Crise financeira: As regulamentações em marcha 30/03/08 Por Julio Godoy
O presidente do Deutsche Bank, maior banco da Alemanha, Josef Ackermann, disse que já não acredita mais na "capacidade de auto-regulamentação do mercado". Devido à magnitude que a crise ganhou nos últimos meses, "os governos devem intervir para influir sobre ela", acrescentou. O economista-chefe do banco, Norbert Walter, e outros especialistas concordaram com as palavras de Ackermann. Walter disse em conferência de imprensa que a crise poderia estender-se até ao final de 2009. "Precisamos de uma nova organização e novas ideias sobre a regulamentação dos mercados financeiros", assegurou.Michael Heise, economista-chefe do Allianz/Dresdner Bank, alertou que muitas instituições financeiras internacionais poderiam quebrar nos próximos meses, tanto na Alemanha quanto no resto do mundo, como consequência da crise. Os seus comentários foram conhecidos depois de o banco privado norte-americano Bear Stearns cair numa grave falta de liquidez devido à sua falida especulação com hipotecas de alto risco, concedidas a pessoas com poucas possibilidades de enfrentar a devolução desses créditos.Muitos outros bancos na Alemanha, Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, entre outros países, enfrentam dificuldades semelhantes devido ao dinheiro colocado nos chamados "derivativos", instrumentos financeiros especulativos e de alto risco que se apoiam nas hipotecas norte-americanas. Na Grã-Bretanha, o governo nacionalizou no mês passado o banco Northern Rock, praticamente em falência pelas suas colocações de risco no mercado hipotecário norte-americano. Calcula-se que o custo da nacionalização ficará entre 110 mil milhões e 220 mil milhões. Aproximadamente cem mil pequenos accionistas do Northern Rock iniciaram uma investigação sobre as operações do banco.
Instituições financeiras privadas e estatais da Alemanha enfrentam problemas parecidos. O banco estatal IKB recebeu do governo garantias no valor de 15 mil milhões para evitar o colapso devido aos fundos que colocou no mercado hipotecário dos Estados Unidos. O governo alemão procurou em vão um comprador interessado no IKB. Os seus directores admitiram no último dia 20 que deverão contabilizar como perdas empréstimos no total de mil milhões. Bancos públicos pertencentes aos Estados da Bavária, da Renânia do Norte-Westflaia e da Saxônia também receberam abundantes fundos para salvá-los da falência.À luz do fracasso das políticas neoliberais, o ex-ministro das Finanças da Alemanha Oskar Lafontaine, (1998-1999), que em 2005 saiu do Partido Social-Democrata e fundou o Partido de Esquerda, convidou o banqueiro Ackermann a unir-se ao seu partido. "Com comentários como os de Ackermann, podemos ver a profundidade da crise", disse Lafontaine ao jornal Saarbruewcker Zeitung. O dirigente do Partido de Esquerda reclamou a reintrodução de regulamentações para controlar os movimentos de capitais. Também propôs a aplicação de um imposto sobre transacções financeiras especulativas, uma proposta lançada pelo falecido economista norte-americano James Tobin (1918-2002), que em 1981 ganhou o Nobel de Economia. "Necessitamos de investimentos na economia real, não de investimentos especulativos", assegurou Lafontaine.O líder do Partido Verde alemão, Juergen Trittin, ex-ministro do Meio Ambiente (1998-2005), disse à IPS que a actual crise representa a bancarrota da globalização neoliberal. "Primeiro, os bancos apostaram o dinheiro de seus clientes em especulações de risco e agora esperam que esses mesmos clientes, através dos impostos, paguem a conta", afirmou. Trittin destacou que até há pouco tempo Ackermnn e Walter diziam ao Estado para não pôr as mãos na economia. "Agora é o Estado que deve agir como salvador", acrescentou.Também em França os bancos enfrentam as consequências da falta de controlo sobre as suas manobras especulativas. Em Janeiro, o Société Générale perdeu mais de 9 mil milhões e esteve prestes a perder mais 75 mil milhões em operações canceladas no último momento. O banco admitiu que tinha ignorado 74 advertências do seu próprio sistema de supervisão e permitiu que se prosseguisse com as transacções realizadas por um de seus executivos, Jerome Kerviel. Factos semelhantes de falhas dos controlos internos repetiram-se noutras instituições em todo o mundo. Isto soma-se à incapacidade do mercado para se auto-regulamentar. Ferdinand Lancina, ex-ministro austríaco das Finanças, entre 1985 e 1996, disse ao jornal Der Standar, de Viena, que "o neoliberalismo morreu, e por muito tempo".
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