uma diminuição maior da sua capacidade de compra. Algo pavoroso quando mais de 46% da população já vivia com menos de dois dólares diários. Outros continuaram com sistemas intermédios que foram evoluindo para flutuação flexível, ou sistemas de paridade ou semi paridade. A paridade permitia às empresas americanas (que a maioria das vezes são o mesmo que 'os exportadores') fazerem o que quiserem em matéria de exploração de recursos humanos ou materiais. A apreciada paridade argentina menemista foi uma das causas do desmoronamento final dessa economia sulamericana. O México, numa sequência de governos partidários da abertura, preferiu uma 'paridade flexível', que no meio das desvalorizações do dólar perante outras moedas, manteve estoicamente uma cotação bastante estável, conveniente para o exportador e o investidor. mas sobretudo, depois da 'crise de carteira' do 94, manteve uma forte reserva que imobilizou parte importante das suas receitas, que repartiu entre pagamento de juros de dívida e compra ou venda de dólares para manter a sua apreciação. No último ano, o dólar oscilou sempre à volta de um preço fixo de 11 pesos e fracção. Por outro lado, no Chile, com investimentos e comércio um pouco mais divididos, a desvalorização do dólar começou a revelar-se nas cotações na sua dimensão mais real desde uma época anterior. Assim, no último ano, o dólar baixou de 750 pesos para 585. Na Colômbia, Bolívia,Argentina ou Peru, o panorama é ocupado pelas suas próprias desvalorizações. É o dinamismo das economias centrais o marcador dos processos de crescimento das economias coloniais como as da América Latina. A queda experimentada nesse dinamismo por parte dos EUA no período 2001-2002, conduziu a um forte retrocesso nas economias do pátio traseiro, incrustando milhões na linha de pobreza. Durante esse período passado tão recentemente, os signos monetários latinoamericanos desmoronam-se. Muitos dirigentes latinoamericanos cruzam então alvoroçados a linha da dolarização. A questão já não é como na década passada o não pagamento da dívida externa mas como procura as estratégias, mediadas pelo FMI, para contrair novos empréstimos e 'renegociar' a dívida a troco de reformas estruturais. E agora chega a depreciação em grande, acompanhada seguramente de uma subida dos juros sobre a dívida. No entanto, os 'líderes' latinoamericanos parecem estar noutro planeta e esforçam-se por reforçar a vulnerabilidade dos seus países retocando os seus TLCs com os EUA e promovendo a ALCA. Mas os factos são porfiados e, durante o mês de Novembro de 2004 - a poucos dias desta redacção -, as principais economias latinoamericanas estavam a valorizar as suas moedas contra o dólar. O México, o Brasil e o Chile valorizaram as suas moedas entre 4 e 6% enquanto alguns aumentam as suas taxas de juro (mais de 8% no caso do México), seguramente para atrair mais investimentos quando em 'outros' lugares do mundo as coisas se põem difíceis. No Brasil, a coisa não é tão fácil e a leve valorização do real trouxe protestos dos sectores industriais e exportadores que reclamam uma intervenção do governo para 'defender o preço do dólar'. 'Associações de indústrias criticam câmbio actual e querem que governo evite desvalorização maior da moeda americana ' -titula o Jornal do Brasil do 27 de Novembro. Noutros casos, o economicismo 'pop' latinoamericano, que às vezes chega aos Ministérios das Finanças e Economia e aos cadeirões legislativos, também se repete nestes dias com certa satisfação que a queda do dólar traria benefícios, pois ajudaria a baixar o monte da dívida externa. A menos que os EUA subam as taxas. na actual situação de queda do dólar todo o panorama de crédito de América Latina se complica (quanto devo? onde obtenho novos créditos?sob que condições? que faço com as minhas reservas? onde colocar os meus fundos? de que riscos me falam?) em 2003, a República Dominicana teve que obter créditos por 20% de seu produto bruto para se manter no desfile. Claro que aí o peso se desvalorizava mais rapidamente que o dólar, impulsionado por uma situação financeira generalizadamente fraudulenta.
Um artigo de há pouco, pode-nos dar a entender as dinâmicas risíveis que se fundam nestes processos, diz assim: 'Banco Interamericano de Desenvolvimento obteve o equivalente a 7.200 milhões de dólares de recursos líquidos nos mercados internacionais de capital durante 2003. Este montante assegura um sólido nível de liquidez para satisfazer as cambiantes necessidades do seu programa de empréstimos para o desenvolvimento da América Latina e do Caribe.' E continua: 'O forte interesse dos investidores gerou uma procura de títulos (acções) de alta qualidade, o que permitiu ao Banco acelerar o seu programa de financiamento durante a primeira metade de 2003. Ao avançar o programa de financiamento, o Banco não só satisfez as necessidades dos investidores, ma também assegurou custos de financiamento mais favoráveis em 2003, comparados com o ano anterior, devido às favoráveis condições de mercado.' (artículo de Inventariando, 4 de Março 2004). Mas o BID sabia alguma coisa, porque 'O dólar estadunidense continuou a ser a divisa principal para operações, antes e depois do intercâmbio de moedas, mas o Banco também diversificou as suas oportunidades de financiamento emitindo títulos numa ampla gama de divisas.' Na verdade um mercado 'notavelmente favorável' é o que nos caía em cima Como em outras ocasiões, foi Fidel Castro quem teve a percepção mais aguda e inteligente do que significava a aquisição de dólares neste momento... e proibiu as transacções nessa moeda. Na América Latina, os governos, que foram dóceis executores das 'reformas estruturais' que punham o continente na bolsa das transnacionais, sobretudo norteamericanas, no momento da explosão deficitária dos EUA e da desvalorização do símbolo do seu poderio,somem-se na perplexidade e na paralisia do subalterno a quem faltam instruções. As grandes uniões económicas que empurram a Europa ou a Ásia chegam-lhes como metáforas numa língua desconhecida que não conseguem descodificar a partir da desmedrada situação colonial em que se encontram. Puderá ser que estas economias latinoamericanas continuarão mansamente o destino do de cima, aceitando reestruturações, descobrindo no caminho novas escaladas de crise e de descomposição. Sempre entretidos na ideia de que permitindo o mais franco saque das suas riquezas, sempre a 'elite' terá um lugar onde se amparar. Pelo menos, como dizem, 'até aos próximos cinquenta anos'. Depois parece que vem o fim do mundo.

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