*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Tuesday, January 08, 2008

entrevista ROGER CHARTIER 08/01/08

(obs:fotografia censurada de marte:))Como era, no passado, o contato das crianças e dos jovens com a leitura?ROGER CHARTIER A literatura se restringia às peças teatrais. As representações públicas em Londres,como podemos ver nas últimas cenas do filme Shakespeare Apaixonado, e nas arenas da Espanha são exemplos disso. Já nos séculos 19 e 20, as crianças e os jovens conheciam a literatura por meio de exercícios escolares: leitura de trechos de obras,recitações, cópias e produções que imitavam o estilo de autores antigos, como as famosas cartas da
escritora Madame de Sévigné (1626-1696) e as
fábulas de La Fontaine (1621-1695).Quando a leitura se tornou popular?CHARTIER No século 19, surgiu um novo contingente de leitores: crianças,mulheres e trabalhadores.Para esses novos públicos, os editores lançaram livros escolares, revistas e jornais. Porém, desde o século 16, existiam livros populares na Europa: a literatura de cordel na Espanha e em Portugal, os chapbooks(pequenos livros comercializados por vendedores ambulantes) na Inglaterra e a Biblioteca Azul(acervo que circulava em regiões remotas) na França.Por outro lado, certos leitores mais alfabetizados que os demais se apropriaram dos textos lidos pelas elites.
O livro O Queijo e os Vermes, do italiano Carlo Guinzburg, publicado em 1980, relata as leituras de um moleiro do século 16.As práticas atuais de leitura têm relação com as práticas do passado? CHARTIER É claro. Na Renascença, por exemplo,a leitura e a escrita eram acessíveis a poucas pessoas,que utilizavam uma técnica conhecida como loci comunes, ou lugares-comuns, ou seja, exemplos a serem seguidos e imitados. O leitor assinalava nos textos trechos para copiar, fazia marcações nas margens dos livros e anotações num caderno para usar essas citações nas próprias produções.No século 16, editores publicaram compilações de lugares-comuns para facilitar a tarefa dos leitores,como fez o filósofo Erasmo de Roterdã (1466-1536).
Em que medida compreender essas e outras
práticas sociais de leitura pode transformar
a relação com os textos escritos?CHARTIER Os estudos da história da leitura costumam esquecer dois importantes elementos: o suporte material dos textos e as variadas formas de ler. Eles são decisivos para a construção de sentido e interpretação da leitura em qualquer época.
Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes(1547-1616), era lido em silêncio, como hoje, mas também em voz alta, capítulo por capítulo, para platéias de ouvintes. Todas as pesquisas nessa área formam um patrimônio comum com o qual os professores podem construir estratégias pedagógicas,considerando as práticas de leitura.Que papel a literatura ocupa na Educação atual?CHARTIER A escola se afastou da literatura,principalmente no Brasil, porque está preocupada em oferecer ao maior número possível de crianças as habilidades básicas de leitura e escrita.Mas acredito que os professores devem acolher a literatura novamente, da alfabetização aos cursos de nível superior, como mostram várias experiências
pedagógicas. Na França, por exemplo, um filme recém-lançado exibe uma peça do dramaturgo
Pierre de Marivaux (1688-1763) encenada por jovens moradores de bairros pobres.Muitos dizem que desenvolver o gosto dos jovens pela leitura é um desafio.CHARTIER Certamente.Mas é papel da escola incentivar a relação dos alunos com um patrimônio cultural cujos textos servem de base para pensar a relação consigo mesmo, com os outros e o mundo.É preciso tirar proveito das novas possibilidades do mundo eletrônico e ao mesmo tempo entender a lógica de outro tipo de produção escrita que traz ao leitor instrumentos para pensar e viver melhor.O senhor quer dizer que a internet pode ajudar os jovens a conhecer a riqueza do mundo literário?CHARTIER Sim. O essencial da leitura hoje passa pela tela do computador.Mas muita gente diz que o livro acabou, que ninguém mais lê,que o texto está ameaçado. Eu não concordo.O que há nas telas dos computadores? Texto –e também imagens e jogos. A questão é que a leitura atualmente se dá de forma, fragmentada,num mundo em que cada texto é pensado como uma unidade separada de informação. Essa forma de leitura se reflete na relação com as obras, já que o livro impresso dá ao leitor a percepção de totalidade,coerência e identidade – o que não ocorre na tela.
É muito difícil manter um contato profundo com um romance de Machado de Assis no computador.

Essa fragmentação dos conteúdos na internet não afeta negativamente a formação de novos leitores?
CHARTIER Provavelmente sim. Na internet, não
há nada que obrigue o leitor a ler uma obra inteira
e a compreender em sua totalidade.Mas cabe às
escolas, bibliotecas e meios de comunicação mostrar
que há outras formas de leitura que não estão na tela
dos computadores. O professor deve ensinar que um romance é uma obra que se lê lentamente, de forma
reflexiva. E que isso é muito diferente de pular de uma informação a outra, como fazemos ao ler notícias ou um site. Por tudo isso, não tenho dúvida de que a cultura impressa continuará existindo.As novas tecnologias não comprometem o entendimento e o sentido completo de uma obra literária?CHARTIER Sim e não. A pergunta que devemos nos fazer é: o que é um texto? O que é um livro?A tecnologia reforça a possibilidade de acesso ao texto literário, mas também faz com que seja difícil apreender sua totalidade, seu sentido completo.É a mesma superfície (uma tela) que exibe todos
os tipos de texto no mundo eletrônico. É função da escola e dos meios de comunicação manter
o conceito do que é uma criação intelectual e valorizar os dois modos de leitura, o digital e o
papel. É essencial fazer essa ponte nos dias de hoje.O novo suporte tecnológico pode auxiliar
a leitura, mas não necessariamente o desempenho escolar.CHARTIER Pesquisas realizadas em vários países mostram que o uso do computador na Educação,quando acompanhado de métodos pedagógicos,melhora, sim, o aprendizado, acelera a alfabetização e permite o domínio das regras da língua, como a ortografia e a sintaxe. É preciso desenvolver políticas públicas que tenham por objetivo a correta utilização da tecnologia na sala de aula.

O senhor acha que o e-paper (dispositivo
eletrônico flexível como uma folha de papel)é o futuro do livro?CHARTIER Os textos eletrônicos são abertos,maleáveis, gratuitos e esses aspectos são contrários
aos da publicação tradicional de um texto (que pressupõe a criação de um objeto de negócio).Para ser publicado, um texto deve ser estável.Na internet, os textos eletrônicos continuaram protegidos, ou seja, não podem ser alterados, e têm
de ser comprados e descarregados no computador do usuário integralmente. Para mim, a discussão sobre o futuro dos livros passa pela oposição entre
comunicação eletrônica e publicação eletrônica,entre maleabilidade e gratuidade.Ao longo da história da humanidade,acompanhamos a passagem da leitura oral para a silenciosa, a expansão dos livros e dos jornais e a transmissão eletrônica de
textos. Qual foi a mais radical?CHARTIER Sem dúvida, a transmissão eletrônica.E por uma razão bastante simples: nunca houve uma transformação tão radical na técnica de produção
e reprodução de textos e no suporte deles. O livro já existia antes de Guttenberg criar os tipos móveis,mas as práticas de leitura começaram lentamente a se modificar com a possibilidade de imprimir os volumes em larga escala. Hoje temos no mundo digital um novo suporte, a tela do computador, e uma nova prática de leitura,muito mais rápida e fragmentada. Ela abre um mundo de possibilidades,mas também muitos desafios para quem gosta de ler e sobretudo para os professores, que precisam desenvolver em seus alunos o prazer da leitura.É muito fácil publicar informações falsas na internet. Como evitar isso?CHARTIER A leitura do texto eletrônico priva o leitor dos critérios de julgamento que existem no mundo impresso. Uma informação histórica publicada num livro de uma editora respeitada tem mais chance
de estar correta do que uma que saiu numa revista ou num site. É claro que há erros nos livros e ótimos artigos em revistas e sites.Mas há um sistema de referências que hierarquiza as possibilidades de acerto no mundo impresso e que não existe no mundo digital. Isso permite que haja tantos plágios e informações falsas. Precisamos fornecer instrumentos críticos para controlar e corrigir informações na internet, evitando que a máquina seja um veículo de falsificação.



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