entrevista john searle 23/06/08


John Searle - O crescimento dos estudantes em Berkeley aconteceu após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), então foi antes dos anos 60. Mas eles não estavam interessados em protestos num primeiro momento, mas apenas construir suas vidas e carreiras. Os anos 50 foram um período calmo. Mas o grande "boom" no número de estudantes universitários que ocorreu na década de 60 na França já havia ocorrido no EUA.


John Searle O que nós fizemos foi provar foi que um pequeno grupo de estudantes aliados poderia superar a autoridade e a burocracia universitária. Isto foi uma descoberta incrível, e nós fomos copiados por todo o mundo. Não tínhamos nenhuma fórmula secreta, mas mostramos que podia ser feito. É um pouco como a bomba atômica, o segredo da bomba atômica é que se pode fazê-la. É uma questão de detalhes como se fabrica ela. Berkeley foi a bomba atômica dos protestos estudantis. - Mas quais foram as conquistas práticas de vencer a autoridade e a burocracia conservadoras a que o senhor se refere? John Searle - A conseqüência mais objetiva foi uma evolução da situação anterior a 1964. Eu não acho que os administradores da universidade poderiam restringir o direito à liberdade de expressão como antes dos protestos em Berkeley. A conquista do "Free Speech" (liberdade de expressão) foi um enorme avanço [para os estudantes e a universidade]. Mas eu acredito que os protestos do movimento estudantil internacionalmente foram provavelmente bastante banais. Na França os estudantes tentaram fazer uma aliança entre os estudantes e os sindicatos e conseguiram algumas mudanças nas universidades, mas eu não creio que foram reformas significativas. Não vejo muitos benefícios na Europa em 1968 e nos EUA as conquistas que vieram do movimento estudantil foram a liberdade de expressão nas universidades e um maior suporte aos direitos civis dos negros.


John Searle - O movimento estudantil como um todo se tornou mais inflamado e relevante depois de 1965. Até este ponto era quase irrelevante. Mas a Guerra no Vietnã exacerbou todos os conflitos e agravou as tensões entre os jovens e as instituições das autoridades do establishment. Sem a Guerra do Vietnã os protestos teriam acabado muito antes. A guerra acelerou as manifestações extraordinariamente. - Quais foram as conquistas dos manifestantes no que diz respeito à Guerra do Vietnã?John Searle - Eu acho que depois de 68 os protestos levaram a continuidade da guerra, mas isto é uma questão de análise histórica. Os movimentos de protestos contra a guerra poderiam e talvez tenham feito alguma diferença, mas após se tornarem violentos, acabaram por dificultar o fim da guerra pelo governo. Eu acho que [Hubert] Humphrey teria terminado a guerra mais rápido que Richard Nixon, mas os estudantes radicais o fizeram perder a eleição, ao fazerem parecer que os democratas eram responsáveis pela desordem. - O senhor poderia pontuar o que considera positivo e negativo nos anos 60 como um década de protestos estudantis no mundo?John Searle - Os anos 60 como um fenômeno cultural foram um desastre. Eles criaram uma série de expectativas na sociedade que jamais poderão ser realizadas. Uma das coisas que é latente nos anos sessenta é o quanto foi inadequado intelectualmente. Faça a si mesmo a pergunta: "quais são as idéia filosóficas substantivas que surgiram dos movimentos estudantis radicais?" e verá que não existe nenhuma. Intelectualmente foi bastante superficial, e ruim culturalmente, reduzindo os padrões intelectuais em muitas universidades, além de dar aos estudantes o modelo errado de mudança social. Isso aconteceu porque eles [europeus] tinham uma sociedade muito atrasada. Não entendiam como a sociedade funcionava e como deviam se dar os processos de mudança. Mas eu ainda não falei dos bons efeitos. Eles colocaram um fim em uma concepção de vida de estudante em que o slogan era "a educação paternal". A idéia era de que a universidade estava no lugar dos pais e que a universidade tinha uma autoridade sobre os estudantes como a dos pais. Esta nunca foi a visão na Europa, mas foi uma visão comum nos EUA, e teve fim em Berkeley em 1964. Desde então as universidades não pensam mais que tem uma autoridade sobre os estudantes semelhante a dos pais. - A respeito do legado intelectual dos anos sessenta, Marcuse, com sua nova leitura do marxismo trazendo às questões da sexualidade colocadas por Freud, e, por outro lado Guy Debord (1931-94), com sua análise sobre a "sociedade do espetáculo" e a idéia de que a realidade se tornou uma "representação" a todo momento de formas reproduzidas pela sociedade do consumo, não deram uma contribuição ao entendimento da sociedade em que nós vivemos hoje?John Searle - Eu considero Marcuse um filósofo bastante superficial e confuso. Sua idéia de 'tolerância repressiva', o fato de que nós aceitarmos opiniões diferentes é na verdade uma forma de repressão, não é uma idéia a ser levada a sério. Para ele, permitir uma variedade de opiniões impossibilita o crescimento das tensões que podem resultar em uma revolução. Para Marcuse, para ter uma revolução é preciso ter uma classe reprimida, eu não concordo com isso.

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