
Diante de tais circunstâncias, a Coréia do Norte sentiu-se ameaçada e decidiu desenvolver seu programa para a obtenção de armas de modo que pudesse dispor de um elemento dissuasório contra qualquer possível ataque dos EUA. George W. Bush suspendeu então o acordo,intermediado, em 1994, por Jimmy Carter, que permitira ao governo do presidente Bill Clinton conseguir, diplomaticamente, que Kim Jong-il, o ditador da Coréia do Norte, interrompesse seu programa nuclear, em troca do fornecimento anual de 500 mil toneladas de óleo, por ano, e da ajuda à construção de dois reatores nucleares para fins pacíficos, compromisso, aliás, não cumprido pelos EUA.


Àquele tempo, a Coréia do Norte já havia conseguido produzir seu primeiro carregamento de urânio, graças ao reator de 5 megavolts, em Yongbyon, e tinha condições para fabricar uma ou duas bombas nucleares. E a decisão de Bush de acabar o acordo alcançado na administração de Clinton reacendeu as tensões na região e interrompeu o processo de paz entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul. Entretanto, ante os preparativos dos EUA para atacar o Iraque, usando como pretexto a suposição de que Saddam Husseim buscava obter armas de destruição em massa, Kim Jong-il inferiu que a Coréia do Norte, como parte do "axis of evil", seria a próxima vítima. Entendeu que nem mesmo desarmando-se, renunciando ao projeto de produzir armas nucleares e permitindo a entrada dos inspetores da AIEA [agência nuclear da ONU], evitaria a guerra, pois os EUA, sem respeitar o Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares, continuavam a produzir os mais sofisticados artefatos nucleares.



Como pode agora o presidente George W. Bush pretender que a Coréia do Norte e o Irã respeitem resoluções do Conselho de Segurança da ONU? Ele mesmo, George W. Bush, não desrespeitou o Conselho de Segurança e determinou unilateralmente a invasão do Iraque, depois de declarar que a ONU seria "irrelevante" se não atendesse ao propósito dos EUA? Esta atitude refletiu o pensamento da extrema-direita americana, que desprezava a ONU, como um organismo sem consistência, deteriorado pela disparidade de objetivos e dedicado a apaziguar ao invés de por fim às ameaças à paz e à segurança.Não sem razão, Robert McNamara, ex-secretário de Defesa nos governos de John Kennedy e Lydon Johnson, exortou os EUA, no artigo "Apocalypse Soon" publicado pela revista "Foreign Policy", a cessar seu estilo de Guerra Fria, confiando nas armas nucleares como instrumento de política exterior. E declarou que, apesar do risco de parecer simplista e provocativo, ele caracterizaria a atual política de armas nucleares como "imoral, ilegal, militarmente desnecessária e terrivelmente perigosa".
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