Procura-se o Rei do Copiar-Colar 15/02/08 por Miguel MARTINEZ


Por inevitáveis motivos estatísticos, uma pequena porção destes blogues – digamos que não chegam a 10 000 – são obra de loucos.
“Loucos” é um termo rigorosamente científico, que não se refere aos conteúdos mas sim a uma série de inequívocos indicadores psico-electrónicos. Por exemplo, o uso desmedido de maiúsculas (conhecido como síndrome de Caps Lock).Entre estes loucos há um tipo que se intitula O REI SHAULOS II. Até ontem, Sua Majestade tinha uma página com dizeres como “NÃO À TURQUIA NA EUROPA”. Na realidade, ele não usa as maiúsculas de forma desmedida: usa só maiúsculas.E proclama-se o único soberano do OCIDENTE CRISTÃO, evidentemente sob o título de “JESUS VINCIT-REGNAT-IMPERAT DE LISBOA A SÃO PETERSBURGO UM SÓ REI - O REI DOS REIS”.Na página também se vê uma imagem dos Reis Magos, mas sobretudo um Real Retrato de Sua Majestade SHAULOS II em pessoa:

Eu visitei o blogue do Rei um par de vezes e serviu-me para me rir um bocado (eu sei, não devemos rir dos loucos, mas eu nunca pretendi ser politicamente correcto).Mas esta manhã voltei a encontrá-lo.Na primeira página do La Repubblica. Depois dedicam-lhe toda a página 10. E a 11 também.Uma pergunta: quanto custaria a um bloguista normal e corrente comprar todo este espaço?Os títulos são geniais:Lista negra de judeus “regresso ao fascismo”Na Internet, a lista negra dos professores judeusAmato [ministro do Interior]: violação do direito e da civilizaçãoEncerrado o blogue, procura-se o autor: “Vamos apanhá-lo”Um escárnio público como durante o fascismoPara por fim ao ódio, a Memória deve ser estudada na UniversidadeUm clima demasiado carregado, a Universidade está no ponto de mira Nome de código H5N1: um ano de veneno semeado na InternetO alarme de Viminal [ministério do Interior]: Porque em Itália renasce o anti-semitismo Enquanto recuperam o fôlego, tratemos de entender exactamente o que é que fez, ou desfez, Sua Majestade. O que é essa “lista negra de judeus”?Muito simples. Tratam-se dos assinantes de uma petição, que é totalmente pública, “contra o anti-semitismo”.Se lerem a petição em questão, ireis ver que o anti-semitismo não tem nada a ver, e muito pelo contrário, com o Estado de Israel (sim, é a mesma conversa de sempre: “quem se coloca do lado dos nativos palestinianos é anti-semita”).
Tão pública era a petição, que foi publicada como anúncio pago no jornal Corriere della Sera de 14 de Maio de 2005.Não foi publicada por nenhuma Internacional Neonazi, mas sim por “Luzzato Amos, Presidente da União de Comunidades Judias Italianas”. Quer dizer, os interessados pagaram para difundir os seus nomes e apelidos num jornal que vende, se não me engano, um milhão de exemplares diários.Há já três meses (a 15.11.2007) [1] Sua Majestade o Rei Shaulos II, simplesmente copiando e colando um sítio hebraico, pegou na lista e colocou-a no seu blogue (dez leitores diários?) com esta apresentação:“ESTA É UMA LISTA DOS DOCENTES UNIVERSITÁRIOS JUDEUS QUE DECLARAM ABERTAMENTE O SEU APOIO A ISRAEL”
Uma estupidez, já que a maioria dos docentes mencionados são extremistas de direita, amantes da segregação racial, apologistas do genocídio, o que quiserem, mas não são judeus.Por outro lado, também ninguém disse que Shaulos II era um rei sábio.Mas a “lista de proscrição” não foi feita por ele.Foram os próprios que a fizeram.O caso é que agora Sua Majestade o Rei Shaulos II terá que se haver com a comunidade judia (que lhe chama “cancro que pode propagar-se e afectar qualquer um”), com o reitor da Universidade de Roma (“é um acto inaceitável de intolerância”), com o reitor da universidade romana de Tor Vergata, Alessandro Finazzi Agrò, que pede prisão (e guilhotina?) para o Rei. E mais, com todo o povo italiano, como nos assegura esse líder do centro-esquerda e perseguidor de ciganos que responde pelo nome de Walter Veltroni.E já agora, o próprio ministro da Universidade “irá constituir uma acusação civil contra os autores da lista”.
Os autores da lista, recordemos, são Amos Luzzato e o Corriere della Sera.Logo, Shaulos II terá que se haver com uma série de denúncias dos interessados. La Repubblica assegura-nos que os professores o vão acusar de difamação.Ora bem, o supracitado disse (erroneamente) que todos eram judeus e (correctamente) que todos eram apologistas de Israel.Já veremos por qual das duas características o acusam.


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