*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Tuesday, December 26, 2006

ANARQUIA, ANTI-DITADURA CULTURAL E COMUNICAÇÃO-GUERRILHA.


Primeiro Manifesto da Universidade InvisívelA liberdade que tanto prezamos nós, anarquistas, autonomistas e ultra-esquerdistas, ainda permanece distante. Em um mundo onde atitudes são bens de consumo a serem trocados por tempo, o preço da liberdade é muito alto. Não é possível, nesse mundo dentro de um outro mundo, dar-se ao luxo de não temer a fome, a negação de abrigo e, talvez mais do que tudo, não temer que alguém seja capaz de nos retirar todos os confortos banais de que dependemos. Não há liberdade sem igualdade, ou igualdade sem liberdade, e, portanto, não há como ser livre nesse mundo. É preciso compreender as estratégias para a negação da existência como bem de consumo; é preciso escolher nosso Paraíso, e lutar por ele até a morte, ou estar contente por viver no inferno - em suma, é preciso botar fogo nesse mundo. As idéias devem voltar a serem perigosas. A Universidade Invisível pretende abolir a divisa entre a teoria e a prática trabalhando precisamente nesse ponto. Central a todas as linhas do anarquismo - e dessa síntese que queremos e apoiamos, o anarquismo social - se encontram princípios comuns. Uma crítica radical da exploração capitalista e das alienações que ela induz (superconsumo, individualismo exarcebado, mercantilização de todos os aspectos da vida, fundando uma lógica de servidão voluntária). Uma crítica igualmente radical da dominação e do Estado não apenas como braço armado das classes dominantes, mas igualmente como classe enquanto tal, como nomenklatura, simultaneamente causa e efeito da divisão social. Um combate permanente e não-hierarquizada contra todas as formas de opressão do ser humano e pelo ser humano. Uma luta de todos os instantes pela liberdade de cada um e de todos pela vida que a acompanha. Pela igualdade econômica e social. A socialização dos meios de produção! A autogestão generalizada! O federalismo libertário! A livre associação de iguais! A abolição das fronteiras, dos exércitos, das prisões e das polícias! A reunificação de um corpo social hoje profundamente dividido e fraturado! O apoio mútuo! A elaboração de uma nova síntese entre o coletivo e o individual! Uma gestão dos recursos naturais do planeta, banindo a pilhagem! A partilha desses mesmos recursos e a mundialização de sua gestão! A todos esses clamores ancestrais, juntamo-nos ao coro daqueles que lutam pela união verdadeira dos libertários de todo o mundo, pela convergência de nossas ações e teorias na direção da revolução. Mas ainda é preciso avançar muito na teoria e na prática, na propaganda e na ação, abolindo as fronteiras entre essas atividades. São novos tempos: tempos de panóptico e totalidades no campo social, o que deveria ser chamado de pan-kapital. É preciso, acima de tudo, trabalhar-se no nível da tática, sem perder de vista a estratégia. O anarquista deve tentar raciocinar de uma forma minimamente linear, e deve pensar as coisas em camadas e na forma de hipertexto. A idéia de hipertexto foi enunciada pela primeira vez por Vanevar Bush em 1945, em um artigo chamado "As We May Think" ("como podemos pensar"). Por que "As We May Think"? Segundo ele, e isso pode ser estendido à maioria das formas de pensamento sistematizado, na comunidade científica, a maior parte dos sistemas de indexação e organização de informações é artificial. Cada item é classificado apenas sob uma única rúbrica, e a ordenação é puramente hierárquica (classes, subclasses, etc.). Bush argumenta que a mente humana simplesmente não funciona assim. Ela vai de uma representação para outra a longo de uma rede intrincada, desenha trilhas que se bifurcam, tece uma trama infinitamente mais complicada do que os bancos de dados de hoje ou os sistemas de informação existentes em 1945. A psicologia cognitiva, com seu modelo das redes neurais, tem demonstrado isso. É óbvio que não é possível imitar o processo que embasa o exercício da inteligência, e Vanevar Bush reconhece isso. O que ele propõe, e é o que endossamos aqui, é que nos inspiremos nesse processo. Vanevar Bush imaginou um dispositivo, denominado "memex", para mecanizar a classificação e a seleção por associação paralelamente ao princípio clássico da ciência. No início dos anos 60, Theodora Nelson inventou o termo "hipertexto" para exprimir a idéia de escrita/leitura não-linear em um sistema de informática. O hipertexto é um documento em texto que contém hyperlinks (ligações), uma espécie de apontador para outra fonte de informação. Escolhendo esse hyperlink, obtém-se a página de informação que ele designava que pode, por sua vez, ter também vários hyperlinks. Como indica o "ClueTrain Manifesto", "hyperlinks subvertem hierarquia". Pensar em hipertexto é subverter a hierarquia de idéias que correm na mente do anarquista, permitindo que ele pense e repense táticas de subversão. A primeira diferenciação que surge dessa nova forma de pensar é a dicotomia entre tática e estratégia. A tática, de forma simplista, refere-se a tudo aquilo que é da ordem do curto e médio prazo, à batalha; a estratégia refere-se ao que é da ordem do longo prazo, da guerra. Murray Bookchin postula que o anarquista social deve se comprometer com quatro pontos: 1) a criação de confederações de municipalidades descentralizadas; 2) a oposição ao estatismo; 3) a crença na democracia direta; e 4) a nutrição do comunismo libertário. Esse programa de quatro pontos é um programa estratégico. Poderia-se dizer que são objetivos menores a serem cumpridos antes (e durante) a revolução social. Na realidade, a revolução social e esse programa são intercambiáveis. O anarquismo social, ou anarquismo contemporâneo, deve se comprometer com novas formas de pensar a revolução social, que não é um objetivo em si. Poderia se afirmar que o objetivo final da estratégia anarquista é a revolução social, que por sua vez tem por fim a anarquia. O anarquista distingue-se do ativista por perseguir uma estratégia geral - a criação de uma sociedade libertária - ao invés de se focar em um ponto único (como a questão do trabalho ou dos alimentos transgênicos). O aspecto tático, por sua vez, trabalha num nível menor, mas não menos importante. A tática anarquista visa o trabalho negativo - retirar tijolos da muralha que nos cerca - e o trabalho positivo - ajudar as pessoas a experimentar formas de organização descentralizadas, coletivas e cooperativas. O aspecto tático não é subordinado ao aspecto estratégico, mas interage com ele de forma não-linear - hipertexto, lembra? Infelizmente, nenhuma literatura ou teoria pode dar conta das formas infalíveis de se alcançar todos os objetivos estratégicos - e nem deveria desejá-lo, dado o grau de exposição que o anarquismo enfrentaria em relação ao pan-capitalismo. A orientação da Universidade Invisível, portanto, é claramente no sentido da tática. Com isso em mente, é preciso considerar-se novos campos de batalha. A escolha da Universidade Invisível é a guerrilha cultural. Culturalmente, em relação a recursos e capacidades de organização, estamos bem municiados. Cabe a nós fazer com que nossa luta exista culturalmente e em todos os níveis. Os capitalistas e o Estado são capacitados para manipular os sentimentos de milhões em questões de dias. Escolas, prisões e entretenimento estão continuamente moldando a forma de pensar e se comportar das pessoas, e o fazem em um campo que não é físico, mas metafísico: o imaginário social - um conjunto coerente, lógico e sistemático de idéias recolhidas da experiência social e transformadas nesse conjunto pela ideologia. O imaginário social funciona em dois registros: como representações da realidade (sistema explicativo ou teórico) e como normas e regras de conduta e comportamento (sistema prescritivo de normas e valores). Representações, normas e valores formam um tecido de imagens que explicam toda a realidade e prescrevem para toda a sociedade o que ela deve fazer e como deve pensar, falar, sentir e agir. Todos nós habitamos essa realidade; alguns tentam confrontá-la. Como podemos, então, sustentar nossas vidas na forma de um desafio à dominação, produzir dentro de nosso mundo herdado as visões e imperativos de um novo mundo e levar a guerra de classes para o campo do imaginário social? A questão da cultura atropela as antigas estratégias. Podemos tratar a cultura ou como subproduto de uma base material, algo criado somente por aqueles que são particularmente "dotados", ou como algum monstro terrível e aleatório. Nenhuma dessas perspectivas, endereçando a cultura como algo separado da vida das pessoas, irá mudar alguma coisa. Como iremos definir, localizar e fortalecer uma contra-cultura - ou, ainda, uma anti-cultura - anarquista? Precisamos discutir os termos no qual se funda essa anti-cultura anarquista porque ela é integral na nossa luta por libertação. Protestos, organizações e grupos de afinidade sempre irão falhar se não conseguirem criar uma anti-cultura que torne a revolução necessária. A revolução social contem todas as possibilidades da cultura, realizada ao invés de retratada. A cultura, na sua forma atual, serve tanto para oprimir as classes perigosas, quanto para glorificar as personalidades e mistificações da elite dominante. Ela trabalha no imaginário social, e reintegra todas as tentativas de crítica do status quo. A classe impossível - coberta de invisibilismo, aberta a todos, existindo fora dos moralismos do trabalho, discurso, arte e participação - recusa o mundo das aparências. Os objetivos iniciais (criticismo não-mediado, sabotagem e o estabelecimento das utopias impossíveis) estão envolvidos na trama da anarquia. Não se pode, como querem os deslumbrados por Hakim Bey, liberar a anarquia no mundo em doses homeopáticas. Não se trata, também, de ignorar a guerra de classes, mas, como já foi colocado, de avançar com ela sobre o imaginário social. A função primária, por exemplo, do projeto da "abolição da arte" é destruir todas as mitologias culturais em que os poderes estabelecidos cristalizam a imagem de sua superioridade, de sua própria inteligência; a arte é a poltrona confortável na qual o Estado senta-se à procura de prazer. Ser um artista em uma sociedade na qual a "cultura" em todas as suas formas é o agente primário de dominação política e o bem de consumo ideal é um ato inerentemente contraditório. A arte privilegia os mesmos valores de "individualidade" e "criatividade" que são constatemente negados pela realidade econômica do capitalismo. Deve-se tornar clara a diferença entre a abolição da arte e todas as tentativas anteriores de destruição ideológica (dada em especial): aliamos consciente e deliberadamente a eliminação de valores estéticos à necessidade e possibilidade da revolução social. Não alimentemos ilusões: a maioria dos "críticos de arte" continuarão a agir como se a arte não tivesse sido abolida, e como isso não fosse possível; a maioria dos "artistas" continuarão a acreditar no caráter "artístico" de sua produção; a maioria dos freqüentadores de galeria, amantes da arte e, logicamente, negociantes e compradores de arte irão ignorar o fato de que a abolição da arte pode realmente acontecer no tempo e espaço reais de uma situação pré-revolucionária como aquela do Maio de 1968. É essencial que se coloque mais lenha na fogueira da guerra de classes, utilizando-se das máquinas da indústria cultural para que possamos colocá-la em contradição de forma mais efetiva. A intenção não é terminar a produção, mas mudar a parte mais aventureira da produção "artística" na direção da produção de idéias, formas e técnicas revolucionárias. Basta aos individualistas terem as suas idéias e limitarem as suas opiniões à sua própria vida - o que é chamado de "life-stylism" (algo como "estilismo de vida") -, mas a maioria dos anarquistas quer ir mais longe e influenciar outros. Às discussões sobre problemas sociais ou políticos, os anarquistas empenhados levam o ponto de vista libertário e nas lutas públicas defendem a solução libertária. Mas, para terem um impacto real, têm que trabalhar com outros anarquistas ou dentro de um grupo organizado que tenha uma base mais permanente do que o simples encontro ao acaso. É o começo da organização, a qual leva à propaganda e finalmente à ação. A controvérsia em torno da importância da propaganda para a militância anarquista é longa. O anarco-comunismo a colocou no centro de seu programa tático, e todo o anarquismo posterior herdou isso. Não se trata, obviamente, de minimizar a importância da propaganda, muito menos de descartá-la como tática revolucionária, mas é preciso abrir espaço para outras táticas e, acima de tudo, rever a qualidade da propaganda - novamente, penetrar no campo do imaginário social. É preciso deixar de lado a velha propaganda anarquista que já não faz mais efeito e procurar algo que seja realmente tático. Em um texto chamado “What About Communication Guerrilla?" ("E quanto à Comunicação-Guerrilha?"), escrito pelo autonome a.f.r.i.k.a. gruppe, Luther Blissett e Sonja Brünzels, a reflexão à volta da comunicação (aqui entedida como sinônimo de propaganda) se estende para além do trabalho clássico e entra no campo do que se conviu chamar de "mídia tática", que visa oferecer uma outra maneira de pensar a função transgressiva da comunicação. Mídia tática é um conceito que se firmou nos anos 90, fruto de práticas de ativistas e festivais de novas mídias na Europa e nos EUA. Seu fundamento básico é a produção "faça-você-mesmo", realizando um uso diferenciado das potencialidades de comunicação, tornadas possíveis graças à crescente acessibilidade de materiais e meios de comunicação. Trata-se de avançar para além do tradicional em termos de comunicação subversiva. Citando o "What About Communication Guerilla?": "O principal problema com as concepções tradicionais da comunicação política radical é a aceitação da idéia de que quem possui os meios pode controlar os pensamentos dos humanos. Essa hipótese surge de um modelo de comunicação muito simples que foca-se somente nos meios. A euforia à volta da sociedade da informação, assim como sua oposição pessimista - que se preocupa com o excesso de informação - não encara o problema crucial das democracias representativas: fatos e informações, mesmo se tornaram-se lugar-comum, não disparam quaisquer conseqüências". Dessa forma, propomos uma reflexão do papel da comunicação e das interrelações entre a recepção da informação, o conhecimento e as opções de ação dentro do contexto social contemporâneo, o pan-capitalismo. A informação por si só não tem significado ou conseqüência. Essas coisas surgem somente através da recepção ativa e através da ação da audiência. É preciso que os espectadores deixem de sê-lo para que a comunicação-guerrilha anarquista, como passaremos a denominar a nova forma de propaganda proposta, tenha efeito. Não se pode mais focar em fatos e argumentos como se tem feito na maioria dos panfletos, brochuras, slogans e cartazes. É preciso assumir uma posição de militância radical - uma posição tática -, levar a ação direta ao campo da propaganda. A comunicação-guerrilha não visa destruir os códigos e símbolos do poder e do controle, mas sim distorcer e desfigurar seu significado como uma forma de contra-atacar sua onipotência. "Guerrilhas de comunicação não pretendem ocupar, interromper ou destruir os canais dominantes de comunicação, mas deturpar e subverter as mensagens transportadas" ("What About Communication Guerilla?", autonome a.f.r.i.k.a. gruppe, Luther Blissett e Sonja Brünzels). Nada disso é novidade, pelo menos fora do anarquismo. O dada de Berlim, os Indiani Metropolitani italianos, os situacionistas, todos utilizaram-se disso. O importante, nesse caso, é que a comunicação-guerrilha ainda não foi cooptada pelo poder, ou "recuperada", como diriam os situacionistas. A comunicação-guerrilha não substitui uma crítica racional do pan-capitalismo, da política e da cultura hegemônica. Ela não substitui a contra-informação ("contra a informação capitalista, contra-informação anarquista", eles dizem), mas cria possibilidades adicionais de intervenção. Ao mesmo tempo, não deve ser vista como um apêndice, uma mera adição ao trabalho da política "real" e da ação direta material. A comunicação-guerrilha ataca as relações de poder circunscritas na organização social da vida cotidiana, nas regras, na ordem da conduta e discursos públicos. O pan-capitalismo tem uma camada simbólica, que Bifo chamou de semiocapital e o que aqui chamamos de imaginário social, e é nesse nível que estão as legitimações e naturalizações do poder e da desigualdade econômica, política e cultural. O semiocapital é um quadro cognitivo da atividade social, um quadro semiótico ligado ao imaginário social. O conhecimento desse nível é utilizado pela comunicação-guerrilha, temporariamente expropriando o capital cultural e recombinando-o para criar distúrbio na economia simbólica das relações sociais. A comunicação-guerrilha não pode seguir somente utilizando os meios usuais, mas também os espaços públicos - não como mera maquiagem urbana, mas voltada a questões de interesse geral, e por isso sua natureza híbrida que mistura cultura popular, cultura oposicionista e até mesmo a cultura de massas. Daí também que implica em abrangência. TV, rádio, vídeo, meio impresso, websites, softwares e todo tipo de mídia eletrônica, performances, DJs, teatro de rua, murais, canetões, spray, adesivos, pôsteres, lambe-lambe, stencils, panfletos, fanzines, batukação, bicicletadas... tudo isso faz parte da comunicação-guerrilha. Já é hora do anarquismo distanciar-se do passado da propagando e entrar na comunicação-guerrilha. A mídia tática está surgindo no Brasil recentemente. Pelo que pudemos observar até agora, tem sido dominada por um discurso estético, que classifica a comunicação-guerrilha como "arte". Não há nada de guerrilha no que foi produzido pelos grupos chamados de a(r)tivistas. Já disse Marshall McLuhan que "o meio é a mensagem", e a arte, não importa o que esteja escrito ou pintado ou o que quer que seja, diz que a desigualdade é a lei. Email:: universidadeinvisivel@yahoo.com.br

1 Comments:

  • At 6/19/2007, Anonymous Anonymous said…

    Meu nome é tiagoalem
    tou acompanhando teus textos
    e gostando muito...

     

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