*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Friday, February 01, 2008

Congo:a guerra contra as mulheres continua 01/02/08

República Democrática do Congo Um caso exemplar de pilhagem e submissão
http://resistir.info/africa/congo_pilhagem.html
O seguinte artigo faz referência a uma reportagem televisiva realizada pela cadeia de televisão usamericana CBS intitulada War Against Women. The Use Of Rape As A Weapon In Congo’s Civil War (Guerra contra as mulheres. O uso da violação como arma na guerra civil da República Democrática do Congo).Neste momento há uma guerra no coração de África, na República Democrática do Congo, onde já morreram mais pessoas do que no Iraque, Afeganistão e Darfur juntos. É provável que não se saiba muito sobre este assunto, mas como informa Anderson Cooper, este é o conflito com o maior número de mortos desde a Segunda Guerra Mundial. Nos últimos dez anos, mais de quatro milhões de pessoas morreram e o número continua a aumentar. Como Cooper e a equipa de “60 minutos” comprovaram quando lá estiveram há uns meses os alvos mais frequentes desta guerra são as mulheres. De facto, é uma guerra contra elas, e a arma que usa para as destruir, a elas, às suas famílias e a comunidades inteiras é a violação.
O Doutor Denis Mukwege é o director do Hospital de Panzi no leste do Congo. Nesta guerra contra as mulheres o seu hospital está na linha da frente. Uma das últimas vítimas a quem está a tratar é Sifa M’Kitambala. Foi violada pelos soldados que atacaram a sua aldeia, dois dias antes da equipa de “60 minutos” chegar. “Eles cortaram-na em muitos sítios” –explica o Doctor Mukwege. Sifa estava grávida, mas os violadores não se preocuparam com isso. Armados com uma catana até nos genitais a cortaram.Nos últimos dez anos centenas de milhares de mulheres foram violadas na República Democrática do Congo. O Hospital de Panzi está cheio delas. “Estas mulheres foram todas violadas?” – pergunta Cooper ao Doutor Mukwege, que está de pé perto de um grande grupo de mulheres que esperam. O Doutor diz que todas elas foram suas pacientes. Dentro de uma semana este lugar estará cheio de caras novas, mais vítimas, assegura. “Têm uma dor profunda. Mas não é apenas a dor física. É a dor psicológica. Aqui no hospital, temos visto mulheres que deixaram de viver” – explica o Doutor Mukwege. E nem todas as pessoas tratadas são adultas. “Há crianças. Acho que a mais jovem tinha três anos e a mais velha 75” – afirma Mukwege.Para entender o que se passa aqui é preciso recuar mais de uma década, quando o genocídio que ceifou quase um milhão de vidas no vizinho Ruanda passou para o Congo. Desde então, o exército congolês, com apoio estrangeiro, e milícias locais, têm estado a lutar uns contra os outros pelo poder e por esta terra, que tem algumas das maiores reservas mundiais de ouro, cobre, diamantes e estanho.Foi pedido apoio às Nações Unidas e hoje a sua missão aqui é a maior operação pacificadora da história. Desde 2005, cerca de 17.000 tropas e pessoal das Nações Unidas têm improvisado juntos uma paz frágil. O ano passado supervisionaram as primeiras eleições democráticas no país em 40 anos. No entanto tudo o que conseguiram alcançar está agora em risco. O combate teve início de novo no leste do Congo e a guerra na região é uma probabilidade. Cada combate é seguido por pilhagem e violação, comunidades inteiras são aterrorizadas. Forçadas a fugir das suas casa, as pessoas levam o que podem e caminham quilómetros com a esperança de encontrar comida e refúgio. O ano passado, mais de 500.000 pessoas foram forçadas a deixar as suas aldeias. Alguns chegam a campos de refugiados já exaustos, onde dependem da ajuda das Nações Unidas para sobreviver. Um campo que Cooper visitou foi criado apenas há dois meses. Já está cheio, mas continuam a chegar mais pessoas. Chegam à procura de um refúgio, de um lugar seguro, mas a verdade é que no Congo não existe um lugar seguro para as mulheres. Até nestes campos supostamente protegidos, as mulheres são violadas todos os dias.“A violação é algo normal aqui?” – pergunta Cooper a Anneka Van Woudenberg, que é a investigadora mais antiga na observação dos Directos Humanos no Congo. “Acho que devido à extensão da guerra no Congo, porque foi tanta a violência, agora a violação é diária, a violação é normal” – responde Van Woudenberg.“As mulheres são sempre violadas nas guerras, qual é a diferença aqui?” – pergunta Cooper. “Acho que o que é diferente no Congo é a sua magnitude e natureza sistemática e também, claro, a brutalidade. Não se trata de violar porque os soldados estão chateados e não têm nada para fazer. É uma maneira de assegurar que as comunidades aceitam o poder e a autoridade de um grupo armado concreto. É uma demonstração de horror. É a utilização da violação como arma de guerra” – explica Van Woudenberg.


É difícil imaginar que esta guerra ocorre no meio de uma beleza natural e de uma abundância tão impressionantes. Depois de décadas de ditadura e corrupção, o país está de rastos. A maior parte da luta e das violações acontece em áreas remotas de difícil acesso. Cooper e a sua equipa dirigem-se a Walungu, uma aldeia isolada nas montanhas do leste do Congo. Há anos que grupos armados combatem nesta região, milhares de homens saem da floresta para aterrorizar as aldeias e roubar mulheres. O governo do Congo parecer ser incapaz ou não ter vontade de os deter. Uma semana antes deles chegarem houve três ataques durante os quais mulheres foram violadas. A vítima mais jovem tinha apenas seis anos. Em algumas aldeias 90% das mulheres foram violadas. Em geral, os homens das aldeias não têm armas e não podem defender-se. Em Walungu a equipa encontrou Lucienne M’Maroyhi, de 24 anos. Lucienne estava em casa uma noite com as duas filhas e o irmão mais novo quando seis soldados entraram à força. Ataram-na e começaram a violá-la, um de cada vez. “Eu estava deitada no chão e eles deram uma lanterna ao meu irmão para que ele os pudesse ver a violar-me” – recorda Lucienne. “Disseram ao seu irmão para segurar na lanterna?” – pergunta Cooper. “Sim” – responde ela. “Violaram-me como animais, um atrás do outro. Quando um acabava, lavavam-me com água e levantavam-me para que o seguinte me pudesse violar”. Lucienne estava convencida que a iam matar, tal como os soldados que tinham assassinado os seus pais um ano antes. No entanto, eles voltaram-se para o seu irmão. “Queriam que ele me violasse, mas ele recusou-se a fazê-lo e disse-lhes ‘não posso, não posso violar a minha irmã’. Então sacaram as suas facas e apunhalaram-no, matando-o à minha frente”. Depois arrastaram Lucienne pela floresta até ao campo dos soldados. Fizeram dela escrava e foi violada todos os dias durante oito meses. Esteve todo esse tempo sem saber onde estavam as filhas. “Sabia se estavam mortas ou vivas?” – pergunta Cooper. “Pensei que eles as tinham matado. Achei que já não as voltaria a ver vivas” – responde Lucienne. Finalmente, Lucienne conseguiu fugir. Quando voltou à sua aldeia soube que as filhas estavam vivas e também que estava grávida. No ventre levava o filho de um dos seus violadores. O marido de Lucienne abandonou-a. É o que acontece às mulheres que sobrevivem às violações no Congo. “Costumava pensar que quando os homens fugiam, eram irresponsáveis, mas agora vejo as coisas de outra maneira” – diz o Doutor Mukwege a Cooper. “Não fogem porque as suas mulheres foram violadas, mas porque sentem que também eles foram violados. Eles foram traumatizados… humilhados… porque não foram capazes de proteger as mulheres e os filhos”. “Quando uma mulher é violada, não é só ela a violada. A comunidade inteira é destruída” – afirma Judithe Registre, da organização “Women for Women” (Mulheres para Mulheres) que mantém grupos de apoio para as sobreviventes de violações. “Quando eles levam uma mulher para a violar, obrigam a família a assistir, forçam outros membros da comunidade a serem testemunhas. Obrigam-nos a ver. Isto significa que quando tudo termina, é a vergonha total para a mulher violada, por ter sido violada à frente de tanta gente” – diz Registre.Muitas das mulheres do hospital do Doutor Mukwege não só são consideradas culpadas pelo que lhes aconteceu, como são também evitadas por medo que tenham contraído VIH e porque as violações foram tão violentas que já não conseguem controlar as suas necessidades. O Doutor Mukwege diz que faz umas cinco operações ao dia. Frequentemente as suas pacientes tinham objectos na vagina, como garrafas partidas e baionetas. Algumas mulheres são alvejadas entre as pernas pelos violadores. “Porque fazem isso? Porque disparam dentro de uma mulher?” – pergunta Cooper. “Ao princípio eu perguntava-me o mesmo. É uma demonstração de força, de poder, fazem-no para destruir a pessoa. O sexo é usado para fazer mal. As pessoas fogem, convertem-se em refugiados. Não conseguem ajuda, ficam desnutridas e a doença acaba por matá-las” – conta o Doutor Mukwege. Para estas mulheres o Doutor Mukwege é tanto um curandeiro como um conselheiro. Dunia Karani é órfã, tem poliomielite e não pode andar, no entanto isto não impediu que os soldados a violassem. Agora está grávida e não sabe o que vai fazer. Quando perguntamos ao Doutor Mukwege o que é que ele pode dizer a uma jovem sobre o seu futuro, ele responde: “O mais difícil é quando não posso fazer nada. Quando vejo uma jovem bonita de 16 anos, que tem tudo destruído, e lhe digo que tenho que lhe pôr um saco de colostomia… é difícil”. Apesar de todas estas dificuldades, a maioria das vezes o Doutor Mukwege é capaz de reparar o dano feito nos corpos destas mulheres. Elas vêem-no como milagreiro, como um homem único no qual podem confiar. Enquanto o Doutor Mukwege guia Cooper pelas salas do hospital uma das suas paciente faz-lhe um sinal positivo com os polegares. “Agora ela está muito feliz, muito feliz” – diz ele. Este gesto não só lhe dá esperança, mas também força para continuar com o seu trabalho.Força é algo que falta a poucas mulheres no Congo. Elas carregam pesos, cultivam os campos e mantêm a suas famílias unidas, no entanto parece que não se faz nada para as proteger. A guerra está tão espalhada que cada vez mais as violações são cometidas por civis. Alguns cartazes, já meio apagados, lembram aos homens que a violação é um erro, mas há pouca evidência que as autoridades congolesas levem o problema a sério. No escritório do delegado do Ministério Público as queixas amontoam-se. Disseram-nos que um suborno de 10 dólares pode conseguir que se investigue uma acusação de violação, mas poucos casos chegam a tribunal. Pedimos ao delegado que nos mostre a prisão para ver quantos violadores estavam realmente presos, mas quando chegámos tivemos uma surpresa. A prisão não é fechada, os guardas prisionais foram postos na rua e os presos controlam tudo. “O sistema judicial está de rastos no Congo” – afirma Van Woudenberg, a investigadora de direitos humanos. “Posso contar com os dedos de uma mão o número de casos que chegaram a julgamento. Na prática aqui quem viola e mata fica impune. As possibilidades de detenção são nulas.”Até pode ser que não haja justiça no Congo, mas há organizações a tentar ajudar as sobreviventes de violação a pôr-se de pé novamente. A organização Mulheres para Mulheres ensina as sobreviventes a fazer sabão, a cozinhar, coisas com as quais podem ganhar dinheiro. Também aprendem a ler e a escrever. Para muitas destas mulheres é a primeira vez que estão numa sala de aula. É a sua oportunidade para uma vida nova. Lembram-se de Lucienne M’Maroyhi? Aproveitou esta oportunidade. Espera poder abrir o seu próprio negócio um dia. Agora é mãe de uma bebé nascida há um ano. O pai é um dos violadores, um dos homens que mataram o seu irmão. A menina chama-se Sorte. “Escolhi o nome Sorte porque passei por muitas dificuldades” – explica Lucienne. “Podia ter sido assassinada na floresta, mas recuperei a minha vida. Tenho esperança”.Esperança é algo que não se esperaria que as mulheres do Congo tivessem, mas têm-na. Todas as manhãs no Hospital de Panzi reúnem-se para levantar a sua voz, cantando, numa missa. “Os nossos sofrimentos na terra, serão aliviados no céu”.Parece que é demasiado pedir alívio no Congo.



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