Publicações Globo e a tríplice fronteira: quem é o ingênuo? Por Rubens Diniz*23/03/07
A investigação se baseia em um suposto “relatório entregue pelo Departamento do Tesouro dos EUA ao governo brasileiro”, que aponta uma série de pessoas da comunidade árabe na tríplice fronteira, que arrecadariam recursos para “bancar as atividades de grupos terroristas no Oriente Médio”. (1)
Mesmo afirmando que “até hoje não se descobriu nenhuma célula terrorista na tríplice fronteira”, e que, “o governo americano está naturalmente inclinado a potencializar o risco do terror em todo o mundo”, a revista indaga se não estaríamos sendo ingênuos, ao negarmos as acusações feitas pelos EUA. Mas realmente quem está sendo ingênuo?Para tratar de responder a pergunta, é necessário que contextualizemos um pouco o que é a região da tríplice fronteira. Formada pelas fronteiras entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai, é um ponto de conexão natural, com grandes fluxos humanos e comerciais. É ademais área que representa a simbiose da integração latino-americana. É uma região que contém ao redor de 700 mil habitantes, formada de guaranis, mestiços e uma grande comunidade de árabes, que se dividem em muçulmanos xiitas e sunitas e uma pequena população de cristãos emigrados do Líbano, Síria, Egito e dos territórios palestinos. Em sua maioria chegaram nos anos 70, com a construção de Itaipu, e se dedicam em grande parte ao comércio. Um aspecto importante sobre a região – e esquecida pela revista Época – são os seus imensos recursos hídricos. O magnífico caudal do rio Paraná que desce desde a bacia amazônica alimentando os lençóis subterrânea que conformam o Sistema Aqüífero Guarani (SAG), que é aparentemente, a maior jazida subterrânea de água doce do planeta. (8). Sua área abarca 1.195.700km2, aproximadamente 70% se encontra em solo brasileiro, 19% na Argentina, 6% no Paraguai e 6% no Uruguai. Suas reservas de água (capacidade de armazenamento) se estimam em 40 mil km3, com reabastecimento de 160 km3. Estima-se que “estas reservas podem satisfazer as demandas de água de 360 milhões de habitantes (300 litros diários por pessoa), ao longo de 100 anos, e somente teria sido consumido 10% de sua capacidade total” (2),(7). Esse “irrelevante” dado, esquecido de ser mencionado pela Época, dá a real dimensão da importância estratégica. Outro dado não mencionado pela mesma revista é a presença militar norte-americana na região. É de chamar a atenção, e deve ser motivo de análise, que justamente em uma região rica em recursos estratégicos e ponto de convergência da integração sul-americana, surjam tais acusações. Para o professor emérito da Universidade de Brasília, Luis Alberto Moniz Bandeira, autor de A formação do Império Americano, são preocupantes as manobras efetuadas pelos EUA na região da tríplice fronteira. Elas poderiam servir para dominar regiões ricas em água doce, “em uma atitude preventiva ao problema de escassez hídrica a ser enfrentado pelo mundo no futuro”. (3) Como no Iraque e no Afeganistão, os reais interesses da guerra contra o terrorismo eram de dominar os vastos recursos naturais destes povos, será que a revista não estaria sendo ingênua diante dos motivos reais que levam os Estados Unidos a realizarem tais acusações? Já não vimos um filme parecido com este?
A presença militar norte- americana na região da tríplice fronteiraA partir dos anos 90, o Pentágono desenvolveu uma nova estratégia de uso de instalações militares. Procuram construir em outros países estruturas como quartéis e pistas de pouso, onde realizam exercícios militares, e que podem ser utilizadas em uma possível intervenção militar.Esse é o caso da renovada pista de pouso Mariscal Estigarribia, no Chaco paraguaio, localizada a apenas 250 km da Bolívia e igualmente próxima do Brasil e da Argentina. É uma moderna pista de pouso com 3.800 metros de comprimento e 70 metros de largura, maior do que o aeroporto de Assunción. Tem condições de receber aviões Galaxy, os que são utilizados pelos Estados Unidos para transporte de carga e de tropas. Fora ela, no ultimo período os EUA ajudaram a construir outras estruturas nas localidades de Oviedo, Salto del Guará y Pedro Juan Caballero, que podem ser utilizadas para fins militares. (4) Mas a presença americana não pára aí: em 19 de agosto de 2004, o poder executivo promulga a Lei 2447-04, “que aprova o convênio de troca de notas entre o governo da Republica do Paraguai e o governo dos Estados Unidos da América, relativo a exercícios, seminários, conferencias e intercâmbios militares”.(4) Entre junho de 2005 e 31 de dezembro de 2006, os EUA realizaram 13 exercícios militares com a participação de 400 soldados.
Na época, o Ministro de relações exteriores, Celso Amorim, afirmava que “a presença de 400 marines em manobras militares durante alguns meses no Paraguai evidentemente preocupa, pois é um contingente importante”. Vale destacar que a postura do governo brasileiro tem sido digna e soberana, afirmando que não existem indícios nesta área de funcionamento de células terroristas. Não se pode deixar de reconhecer que o Hezbollah é o maior partido de massas do Líbano e conduz o movimento de resistência as agressões feitas por Israel, com aval dos EUA.
Mas para o tenente coronel Philip K. Abbott, do exercito dos EUA, “a tríplice fronteira é uma área ideal para o surgimento de grupos terroristas”. Ele diz também que “embora essa área não seja atualmente o centro de gravidade para a guerra total contra o terrorismo, ela tem um lugar importante na estratégia”. (5) Na mesma linha de ataque à soberania de nossos países, em 17 de julho de 2006 foi aprovada uma moção no Senado americano para a criação de uma força tarefa anti-terror no hemisfério ocidental, principalmente na região da tríplice fronteira. Tal moção foi repudiada pelo governo brasileiro. A acusação feita pelos EUA é um insulto aos povos desta região. Representa uma ingerência, um ataque à soberania destes países, e deve ser rechaçada contundentemente, assim como devem ser aclarados os reais objetivos destas acusações. Como afirma o professor Moniz Bandeira, as insistentes e repetitivas acusações de que nesta região existem terroristas fazem parte “de uma guerra psicológica, de alguns setores do Pentágono, com objetivos escusos, entre os quais obter mais recursos no orçamento e instalar no “hinterland” da América do Sul uma força de deslocamento rápido para intervir em situações de conflito de baixa intensidade...e controlar uma zona como a tríplice fronteira, com a maior reserva mundial de água potável, recurso estratégico cuja carência se previa para o futuro”(3)
O mesmo afirma que “é preciso ter claro que não significa uma operação bélica”, as estruturas bélicas construídas não são para serem ocupadas de forma imediata, coincidindo com o estudioso do tema, Ignácio J. Osacar, coordenador da comissão de Defesa do CENM (Centro de Estudos Nueva Mayoria, Argentina), que afirma que os EUA teriam a possibilidade de mobilizar uma brigada de 15 mil efetivos de modo aéreo em não mas de 72 horas, incluindo veículos blindados, helicópteros de transporte e de combate. De forma muito rápida poderia mudar a infra-estrutura de ter soldados dormindo em tendas de campanha, para bem estruturados alojamentos, com todas as condições, ou seja em condições de permanecer por tempo indeterminado. (6) Não se trata de alarmes, de teorias conspiratórias, mas quando se trata de provocações feitas por um país que tem como doutrina “defender a soberania dos EUA, seu território e interesses nacionais, no país e no exterior”, é necessário estar atento, e denunciar qualquer tentativa de ingerência e agressão. O que procura o imperialismo norte-americano é disseminar a intriga, o ódio, a fragmentação, a divisão dos povos desta região.(5)
Nossa estratégia é a luta pela integração latino-americanaA questão da tríplice fronteira é um tema nacional. As acusações são afrontosas à soberania, como também de discriminação a uma população que tem raízes históricas nesta região, e que hoje faz parte do povo brasileiro, argentino e paraguaio. A tríplice fronteira é um elo de identidade cultural em nosso processo de integração regional.O novo cenário latino-americano incomoda o imperialismo, que vê sua influencia perder espaço e trata com isto de reagir. A batalha que exercem hoje os povos do nosso continente pela integração latino americana tem significado histórico; é uma derrota do receituário neoliberal e a possibilidade de constituição de projetos autônomos, de desenvolvimento, que explorem sustentavelmente suas riquezas, é a possibilidade de fazer do continente latino-americano uma zona de paz, unidade e sem bases militares americanas.
O Fórum Social da Tríplice Fronteira tem sido um espaço organizado pelos movimentos sociais dos três países com o objetivo de dar visibilidade ao tema, de mobilizar a opinião pública, sobre a militarização da região, e os reais interesses dos EUA com suas acusações. O Fórum da Tríplice Fronteira, que já foi realizado no Paraguai e na Argentina, está em fase de organização de sua 3{ edição no Brasil, durante o segundo semestre de 2007. Em um esforço similar, a Campanha pela Desmilitarização das Américas (CADA) realizou entre os dias 15 e 20 e julho de 2006 uma Missão Internacional de Observadores ao Paraguai, que em suas conclusões afirma “que se manterá atenta a presença de tropas ou corpos de segurança estrangeiros na região.”(4)
* Rubens Diniz, psicólogo, é diretor do Centro Brasileiro de Solidariedade com os Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ) e da Campanha pela Desmilitarização das Américas-CADA
7 Comments:
At 3/23/2007, Anonymous said…
se os estados unidos invadir eu luto!bala nos fascistas...
At 8/12/2007, Anonymous said…
Anonymous disse...
se os estados unidos invadir eu luto!bala nos fascistas...
E vc seria o primeira a morrer!
Hahahaha
Demente mongoloide vc!!
At 10/12/2007, Anonymous said…
Situação preocupante. A questão não é lutar ou deixar de lutar, é o governo garantir nossa soberania, e impedir que tais comentários sejam sequer feitos.
At 3/16/2008, Anonymous said…
de onde vc tira seus dados?!
At 7/20/2008, Anonymous said…
Eu lutaria Tam Bem.
At 4/28/2010, Fenix said…
Os E.U.A se afundará na própria desgraça, em 10 anos eles estarão falidos por completo!
Nada dura para sempre!
At 3/10/2012, Anonymous said…
falou a Fênix.
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