*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Thursday, December 14, 2006

PÂNICO, GUERRA E SEMIO-KAPITAL





A globalização se encontra reenquadrada sob a luz negra da guerra global. Isso significa que necessitamos reconceituar a mudança que está ocorrendo na forma social, econômica e antropológica da globalização. Durante os últimos dois séculos, o controle global era a tecno-utopia geral da sociedade capitalista e da cultura moderna. Agora, se foi o tempo do controle global. Hoje estamos totalmente fora deste esquema. O novo esquema reinante do capitalismo é o pânico global. Se quisermos entender o que significa pânico, precisamos falar da “economia da atenção” e do “trabalho digital”. É aí que está a fonte do pânico contemporâneo, na organização do tempo na esfera digital, na relação entre ciberespaço e cibertempo.
O que é pânico? Somos informados que psiquiatras recentemente descobriram e nomearam um novo tipo de desordem – eles a chamam de “Síndrome do Pânico”. Parece que uma forma comum de pânico, de “Síndrome do Pânico”, é algo bastante recente na auto-percepção psicológica dos seres humanos. Mas o que significa pânico?
Antes, “pânico” costumava ser uma boa palavra, e é neste sentido que o psicanalista suíço-americano James Hillman recorda em seu livro sobre Pã. Pã era o deus da natureza, o deus da totalidade. Na mitologia grega, Pã era o símbolo da relação entre o homem e a natureza.
Natureza é o fluxo esmagador da realidade, das coisas e da informação que nos cercam. A cultura moderna está baseada na idéia de dominação humana, da domesticação da natureza. Mas o sentimento original de pânico, que era algo bom para o mundo antigo, está se tornando cada vez mais assustador e destrutivo. Hoje, o pânico se tornou uma forma de psicopatologia. Podemos falar de pânico quando vemos um organismo consciente (individual ou social) sendo subjugado pela velocidade dos processos em que ele/ela/aquilo está envolvido e não tem tempo de processar a entrada de informação. Nestes casos o organismo, de repente, não é mais capaz de processar a abrupta quantidade de informação vindo para o seu campo cognitivo, ou mesmo aquela que está sendo gerada pelo próprio organismo.
Transformações tecnológicas deslocaram o foco da forma capitalista de organização da esfera da produção de bens materiais para a infosfera, a esfera dos bens semiológicos. Com isso, o Semio-Kapital se torna a forma geral da economia. A acelerada criação de mais-valia depende da aceleração da infosfera. A digitalização abre o caminho para este tipo de aceleração. Signos são produzidos e postos em circulação numa velocidade crescente mas o terminal humano do sistema (a mente incorporada) é colocado sob pressão crescente, e finalmente sofre colapso sob pressão. Creio que a atual crise econômica tem algo que ver com este desequilíbrio no campo da semio-produção e no campo da semio-demanda. Este desequilíbrio na relação entre a oferta de bens semióticos e o tempo socialmente disponível de atenção é o núcleo tanto da crise econômica quanto da crise intelectual e política que estamos sofrendo agora.
Podemos descrever esta situação nos termos da relação entre ciberespaço e cibertempo. O ciberespaço é a infinita produtividade da inteligência coletiva numa dimensão reticular. A potência do intelecto geral (General Intellect) é enormemente intensificada quando um grande número de pontos entram em conexões uns com os outros graças à rede telemática. Conseqüentemente, a info-produção é capaz de criar uma infinita oferta de bens mentais e intelectuais. Mas enquanto o ciberespaço é conceitualmente infinito, o cibertempo não é nada infinito. Chamo de cibertempo à habilidade de organismo consciente de realmente processar a informação (ciberespacial). Esta habilidade não pode ser indefinidamente expandida, por que ela tem limites que são físicos, emocionais, afetivos. A relação entre infinita expansão do ciberespaço e limitada capacidade de processamento do cibertempo se torna, em minha opinião, o mais importante problema na presente crise capitalista.
Durante o último ano fomos testemunhas de um tipo de quebra das telecomunicações. Corporações de telecomunicações investiram uma grande quantidade de dinheiro com o fim de comprar as freqüências de UMTS (Universal Mobile Telecommunications System - Sistema Universal de Telecomunicações Móveis). Grandes quantias de dinheiro também foram investidos na criação de infraestruturas técnicas como a rede de cabos de fibra ótica. Mas tudo isso não está realmente sendo usado. De acordo com o Financial Times (6 de setembro de 2001, “Information Glut”), só 2,5% da rede de cabos de fibra ótica existente estão sendo utilizados. O resto é fibra não-utilizada (fibra escura). No mesmo número do Financial Times aprendemos que só 3% da capacidade do sistema telefônico em todo o mundo é realmente usada.
Logo, o que podemos fazer quanto a isso?
Poderíamos lembrar que Karl Marx uma vez expressou o conceito de uma “crise de superprodução”. Vocês sabem o que isso significa. Tem-se uma crise de superprodução quando a maquinaria e a produção dos trabalhadores gera um montante de bens que o mercado não pode absorver. Durante a história do sistema industrial, a crise de superprodução foi recorrente, e o capitalismo levado a destruir bens, capacidade produtiva, e também a destruir vidas humanas, a fim de superar este tipo de crise econômica.
O que acontecerá agora? Deveríamos ver uma relação entre este grande desequilíbrio e a guerra que está assolando e obscurecendo o horizonte do mundo?
Voltemos ao conceito de pânico.
O Semio-Kapital está numa crise de superprodução, mas a forma desta crise não é apenas econômica, mas também psicopatológica. O Semio-Kapital, de fato, não diz respeito à produção de bens materiais, mas à produção de estimulação psíquica. O ambiente mental está saturado por signos que criam uma espécie de excitação contínua, uma permanente eletrocução, que leva tanto a mente individual como a coletiva a um estado de colapso.
O problema do pânico está geralmente conectado com o gerenciamento do tempo. Mas podemos ver também um lado espacial no pânico. Durante os últimos séculos, a construção do moderno ambiente urbano normalmente dependia do plano racionalista da cidade política. A ditadura econômica das últimas décadas acelerou o crescimento urbano. A interação entre a expansão ciberespacial e o ambiente físico urbano destruiu a organização racionalista do espaço.
Na intersecção da informação e do espaço urbano, vemos o proliferar de uma expansão caótica que não segue nenhuma regra, nenhum plano, ditada unicamente pela lógica do interesse econômico. O pânico urbano é causado pela percepção desta expansão e desta proliferação da experiência metropolitana. Nos tempos modernos, pelo menos desde a renascença italiana, o espaço costumava ser construído à imagem do kosmos (kosmos é ordem em grego). Agora, experienciamos a proliferação de lignes de fuite (linhas de fuga) espaciais, e o organismo social se sente perdido no espaço, incapaz de processar a esmagadoramente complexa experiência do caos metropolitano.
A metrópole é um excesso de complexidade no domínio territorial. A proliferação de linhas de comunicação criou um novo tipo de percepção caótica. Em seu livro A Economia da Atenção, Davenport e Beck dizem que o problema central do trabalhador cognitivo, e geralmente de pessoas que estão vivendo em ambientes informacionais hiper-saturados, é este: não temos mais tempo de atenção, não somos mais capazes de entender e processar a entrada de informação por que nosso tempo está saturado por um fluxo de hiper-informação.
Não temos tempo de atenção no lugar de trabalho. Somos forçados a processar quantidades de informação muito grandes e nosso corpo-mente está completamente tomado por isto. E mais, não temos tempo para a afeição, para a comunicação, para as relações eróticas. Não temos mais tempo para aquele tipo espacial de atenção que significa atenção ao corpo – ao nosso corpo, ao corpo do outro. Logo, mais e mais, sentimos que desperdiçamos tempo, que devemos acelerar. E sentimos simultaneamente que a aceleração leva a uma perda de vida, de prazer e de entendimento.
Este colapso na relação entre ciberespaço e cibertempo deve também ser visto como o caráter peculiar da atual situação política. O mundo está acelerando para uma guerra global cujas razões não estão claras, cujos limites não são conhecidos. Alguns estão falando de uma guerra de longa duração, possivelmente uma guerra inacabável.
Nonsense? Sim, nonsense. Mas ao mesmo tempo, esta guerra sem sentido é o mais alarmante sintoma da síndrome de pânico.
Collin Powell, alguns dias depois do 11/9, falou sobre os rumores de que os serviços de inteligência tinham recebido alguma informação sobre bombardeios e seqüestros de aviões antes do 11 de setembro.
“Sim, é verdade”, ele disse, “É verdade, tínhamos recebido informação sobre algo assim, recebemos informação sobre bombardeios e coisas do tipo. Mas sempre recebemos muitas informações que não somos capazes de processar ou mesmo de ver. Temos delas em excesso, este é o problema. Possuímos uma quantidade muito grande de informação”.
Este é precisamente o efeito da info-saturação, que é a consequência da ilimitada expansão do ciberespaço. Logo, o pânico de que falava está virando pânico social, e estamos entrando numa fase que me parece a fase da guerra do pânico.
De um lado, a guerra é uma maneira pela qual o Capital lida com os problemas econômicos da superprodução. Mas graças à guerra, a produção tecnológica atinge uma nova dimensão e o capital pode ser investido em armas e instrumentos de segurança, segurança e até mais segurança.
Por outro lado, a guerra é tornada inevitável pela confusão mental da classe dominante. Eles não entendem o que está acontecendo por que a realidade ficou muito complexa e muito agressiva. Então reagem de uma forma primária. A classe dominante do mundo está subjugada pela complexidade real do mundo que eles criaram para si mesmos. Não são mais capazes de entender e comandar de uma forma racional.
Logo, vejo dois aspectos na guerra. O primeiro é a reação clássica do sistema capitalista para a crise econômica da superprodução. “O capitalismo traz a guerra como a nuvem traz a tempestade”, dizia um velho sujeito chamado Lênin. A superprodução cria a necessidade por um novo tipo de uso de todas estas capacidades de produção, dos poderes intelectuais e da infra-estrutura tecnológica que estava sem uso. A militarização do intelecto geral é o principal perigo com que estamos lidando atualmente, a militarização da capacidade intelectual que tem sido criada pelo desenvolvimento da inteligência coletiva, e apoiada pelas tecnicalidades da Net.
Ao mesmo tempo, vejo outro aspecto da guerra do pânico. Refiro-me aqui à relação entre complexidade, mais propriamente a super-complexidade, do mundo atual e a pretensão de controle – isto é, a alegação de que a realidade pode ser reduzida à regras dos princípios econômicos capitalistas, e a pretensão adicional de que um governo imperial global pode administrar um mundo complexo que está escapando do domínio político e do controle econômico.
Em outras palavras, a relação entre regulações “econômicas “ e produção infinita, de produtividade, de inteligência em rede – este é o problema.
Deleuze e Guattari falam de caos em O que é a filosofia?, dizendo que o caos ocorre quando o mundo assalta o seu cérebro muito rapidamente. Isto é caos. Logo, o problema está na relação entre o cérebro e o mundo, entre cibertempo e ciberespaço.
Mas o problema, antes de tudo político, está na tentativa de governar ou regular esta relação. Se fingimos ser capazes, como o capitalismo quer que façamos, de controlar a infinita produtividade da inteligência reticular, entramos no mundo do pânico, em forma de pânico.
Mas vocês sabem, tenho boas notícias para todos nós. A ditadura liberal, de um lado, e seu irmão gêmeo, o fundamentalismo religioso, desterritorialização e reterritorialização, estão lançando uma guerra suicida. Parece que o pai de Osama Bin Laden e o pai do presidente George Bush (Jr.) são velhos amigos. É o que se comenta. Este é o fim. Este é o fim da ditadura neo-liberal. Vocês sabem, quando um gigante é bastante forte para ser vencido por alguém, só há uma maneira de vencer o gigante: opor a força do gigante contra ele mesmo. É isto que eles estão fazendo (contra eles mesmos). Aleluia!
E agora temos o problema do que precisa ser feito. É com um problema político que estamos lidando, e é um problema de auto-representação do trabalho mental, do intelecto geral.
O que deve ser feito? Eu diria que deveríamos transformar a guerra global num processo de secessão total do trabalho inteligente, intelectual.
Antes de tudo, temos de lançar o movimento global que começou em Seattle, em Gênova, numa nova fase. Temos de direcionar este movimento contra a militarização do trabalho mental.
Em segundo lugar, temos de destruir o preceito da conexão geral entre diferentes estratos afetivos e sociais de trabalho intelectual. Devemos violar o preceito e a guerra. Esta guerra, a guerra do pânico, está criando as condições para um movimento bem sucedido nesta direção.
Tradução de Ricardo Rosas
Fonte: Sarai (http://www.sarai.net/).

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