Por que a imprensa não derrubou o Lula
A grande imprensa comercial-burguesa - constituída pelos principais jornais, revistas e emissoras de rádio e TV do Brasil - costuma ser muito poderosa, influencia a maior parte da população, promove e destrói reputações rapidamente, ajuda a disseminar os valores liberais e os padrões de consumo e quase sempre está envolvida diretamente nas eleições para apoiar os candidatos mais conservadores e mais identificados com o capitalismo. No atual processo eleitoral, no entanto, o poder da grande imprensa sofreu um baque diante da reeleição de Lula, já que o candidato do PT foi alvo de forte bombardeio e se manteve no topo das pesquisas de indicação de voto. Vários estudiosos, pesquisadores, jornalistas e cientistas políticos trataram de analisar esse "fenômeno", que coloca em xeque as teorias da comunicação de massa e a força dos oligopólios que controlam as mídias no Brasil.
A história recente do País tem sido fértil em situações de intensa manipulação dos meios de comunicação e de resultados corrosivos para a sociedade. A mídia comercial-burguesa criou a figura do "caçador de marajás" em 1989 e encheu a bola de Fernando Collor de Mello até que ele pudesse derrotar a forte liderança operária de Lula e o movimento popular que o apoiava. A aventura da mídia burguesa e das elites deu no que deu. Da mesma forma, a grande imprensa embarcou com tudo na candidatura de Fernando Henrique Cardoso em 1994, articulou com ele a reeleição de 1998 e retirou de circulação qualquer notícia que pudesse prejudicar aquela candidatura. Em 2002, mesmo sendo simpática a José Serra, a mídia equilibrou a cobertura depois que o candidato Lula assegurou, em documento firmado, que não tocaria nos postulados do neoliberalismo e nem confrontaria o poder dos oligopólios privados. No último ano, no entanto, o partido de Lula e seu governo foram violentamente atingidos pelos escândalos do "mensalão", do "valerioduto", do "caixa-dois" e dos "sanguessugas". Esses episódios serviram de pretexto para que boa parte da imprensa liberal-burguesa cerrasse baterias permanentes contra a reeleição de Lula, com ataques constantes nos principais jornais e revistas, e com reprodução variada nos meios eletrônicos. Diante do assalto midiático, apoiadores de Lula e analistas simpáticos ao governo do PT, passaram a interpretar o "fenômeno" (o poder da mídia não derrubou Lula nas pesquisas eleitorais) com várias hipóteses, desde o efeito do programa Bolsa-Família na população de baixa renda, a melhoria das condições de vida da população pobre e miserável, a ação concreta dos projetos sociais até o descolamento da figura do presidente em relação às denúncias de corrupção. Parece evidente que as mazelas éticas realmente não colaram em Lula, e se colaram não foram suficientes para mudar a posição do eleitorado sobre o candidato; aparentemente parcela da população considerou as denúncias menos relevantes do que a substituição de Lula por outra candidatura não representativa; ou, ainda, que é preferível seguir com Lula (mesmo que tenha culpa nas denúncias) do que retroceder ao conservadorismo do PSDB/PFL ou arriscar com algo desconhecido e incerto. É possível compreender um pouco sobre o "fenômeno" se a análise levar em consideração que as elites políticas já vinham operando, desde o início do governo Lula, no sentido de afastar o presidente da área de influência dos setores da esquerda, partidária ou não, de tal forma que ele pudesse levar adiante as políticas que interessam às classes dominantes. No processo eleitoral, essa operação teve seqüência na composição dos governos estaduais e das bancadas para o Congresso Nacional, ambos controlados pelos setores de direita. Essas alianças ligadas aos oligopólios regionais de comunicação conseguiram diminuir o impacto dos ataques provenientes da grande imprensa nacional, na medida em que não reproduziram nos estados e nos meios eletrônicos locais a bateria de ataques, inclusive porque os grupos conservadores de vários estados participaram aberta ou camufladamente da campanha de Lula. Assim, mesmo que as políticas sociais tenham proporcionado dividendos eleitorais para Lula, mesmo que os pobres tenham forte identificação com o presidente, mesmo que o carisma de Lula supere todo o desgaste do PT e do governo, está claro que o prestígio e a imagem de Lula não foram arrasados pela mídia porque as forças conservadoras de vários estados pegaram uma boa carona na campanha da reeleição. Lula provavelmente vai eleger mais gente de direita - dos vários partidos - do que de sua própria base social original popular e de esquerda. Nesse sentido, a manobra da grande imprensa contra Lula obteve sucesso no processo eleitoral, porque afastou do governo e do PT uma boa parcela da classe média, jogando-a no colo do conservadorismo, enquanto as oligarquias regionais se encarregaram de capturar na massa pobre e carente do Bolsa-Família os votos cativos do lulismo. Agora resta saber qual será a conta que as oligarquias vão entregar no Palácio do Planalto. Quem vai pagar, com certeza, será o povo brasileiro. Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor universitário.
A história recente do País tem sido fértil em situações de intensa manipulação dos meios de comunicação e de resultados corrosivos para a sociedade. A mídia comercial-burguesa criou a figura do "caçador de marajás" em 1989 e encheu a bola de Fernando Collor de Mello até que ele pudesse derrotar a forte liderança operária de Lula e o movimento popular que o apoiava. A aventura da mídia burguesa e das elites deu no que deu. Da mesma forma, a grande imprensa embarcou com tudo na candidatura de Fernando Henrique Cardoso em 1994, articulou com ele a reeleição de 1998 e retirou de circulação qualquer notícia que pudesse prejudicar aquela candidatura. Em 2002, mesmo sendo simpática a José Serra, a mídia equilibrou a cobertura depois que o candidato Lula assegurou, em documento firmado, que não tocaria nos postulados do neoliberalismo e nem confrontaria o poder dos oligopólios privados. No último ano, no entanto, o partido de Lula e seu governo foram violentamente atingidos pelos escândalos do "mensalão", do "valerioduto", do "caixa-dois" e dos "sanguessugas". Esses episódios serviram de pretexto para que boa parte da imprensa liberal-burguesa cerrasse baterias permanentes contra a reeleição de Lula, com ataques constantes nos principais jornais e revistas, e com reprodução variada nos meios eletrônicos. Diante do assalto midiático, apoiadores de Lula e analistas simpáticos ao governo do PT, passaram a interpretar o "fenômeno" (o poder da mídia não derrubou Lula nas pesquisas eleitorais) com várias hipóteses, desde o efeito do programa Bolsa-Família na população de baixa renda, a melhoria das condições de vida da população pobre e miserável, a ação concreta dos projetos sociais até o descolamento da figura do presidente em relação às denúncias de corrupção. Parece evidente que as mazelas éticas realmente não colaram em Lula, e se colaram não foram suficientes para mudar a posição do eleitorado sobre o candidato; aparentemente parcela da população considerou as denúncias menos relevantes do que a substituição de Lula por outra candidatura não representativa; ou, ainda, que é preferível seguir com Lula (mesmo que tenha culpa nas denúncias) do que retroceder ao conservadorismo do PSDB/PFL ou arriscar com algo desconhecido e incerto. É possível compreender um pouco sobre o "fenômeno" se a análise levar em consideração que as elites políticas já vinham operando, desde o início do governo Lula, no sentido de afastar o presidente da área de influência dos setores da esquerda, partidária ou não, de tal forma que ele pudesse levar adiante as políticas que interessam às classes dominantes. No processo eleitoral, essa operação teve seqüência na composição dos governos estaduais e das bancadas para o Congresso Nacional, ambos controlados pelos setores de direita. Essas alianças ligadas aos oligopólios regionais de comunicação conseguiram diminuir o impacto dos ataques provenientes da grande imprensa nacional, na medida em que não reproduziram nos estados e nos meios eletrônicos locais a bateria de ataques, inclusive porque os grupos conservadores de vários estados participaram aberta ou camufladamente da campanha de Lula. Assim, mesmo que as políticas sociais tenham proporcionado dividendos eleitorais para Lula, mesmo que os pobres tenham forte identificação com o presidente, mesmo que o carisma de Lula supere todo o desgaste do PT e do governo, está claro que o prestígio e a imagem de Lula não foram arrasados pela mídia porque as forças conservadoras de vários estados pegaram uma boa carona na campanha da reeleição. Lula provavelmente vai eleger mais gente de direita - dos vários partidos - do que de sua própria base social original popular e de esquerda. Nesse sentido, a manobra da grande imprensa contra Lula obteve sucesso no processo eleitoral, porque afastou do governo e do PT uma boa parcela da classe média, jogando-a no colo do conservadorismo, enquanto as oligarquias regionais se encarregaram de capturar na massa pobre e carente do Bolsa-Família os votos cativos do lulismo. Agora resta saber qual será a conta que as oligarquias vão entregar no Palácio do Planalto. Quem vai pagar, com certeza, será o povo brasileiro. Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor universitário.
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