entrevista Chalmers Johnson 24/06/08

Chalmers Johnson: Naturalmente! Como disse Lord Byron, “Eu os teria poupado se pudesse”. Quero dizer, gosto de viver aqui. Mas penso que estamos tendendo para a situação em que estava a União Soviética em 1985. Seu tivesse dito então que os soviéticos estavam a cinco anos de distância da extinção, você teria dito que passei demasiado tempo inalando substâncias exóticas em torno de Berkeley.LA Weekly: O que provocou a sua mudança política?Chalmers Johnson: Depois de os soviéticos, que eu pensei serem uma ameaça real, terem entrado em colapso, eu esperava uma muito maior desmobilização, uma retirada de tropas americanas, um dividendo de paz real, uma reorientação de despesas federais para necessidades internas. Ao invés disso, o nosso governo procurou imediatamente encontrar um inimigo substitutivo: a China, drogas, terrorismo, instabilidade. Qualquer coisa que justificasse este enorme aparelho da estrutura da Guerra Fria.


Chalmers Johnson: Por um império americano quero dizer as 725 bases militares em 138 países estrangeiros que circulam o globo, desde a Groenlândia à Ásia, do Japão à América Latina. Isto é uma espécie de base mundial — um mundo secreto, fechado, separado, onde o nosso meio milhão de soldados, empreiteiros e espiões vive bastante confortavelmente por todo o planeta. Penso que é um império. Concordo em que a unidade do imperialismo europeu era a colônia. A unidade do imperialismo americano é a base militar.LA Weekly: Estas bases americanas são uma excrescência da política de contenção americana do tempo da Guerra Fria. Qual é o seu papel agora? Elas são apenas gordura? Ou estão ali para defender o investimento dos EUA?Chalmers Johnson: O que elas não fazem é defender a segurança dos EUA. Elas simplesmente cresceram, tenham ou não tido valor estratégico. Hoje temos 101 bases na Coréia, apesar de a guerra ter acabado há mais de 50 anos. Uma vez criadas, os militares são infindavelmente criativos em descobrir novas funções para elas, muito tempo depois de o seu valor real ter-se evaporado. Estas bases mundiais tornam-se parte dos interesses estabelecidos que associamos não com segurança e sim com militarismo, o perigo do complexo militar-industrial contra o qual Eisenhower nos advertiu.LA Weekly: Está dizendo que o incentivo real, aqui, é mais a autoperpetuação da burocracia militar ao invés de alguma grande estratégia lógica?Chalmers Johnson: Exato. Penso que Eisenhower estava certo quando dizia não reconhecer o poder injustificado da indústria de armamento. Você sabe, cada peça do bombardeiro B-2 é construída em cada um dos estados continentais.LA Weekly: Quais são os custos deste império para a democracia e a república?Chalmers Johnson: Há o custo literal. Estamos namorando a bancarrota. Não estamos pagando o que é, agora, uma conta de US$ 750 bilhões. A apropriação da defesa é cerca de US$ 420 bilhões. Isto não inclui outros US$ 125 bilhões, que é o custo do Afeganistão e do Iraque. Ainda há outros US$ 20 bilhões para armas nucleares no Departamento de Energia. Acrescente outros US$ 200 bilhões ou mais para pensões militares e para benefícios de saúde dos nossos veteranos. Tudo junto, isto significa três quartos de um trilhão de dólares.Estamos colocando isto na conta, incorrendo em um dos mais extraordinários orçamentos e déficits comerciais da história. Se os banqueiros da Ásia e do Japão se cansassem de financiá-los, se eles perceberem que o euro agora é mais forte do que o dólar, então acaba tudo isto. Enfrentaríamos uma crise terrível.O maior custo é o que o público perderá, se já não o perdeu: a república, a defesa estrutural das nossas liberdades, a separação de poderes a fim de bloquear o crescimento de uma presidência ditatorial.LA Weekly: Mas a história americana não começou em 20 de janeiro de 2001, ou no 11 de setembro. Será que muito daquilo que descreve não é uma situação que data de pelo menos há um século ou mais? Por que lançar as culpas de tudo isto sobre George W. Bush?Chalmers Johnson: Sim, isto remonta há muito — a Teddy Roosevelt a adquirir colônias à Espanha. Mas Bush arrancou a máscara. Ele chegou e disse que somos uma Nova Roma, não precisamos da ONU ou de quaisquer amigos. Agora colocamos países a bater em listas. Certamente, se houvesse algum comitê de direção de um projeto imperial americano ele consideraria Bill Clinton um presidente imperial muito melhor do que George W. Bush. É sempre melhor estratégia não mostrar a sua mão, adotar uma abordagem indireta mas saber exatamente para onde está indo.LA Weekly: Numa recente revisão do seu livro, o escritor de esquerda Ian Williams reprova-o por acreditar demasiado na maldade dos bushistas. Williams argumenta que, ao olhar o Iraque, alguém pode concluir que ao invés de grandes imperialistas os rapazes de Bush são, ao contrário, trapalhões espetaculares.Chalmers Johnson: Bem, não há dúvida que eles trabalharam mal no Iraque, desde não utilizar suficientes tropas a interpretar mal a inteligência, e há mais evidências disto todos os dias. Mas nunca houve um plano para deixar o Iraque porque não há intenção de deixar o Iraque. Estamos atualmente construindo 14 bases ali. Dick Cheney não pode imaginar abandonar aquele petróleo. E os militares não podem imaginar abandonar aquelas bases. Eis porque eles não podem propor um plano para deixá-las.LA Weekly: Mas as políticas de Bush têm provocado retrocessos (backlashes) internacionais e internos. Isto o torna esperançoso?Chalmers Johnson: O sistema político por si só já não pode salvar a república. Mesmo que o Congresso queira exercer supervisão real, como pode ele fazê-lo quando quarenta por cento do orçamento militar é secreto? Tudo no orçamento da inteligência é secreto. O único sinal de esperança que eu vi foi há um ano atrás, quando dez milhões de pessoas manifestaram-se nas ruas pela paz. Também vimos as recentes eleições na Espanha como resposta ao que está acontecendo. Se pudermos ver isto agora nos EUA, no Reino Unido, na Itália, então talvez possamos ter esperança. Senão, logo estaremos conversando acerca da curta vida feliz da república americana.

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