*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Monday, January 07, 2008

ao vivo do iraq.O mito das “lutas sectárias” no Iraque 07/01/08 Como sempre, a política dos ocupantes é: dividir para reinar


“Se os EUA saírem do Iraque, vai agravar-se o sectarismo violento entre sunitas e xiitas”. É isto que tanto democratas como republicanos nos querem levar a crer. É um elemento chave da retórica utilizada para justificar a continuação da ocupação do Iraque.Esta propaganda, como outras do mesmo jaez, só ganha consistência, substância e realidade devido à ignorância de quem a digere. A mistificação levada a cabo pelos médias do sistema sobre a questão do sectarismo no Iraque garantiu que a opinião pública toma por verdadeira a ideia de que os sunitas eos xiitas se destruirão mutuamente caso a ocupação venha a terminar.Talvez valha a pena recordar que, antes da invasão e da ocupação anglo-estadunidenses do Iraque, nunca houve guerra aberta entre esses dois grupos, muito menos uma guerra civil. Em termos de organização e de convenção [social], os iraquianos formam uma sociedade tribal e algumas das tribos maiores do país incluem sunitas e xiitas. E são também frequentes as relações intermatrimoniais entre pessoas das duas seitas.Logo que cheguei ao Iraque, em Novembro de 2003, verifiquei que era considerado má educação e socialmente reprovável fazer perguntas sobre a pertença sectária desta ou daquela pessoa. Se, por ignorância ou compulsão, eu fazia a pergunta, a resposta que habitualmente me davam era: “Sou muçulmano, sou iraquiano”. Por vezes havia respostas mais elucidativas, como a que me deu certa vez uma senhora idosa: “A minha mãe é xiita e o meu pai é sunita; poderá você dizer-me qual das minhas metades é o quê?” O sorriso com que o disse esclarecia tudo.Os grandes bairros misturados eram a norma em Bagdade. Sunitas e xiitas iam rezar nas mesquitas uns dos outros. Os iraquianos laicos podiam manter associações para toda a vida com outros, sem qualquer preocupação explícita acerca das respectivas opções sectárias. Como é que uma sociedade tão bem integrada mergulha, de repente, numa luta tão cruel, num sectarismo tão violento e na segregação dos bairros? Como explicar os milhões de iraquianos deslocados das suas residências simplesmente por pertencerem à seita errada, no momento errado e no lugar errado?
Nos idos de Dezembro de 2003, o sheikh Adnan, pregador das sextas-feiras na sua mesquita, tinha-me contado uma recente experiência. Nas primeiras semanas da ocupação, um comandante militar dos EUA aparecera em Baquba – a capital da província de Diyala, situada a uns cinquenta quilómetros a noroeste de Bagdade, com população misturada sunita-xiita. Pedira para ter um encontro com todos os líderes tribais e religiosos. No dia aprazado, os líderes reunidos ficaram perplexos quando o comandante lhes pediu para se separarem: “os xiitas de um lado da sala, os sunitas do outro lado”.Talvez não seja despropositado ver nesta história a implementação de uma política deliberada de “dividir para reinar” por parte dos invasores anglo-estadunidenses, logo nos primeiros dias da ocupação.
Não houve, nos últimos anos, estudos estatísticos para determinar a composição do Iraque por seitas. No entanto, quando a Autoridade Provisória da Coligação, dirigida por Paul Bremer, formou o primeiro governo fantoche iraquiano, foi criado o precedente. As 25 pastas do Conselho Iraquiano de Governo (CIG) foram atribuídas numa base estritamente sectária, partindo do princípio de que 60% da população era xiita, 20% sunita e 20% curda (sendo estes maioritariamente sunitas). Para criar bom ambiente, meteram lá um par de turcomenos e um cristão.É evidente que esta trupe de fantoches, posta no terreno logo no estabelecimento da “democracia” no Iraque foi mandatada para fazer ver à população que o seu interesse seria pensar, pelo menos politicamente, em termos de distinções sectárias e étnicas. Como era previsível, as lutas políticas pelo poder sucederam-se e foram consolidadas e exacerbadas com as eleições de 30 de Janeiro de 2005.Basta raspar ao de leve na superfície para trazer à vista um tenebroso aspecto, não noticiado, do plano dos EUA para a divisão [do Iraque]. Um relatório das Nações Unidas, de Setembro de 2005, responsabilizava as tropas do ministério do Interior iraquiano por uma campanha organizada de detenções, torturas e assassinatos de cidadãos iraquianos. Estas unidades de comandos especiais da polícia eram recrutados nas milícias xiitas da organização de Badr e do Exército de Mehdi.Em Bagdade, durante Novembro e Dezembro de 2004, ouvi descrições generalizadas de esquadrões da morte a assassinar líderes resistentes sunitas e os respectivos apoiantes. Foi depois do falhanço da operação Phamtom Fury – nome dado ao cerco a Faluja nesse Novembro – que a resistência iraquiana se espalhou por todo o Iraque como fogo em floresta. Para dominar esse incêndio, foram organizados esquadrões da morte destinados a eliminar a liderança dessa resistência crescente.A equipa de bombeiros tinha à cabeça o embaixador dos EUA no Iraque, John Negroponte, bem assistido pelo coronel na reserva James Steele, conselheiro das forças iraquianas de segurança. Em 1984-86, Steele comandara a equipa de conselheiros militares dos EUA em El Salvador. Entre 1981 e 1985, Negroponte foi embaixador dos EUA nas vizinhas Honduras. Em 1994, a Comissão de Direitos Humanos hondurenha acusou-o de inúmeras violações dos direitos humanos, com uma lista de 184 activistas políticos torturados e desaparecidos. Uma equipa da CIA, organizada em 1996 para estudar o papel dos EUA nas Honduras, reuniu documentos onde se admitia que as operações supervisionadas por Negroponte nas Honduras foram efectuadas por “unidades especiais dos serviços secretos”, mais conhecidas como “esquadrões da morte”, unidades hondurenhas treinadas pela CIA que raptaram, torturaram e assassinaram milhares de pessoas suspeitas de apoiarem as guerrilhas da esquerda. Negroponte foi embaixador no Iraque durante quase um ano a partir de Junho de 2004.A única referência pública a isto, que eu tenha visto, foi na revista Newsweek de 8 de Janeiro de 2005. O artigo cita Donald Rumsfeld, na altura Secretário da Defesa dos EUA, que falava da utilização da “Salvador Option” [Opção Salvador] no Iraque. Comparava a estratégia a ser planeada para o Iraque com a que tinha sido usada na América Central durante a administração Reagan:“Então, perante a eminência de perder a guerra contra os rebeldes salvadorenhos, o governo dos EUA financiou ou apoiou forças ‘nacionalistas’ das quais, alegadamente, fariam parte os chamados esquadrões da morte cuja finalidade era caçar e liquidar líderes rebeldes e os seus simpatizantes.A insurreição acabou por ser dominada e muitos conservadores nos EUA acham que essa política foi um êxito – apesar da morte de civis inocentes e do subsequente escândalo Irão-Contra de armas-por-reféns”.
Os esquadrões da morte sectários promovidos pelos EUA tornaram-se a primeira causa de mortes no Iraque, ultrapassando a própria máquina militar dos EUA, tristemente conhecida pela sua capacidade de matar em escala industrial. Ninguém ignora, em Bagdade, que os militares estadunidenses, regularmente, isolam bairros pró-resistência como a zona de al-Adhamiyah e abrem passagem ao pessoal da “polícia iraquiana” e do “exército iraquiano”, mascarados com carapuços negros, para irem raptar e assassinar pessoas nas redondezas.Em consequência, a maior parte de Bagdade e grande parte do Iraque estão actualmente segregadas. O reverso é que a violência na capital leva tempo a diminuir agora que o trabalho sujo dos esquadrões da morte, o de fragmentar a população, está praticamente completado.Morador em Bagdade, o general Walid al-Ubaidy disse recentemente ao meu colega iraquiano: “Eu gostaria de concordar com a ideia de que a violência no Iraque diminuiu e de que tudo corre bem, mas a verdade é bem mais amarga. O que realmente aconteceu foi uma mudança profunda no mapa demográfico do Iraque”. Bagdade é hoje uma cidade dividida.Ahmad Ali, engenheiro-chefe de um dos municípios de Bagdade, disse ao meu colega Ali al-Fadhily que “Bagdade foi transformada em duas cidades, e muitas pequenas cidades e muitos arredores. Desde logo, agora existe a Bagdade xiita e a Bagdade sunita. Cada uma delas está dividida em pequenas aglomerações, como pequenas cidades, onde vivem as centenas de milhares que tiveram de fugir de casa”. Al-Adamiyah, na margem Russafa do rio Tigre, é agora inteiramente sunita, as outras todas são xiitas. A margem al-Karkh do rio é toda sunita, excepto Shula, Hurriya e pequenas faixas de Aamil, que são dominadas pelas milícias xiitas.Desconhecedores das maquinações dos EUA, os iraquianos de Bagdade atribuem os assassinatos sectários à polícia e ao exército iraquianos e perguntam porque é que os militares dos EUA fazem pouco ou nada para os deter. “Os estadunidenses pedem a [o primeiro-ministro Nuri al-] Maliki para acabar com os assassinatos sectários sabendo perfeitamente que são os ministros dele que dão as ordens para a limpeza sectária”, diz Mahmud Farhan, da Associação dos Clérigos Muçalmanos, importante organização sunita.
Uma manifestação mais recente da política estadunidense de divisão [do Iraque] foi a “compra” de elementos da resistência de predominância sunita em Bagdade e na província de al-Anbar que ocupa um terço da área geográfica do Iraque. Os pagamentos feitos pelos militares dus EUA aos shikhs tribais colaboracionistas elevam-se já a 17 milhões de dólares. O dinheiro vai directamente para as mãos de combatentes que, em muitos casos, estavam implicados na organização de ataques contra os ocupantes menos de duas semanas antes. Os combatentes tribais são pagos a 300 dólares por mês para patrulharem as suas zonas, em especial contra mercenários estrangeiros. Agora os militares referem-se a estes homens como “cidadãos locais empenhados”, “forças do despertar” ou simplesmente “voluntários”.É de reconhecer que, nesta zona, a violência diminuiu. “Esses estadunidenses julgaram que conseguiam diminuir a resistência separando os iraquianos em seitas e tribos”, anunciou um homem de 32 anos de Ramadi que falou com al-Fadhily sob anonimato. “Eles sabem que se estão a enterrar em areias movediças, mas os próprios colaboradores estão a enganar os estadunidenses e usarão esta estratégia contra eles”. Em finais de Novembro de 2007, os militares dos EUA tinham alistado 77.000 destes combatentes, esperando alistar ainda mais 10.000. 82% desses combatentes são sunitas.Politicamente, o governo dos EUA mantém o seu apoio ao governo de dominância xiita em Bagdade. Com consequências bem evidentes: em 1 de Dezembro, Adnan al-Dulaimi, dirigente da Frente do Acordo, que é o bloco político sunita no parlamento iraquiano, foi colocado em prisão domiciliária pelas forças de segurança dos EUA e do Iraque, no bairro de Adil, no oeste de Bagdade.As forças de segurança iraquianas também prenderam o seu filho Makki e quarenta e cinco dos seus guarda-costas. Foram acusados de fabricar bombas de automóveis e de matarem membros das milícias sunitas das vizinhanças que estavam a colaborar com os militares dos EUA. De imediato, os parlamentares da Frente do Acordo, que são 45 dos 275 deputados do parlamento iraquiano, abandonaram as bancadas. Por várias vezes nas últimas semanas Maliki tem vociferado acusações e críticas públicas contra al-Dulaimi, emitindo ondas de choque políticas e sectárias, debilitando o processo político já de si bem deteriorado.É importante referir que Maliki, fantoche dos EUA por excelência, só faz mesmo o que lhe mandam. A seguir às eleições de Janeiro de 2005, o governo chegado ao poder escolhera Ibrahim al-Jaafari como primeiro-ministro. Quando Jaafari se recusou a aplicar a linha dos ocupantes EUA e Reino Unido, Condoleeza Rice e o seu homólogo britânico Jack Straw foram a Bagdade e, mesmo antes de acabar essa curta viagem, já Jaafari tinha sido corrido e Maliki era o novo primeiro-ministro.Tendo em conta todos estas factos, voltemos então à nossa questão inicial: mergulhará o Iraque num pesadelo sectário no caso de acabar a ocupação?O que aconteceu na cidade de Bassorá, a sul, pode ser um indicador de como as coisas se resolverão em caso de retirada das tropas estrangeiras. No princípio de Setembro, 500 soldados britânicos abandonaram um dos palácios de Saddam Hussein no coração da cidade e deixaram de efectuar patrulhas regulares a pé. Segundo os militares britânicos, o nível geral de violência terá diminuído em 90% desde então.
Isto pode ser, ou não, uma garantia da redução do sectarismo após a partida das tropas ocupantes, mas é uma prova de que, quando a causa primária da violência – a disputa sectária, a instabilidade e o caos – são removidos da equação do Iraque, as coisas podem melhorar rapidamente.Vamos continuar a acreditar que é a ocupação que está a manter o Iraque unido?
Artigo original (em inglês) na Atlantic Free Press ou na Uruknet


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