Social-democracia alemã quer renovar diálogo com América Latina 06/05/08
Social-democracia alemã busca novos caminhos de diálogo com a América Latina. Complexa relação entre segurança enérgetica e proteção climática aumenta influência internacional da região.As possibilidades de criação de uma parceria estratégica entre Europa, América Latina e Caribe foram tema central da conferência “Responsabilidades compartidas para um futuro compartido", organizada pelo Partido Social Democrata (SPD) alemão nesta segunda-feira (05/05) em Berlim.O evento, segundo o presidente do partido, Kurt Beck, foi uma oportunidade de discutir os diversos pontos de partida das duas regiões, visando a um diálogo que permita desenvolver uma política de base crítica, socialmente justa, ecologicamente sustentável e solidária.Segundo o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, entre os pontos-chaves de uma nova relação bilateral com a América Latina está a cada vez mais complexa relação entre segurança energética, meio ambiente e proteção ao clima. “Está claro que a América Latina desempenha um papel cada vez mais importante nestes três âmbitos, não só por ser uma região rica em matéria-prima, mas por pertencer às áreas mais vulneráveis da Terra devido à região amazônica”, explica.Além disso, adverte que as relações com Cuba representam um verdadeiro desafio e cobram mais engajamento em vez de apenas críticas. “Está claro que Cuba não virou uma democracia da noite para o dia com Raúl Castro. Por outro lado, não devemos menosprezar as pequenas e cuidadosas aberturas econômicas e sociopolíticas desde a troca de poder.”
Para Kurt Beck, Europa e América Latina deveriam trabalhar conjuntamente para reverter os equívocos neoliberais das duas últimas décadas, que contribuíram para que a América Latina continuasse registrando as maiores desigualdades sociais do mundo em relação à distribuição de renda e propriedade.Isso significaria acelerar a reforma das Nações Unidas e de seu Conselho de Segurança, bem como do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, a fim de garantir uma maior representação dos interesses de países emergentes, aumentando sua influência e seu poder de decisão.Beck se manifestou a favor da assinatura de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia, o que “criaria não apenas a maior zona inter-regional de livre comércio do mundo, mas também seria um modelo de parceria igualitária e desenvolvimento sustentável”.No entanto, o ministro Steinmeier advertiu que o sucesso de tal acordo vai depender das decisões tomadas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). “Não avançaremos enquanto não soubermos os rumos das negociações da OMC”, disse.O argentino Carlos Álvarez, presidente da Secretaria de Representantes Permanentes do Mercosul (SRPM), salientou que reparar os erros cometidos pela globalização desenfreada significa, antes de tudo, criar parâmetros comerciais mais justos. “É evidente que há um padrão duplo entre aqueles que propagam a panacéia do livre comércio e depois acabam protegendo e subsidiando seus próprios mercados”, criticou.
Para Álvarez, falar em uma “parceria estratégica” só se tornou possível após certos desdobramentos recentes. O principal deles é a recente guinada política por que passou o continente e a mudança fundamental da concepção de esquerda, que ”antes não sabia governar e basicamente se especializava na contestação social”.Segundo ele, a região não vive uma época de mudança, mas uma mudança de época. “Estamos tentando deixar para trás as décadas de 80 e 90, que foram marcadas pela dívida externa e hipotecaram parte de nosso futuro, impedindo o desenvolvimento de modelos de crescimento de maior justiça social”, explica.O “liberalismo selvagem” teria debilitado os Estados, abrindo indiscriminadamente as economias e implantando um processo de privatização prejudicial aos interesses da maioria, que levou à precarização do trabalho e gerou ainda mais desigualdade e pobreza.O triunfo das forças progressistas, no entanto, abriu caminho para a consolidação do sistema democrático. “Falar em consolidação democrática na América Latina é transcendental, pois todo o nosso continente foi atravessado por um alto nível de instabilidade política, com conflitos e crises sendo resolvidos por militares. Hoje não deixamos de ter conflitos, mas as crises se processam dentro de canais institucionais e da ordem democrática.”Além disso, as democracias passaram a atender à demanda dos cidadãos, que exigem que o crescimento econômico resulte na inclusão social e na construção de modelos sociais mais justos. “Pois o abismo entre os que muito acumulam e os excluídos acaba por deslegitimar o sistema democrático e permite as aventuras populistas e os avanços da direita.”
Mas não só os países latinos têm seu papel a cumprir: “A Europa deveria observar cuidadosamente as trajetórias políticas de cada país, pois o colapso das elites econômicas e políticas leva à queda de instituições e partidos, gerando processos conflituosos e abertos. Se não os olharmos com mais profundidade, tendemos à desqualificação imediata. Simplificar a América Latina, dizendo que está de volta o populismo, é não compreender o que acontece.”
Para Kurt Beck, Europa e América Latina deveriam trabalhar conjuntamente para reverter os equívocos neoliberais das duas últimas décadas, que contribuíram para que a América Latina continuasse registrando as maiores desigualdades sociais do mundo em relação à distribuição de renda e propriedade.Isso significaria acelerar a reforma das Nações Unidas e de seu Conselho de Segurança, bem como do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, a fim de garantir uma maior representação dos interesses de países emergentes, aumentando sua influência e seu poder de decisão.Beck se manifestou a favor da assinatura de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia, o que “criaria não apenas a maior zona inter-regional de livre comércio do mundo, mas também seria um modelo de parceria igualitária e desenvolvimento sustentável”.No entanto, o ministro Steinmeier advertiu que o sucesso de tal acordo vai depender das decisões tomadas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). “Não avançaremos enquanto não soubermos os rumos das negociações da OMC”, disse.O argentino Carlos Álvarez, presidente da Secretaria de Representantes Permanentes do Mercosul (SRPM), salientou que reparar os erros cometidos pela globalização desenfreada significa, antes de tudo, criar parâmetros comerciais mais justos. “É evidente que há um padrão duplo entre aqueles que propagam a panacéia do livre comércio e depois acabam protegendo e subsidiando seus próprios mercados”, criticou.
Para Álvarez, falar em uma “parceria estratégica” só se tornou possível após certos desdobramentos recentes. O principal deles é a recente guinada política por que passou o continente e a mudança fundamental da concepção de esquerda, que ”antes não sabia governar e basicamente se especializava na contestação social”.Segundo ele, a região não vive uma época de mudança, mas uma mudança de época. “Estamos tentando deixar para trás as décadas de 80 e 90, que foram marcadas pela dívida externa e hipotecaram parte de nosso futuro, impedindo o desenvolvimento de modelos de crescimento de maior justiça social”, explica.O “liberalismo selvagem” teria debilitado os Estados, abrindo indiscriminadamente as economias e implantando um processo de privatização prejudicial aos interesses da maioria, que levou à precarização do trabalho e gerou ainda mais desigualdade e pobreza.O triunfo das forças progressistas, no entanto, abriu caminho para a consolidação do sistema democrático. “Falar em consolidação democrática na América Latina é transcendental, pois todo o nosso continente foi atravessado por um alto nível de instabilidade política, com conflitos e crises sendo resolvidos por militares. Hoje não deixamos de ter conflitos, mas as crises se processam dentro de canais institucionais e da ordem democrática.”Além disso, as democracias passaram a atender à demanda dos cidadãos, que exigem que o crescimento econômico resulte na inclusão social e na construção de modelos sociais mais justos. “Pois o abismo entre os que muito acumulam e os excluídos acaba por deslegitimar o sistema democrático e permite as aventuras populistas e os avanços da direita.”
Mas não só os países latinos têm seu papel a cumprir: “A Europa deveria observar cuidadosamente as trajetórias políticas de cada país, pois o colapso das elites econômicas e políticas leva à queda de instituições e partidos, gerando processos conflituosos e abertos. Se não os olharmos com mais profundidade, tendemos à desqualificação imediata. Simplificar a América Latina, dizendo que está de volta o populismo, é não compreender o que acontece.”
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