entrevista Immanuel Wallerstein 08/02/08
Brasil de Fato- As eleições nos Estados Unidos podem alterar a política externa do país?Immanuel Wallerstein - A política externa terá um estilo bem diferente, mas o que será diferente substancialmente ainda está indefinido. Os Estados Unidos estão numa situação de muitas dificuldades no Oriente Médio, dificuldades que os EUA têm criado para si mesmo. Basicamente, Bush colocou os EUA num pântano, e qualquer maneira de sair dele será negativa para o país. Por isso, a incerteza de o que fazer. Não está claro para mim que algum candidato democrata tenha uma alternativa clara para oferecer.O senhor avalia que nessas eleições a questão econômica está concentrando maior atenção dos candidatos do que nas anteriores?A questão econômica tem se tornado muito central nos EUA em função da recessão em que o país e o mundo estão entrando. Mas não é a primeira vez que a questão econômica é central numa eleição. Na verdade, é muito comum que os eleitores dos EUA se preocupem mais com assuntos econômicos do que assuntos relacionados à política externa.Os presidenciáveis estão fazendo discursos críticos em relação aos acordos de livre comércio. Há espaço para alterar a economia do país?á um protecionismo crescente dentro dos EUA precisamente por causa da recessão, que vem depois de um longo período de perda de empregos na indústria para outros países. Acredito que o livre comércio não será o principal tema na próxima administração estadunidense, já que não haverá apoio no Congresso para isso.
O senhor sustenta que o império estadunidense está em decadência. A crise econômica pela qual o país passa hoje é um sinal disso?É claro. O que Bush fez, com seu programa duplo de corte de impostos para os ricos e o excesso de gastos para as guerras do Iraque e Afeganistão, foi prolongar a posição do país na economia mundial além do que poderia sustentar. Em função disso ele tem naufragado os dois últimos amparos do poder geopolítico dos EUA. Agora, o dólar vai deixar de ser a única moeda corrente nas reservas dos países do mundo. E as forças armadas têm demonstrado que, com todo o seu maquinário, podem não vencer uma guerra contra uma resistência um pouco fraca, mas popular.Com o possível triunfo dos democratas nas próximas eleições, que mudanças podem acontecer?lhe ofereço uma analogia brasileira. Em 2002, Lula e o PT sucederam Fernando Henrique Cardoso. Em 2009, um Democrata (Hillary Clinton ou Barack Obama) vai suceder George W. Bush. O democrata vai, provavelmente, trazer tão poucas mudanças quanto Lula.Existe a possibilidade de haver uma guerra contra o Irã? Em caso afirmativo, quais seriam as conseqüências geopolíticas?O debate sobre Irã é mais ou menos exagerado. Aqueles dentro da administração Bush que são a favor da guerra (o vice-presidente Dick Cheney e os neoconservadores) perderam para os "realistas" (Condoleezza Rice e Robert Gates) que se opõem à guerra. Os realistas têm argumentado que uma guerra contra o Irã pode ser um fiasco ainda maior do que a invasão do Iraque, e que os EUA simplesmente não têm as tropas e as finanças para esta ação. Então, meu prognóstico sobre a guerra com o Irã é que nada vai mudar até o próximo ano. Bush vai fazer declarações, Ahmaninejad [Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã] também. E nada acontecerá.Qual será a política adotada para o Iraque?já disse que não há uma boa política para os EUA no Iraque, para o seu ponto de vista. Então continuará a hesitação. Eu acho que o que pode acontecer é o nascimento de uma aliança nacionalista no Iraque, entre as forças sunitas, sadristas e outros grupos xiitas, em torno de um tema comum, exigindo que os EUA retirem todas as suas tropas e as suas bases. De fato, os iraquianos vão retirar os estadunidenses antes que eles tomem a decisão de se retirar.E em relação aos imigrantes, como deve ser a política (tanto dos republicanos quanto dos democratas). Devem manter o cerco aos latinos?tema da imigração é como a questão do Irã. Vai continuar havendo muita gritaria em todos os lados, e nada vai acontecer. Os imigrantes vão continuar a entrar no país, legal e ilegalmente. Os imigrantes ilegais não vão se tornar cidadãos, mas eles não vão ser expulsos. Nesse momento, é totalmente impossível se votar alguma legislação relacionada às questões da imigração.
Quais são as relações dos democratas com os grandes grupos econômicos?Os democratas têm, sempre tiveram, e vão continuar tendo relação com facções das grandes corporações. Em relação à energia, os Estados Unidos irão continuar impulsionando o etanol e buscando petróleo na África?
A política de energia é um dos assuntos menos claros entre as políticas dos EUA, porque as forças internas são muito divididas em relação a esse assunto. Os políticos dos EUA continuam demandando que o país seja menos dependente da importação de energia. Eu penso que, pelo contrário, os EUA vão, provavelmente, se tornar mais dependentes no futuro do que já são hoje em dia. (TM)
Quais são as relações dos democratas com os grandes grupos econômicos?Os democratas têm, sempre tiveram, e vão continuar tendo relação com facções das grandes corporações. Em relação à energia, os Estados Unidos irão continuar impulsionando o etanol e buscando petróleo na África?
A política de energia é um dos assuntos menos claros entre as políticas dos EUA, porque as forças internas são muito divididas em relação a esse assunto. Os políticos dos EUA continuam demandando que o país seja menos dependente da importação de energia. Eu penso que, pelo contrário, os EUA vão, provavelmente, se tornar mais dependentes no futuro do que já são hoje em dia. (TM)
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