Darfur:Refugiados continuam a fugir 05/03/08
A situação em Darfur continua a causar vítimas. A ONU declara que rufugiados continuam a fugir, muitos para uma área perigoda no Chade. Há 5 anos, fações controladas directa ou indirectamente pelo Governo de Cartume desola a área e desencadeia uma operação de limpeza étnica em Darfur. 200.000 pessoas morreram. 3 milhões perderam os seus lares. E o problema continua.
Darfur Oeste continua a ser assolado por uma nova onda de ataques. A agência de refugiados da Organização das Nações Unidas calculada hoje que mais de 13.000 sudaneses fugiram para uma área remota de Chade.De acordo com o Alto Comissário para Refugiados (UCNUR), somente esta semana mais 3.000 refugiados chegaram em Chade oriental, na área volatil de Birak, onde uma missão de auxílio foi cancelada ontem depois que homens armados a cavalo serem vistos junto a uma aldeia a arder.
A agência ainda espera aprovação do Governo de Chade para mover os refugiados a acampamentos que já abrigam 240.000 pessoas.
Uma equipe de UNHCR que alcançou a área de Birak mais cedo informou que os recém-chegados tinham vindo aí por causa de assaltos repetidos de milícias na região de Moun de Jebel de Darfur Oeste.Entretanto, o Representante Especial para Sudão, Ameerah Haq, visitou Sileah em Darfur Oeste ontem fazendo parte de uma missão de avaliação e achou o povoado – que normalmente tem uma população de 20.000 – quase vazia.Só ao redor de 300 pessoas permaneram, cidadãos principalmente idosos que não podiam fugir. O povoado foi atacado no dia 8 de fevereiro, no começo do assalto atual.
Darfur? É o petróleo, estúpido...China e EUA em nova guerra fria
Para parafrasear a famosa piada durante os debates presidenciais dos EUA, em 1992, quando um desconhecido William Jefferson Clinton disse ao presidente daquela época, George Herbert Walker Bush: “É a economia, estúpido”, a preocupação do atual governo, em Washington, por Darfur, no sul de Sudão, não é, se a olhamos mais de perto, uma genuína preocupação com o genocídio das populações naquela parte mais pobre de uma parte pobre de uma desamparada região da África.Não. “É o petróleo, estúpido.”Trata-se de uma história de dimensão cínica apropriada para um governo em Washington que não mostra consideração por seu próprio genocídio no Iraque, quando o assunto envolve o controle sobre importantes reservas de petróleo. O que está em jogo na batalha por Darfur? O controle sobre o petróleo, muito, muitíssimo petróleo.O caso de Darfur, um proibido pedaço de terra ressecada pelo sol na parte sul do Sudão, ilustra a nova Guerra Fria pelo petróleo, na qual o dramático aumento da demanda de petróleo na China, para alimentar seu explosivo crescimento, levou Pequim a embarcar em uma política agressiva de – ironicamente – diplomacia do dólar. Com seus mais de US$ 1,3 trilhões em reservas, principalmente em dólares americanos, no Peoples’ National Bank of China, Pequim está empreendendo uma ativa geopolítica de petróleo. A África é um centro importante, e na África, a região central entre o Sudão e o Chade é a prioridade. Isto define uma importante nova frente que representa, desde a invasão do Iraque pelos EUA, em 2003, uma nova Guerra Fria entre Washington e Pequim pelo controle de importantes fontes de petróleo. Até agora, Pequim jogou suas cartas com um pouco mais de esperteza que Washington. Darfur é o mais importante campo de batalha nessa competição pelo controle do petróleo, em que há muito em jogo.A diplomacia petrolífera chinesa:Nos últimos meses, Pequim lançou uma série de iniciativas orientadas a assegurar fontes de matérias-primas a longo prazo em uma das regiões melhor dotadas do planeta – o subcontinente africano. Nenhuma matéria-prima tem, no presente, prioridade maior em Pequim que a garantia de fontes de petróleo no futuro.
Calcula-se que, atualmente, a China recebe 30% de seu petróleo cru da África. Isso explica uma série extraordinária de iniciativas diplomáticas que enfureceram Washington. A China está utilizando financiamentos em dólares, sem prévias condições, para lograr acesso à vasta riqueza em matérias-primas da África, deixando de lado o típico jogo de controle de Washington, através do Banco Mundial e do FMI. Quem necessita o doloroso remédio do FMI se a China oferece condições fáceis e, além disso, constrói estradas e escolas?Em novembro do ano passado, Pequim foi sede de uma reunião extraordinária de 40 chefes de Estados africanos. Os chineses estenderam, literalmente, o tapete vermelho para os líderes, entre outros, da Argélia, Nigéria, Mali, Angola, República Centro-Africana, Zâmbia, África do Sul.A China acaba de fechar um acordo petrolífero, que vincula a República Popular da China com as duas maiores nações do continente – a Nigéria e a África do Sul. A CNPC [sigla em inglês da Corporação Nacional Petrolífera da China] obterá petróleo na Nigéria, através de um consórcio que também inclui a South African Petroleum Co., dando à China o acesso que poderia atingir 175.000 barris ao dia em 2008. É um acordo de US$ 2,27 bilhões com a Nigéria, que oferece à CNPC, controlada pelo Estado, uma participação de 45% em um grande campo petrolífero off-shore. Previamente, a Nigéria foi considerada em Washington como um ativo das principais empresas petrolíferas anglo-americanas, ExxonMobil, Shell e Chevron.A China foi generosa na outorga de empréstimos a taxas de juros reduzidos, sem juros ou em concessões diretas a alguns dos países devedores mais pobres da África. Os empréstimos foram destinados à infra-estrutura, incluindo estradas, hospitais e escolas, em agudo contraste com a brutal austeridade das exigências do FMI e do Banco Mundial. Em 2006, a China destinou mais de US$ 8 bilhões para a Nigéria, Angola e Moçambique, contra US$ 2,3 bilhões do Banco Mundial destinados a toda a África Sub-Saariana. Gana está negociando um empréstimo para a eletrificação de US$ 1,2 bilhão com a China. Diferentemente do Banco Mundial, de fato um braço da política econômica externa dos EUA, a China é sagaz ao não condicionar seus empréstimos.Essa diplomacia chinesa relacionada com o petróleo levou a uma bizarra acusação, partida de Washington, de que Pequim trata de “assegurar petróleo nas fontes,” algo que caracterizou a política exterior de Washington há um século pelo menos.Nenhuma fonte de petróleo, ultimamente, esteve mais na mira do conflito petrolífero China-EUA que o Sudão, onde se encontra Darfur.Riquezas petrolíferas de Sudão:
A CNPC de Pequim é a maior investidora estrangeira no Sudão, com cerca de cinco bilhões de dólares aplicados no desenvolvimento de campos petrolíferos. Desde 1999, a China investiu pelo menos US$ 15 bilhões no Sudão. Possui 50% de uma refinaria de petróleo perto de Cartum em sociedade com o governo sudanês. Os campos petrolíferos estão concentrados no sul, onde ocorre uma guerra civil que ferve em fogo baixo há tempo, financiada pelos EUA, em parte clandestinamente, para separar o sul do norte islâmico centrado em Cartum.A CNPC construiu um oleoduto a partir de seus blocos de concessão 1, 2 e 4 no sul do Sudão, até um novo terminal em Porto Sudão, no Mar Vermelho, de onde o petróleo é embarcado para a China em navios tanques. Oito por cento do petróleo chinês provém agora do sul do Sudão. A China recebe entre 65% e 80% dos 500.000 barris de petróleo por dia produzidos pelo Sudão. Esse país foi, no ano passado, a quarta fonte chinesa de petróleo estrangeiro por seu tamanho. Em 2006, a China ultrapassou o Japão para se converter no segundo importador de petróleo do mundo, depois dos EUA, importando 6,5 milhões de barris do ouro negro por dia. Com o crescimento de sua demanda de petróleo, que se calcula em 30% ao ano, a China ultrapassará os EUA na demanda de importação de petróleo em poucos anos. Essa realidade é o motor que impulsiona a política exterior de Pequim na África. Um olhar sobre as concessões petrolíferas no sul do Sudão mostra que a CNPC chinesa tem direitos sobre o bloco 6, que se estende em Darfur, da fronteira com o Chad e a República Centro-Africana. Em abril de 2005, o governo do Sudão anunciou que havia encontrado petróleo no sul de Darfur, onde se estima que poderá bombear, quando estiver desenvolvido, 500.000 barris por dia. A imprensa mundial esqueceu de mencionar esse fato vital ao informar sobre o conflito de Darfur.
Uso da acusação de genocídio para militarizar a região petrolífera do SudãoO genocídio foi o tema preferido, e Washington foi o regente da orquestra. Curiosamente, enquanto todos os observadores reconhecem que Darfur sofreu grande um deslocamento das populações e miséria humana, e dezenas de milhares, ou até 300.000 mortes nos últimos anos, somente Washington e as ONGs que lhe são próximas utilizam a incriminadora expressão “genocídio” quando falam de Darfur. Se conseguirem a aceitação popular da acusação de genocídio, abrem a possibilidade para uma drástica intervenção da OTAN dirigida à “mudança de regime” e, de fato, de Washington, nos assuntos soberanos do Sudão.O tema do genocídio é utilizado com um respaldo do porte de Hollywood, por gente como as estrelas pop ao estilo de George Clooney, para orquestrar o caso com vistas à concreta ocupação da região pela OTAN. Até o momento, o governo do Sudão a recusou veementemente, algo que não surpreende.O governo dos EUA utiliza repetidamente a palavra “genocídio” para se referir a Darfur. É o único governo que assim o faz. A secretária-adjunta de Estado dos EUA, Ellen Sauerbrey, à frente do Bureau of Population, Refugees and Migration (Escritório para a População, Refugiados e Migração) disse, durante uma entrevista online da USINFO [Oficina de Programas de Informação Internacional do Departamento de Estado], em 17 de novembro passado: “O contínuo genocídio em Darfur, Sudão – uma ‘brutal violação’ dos direitos humanos – está entre os principais temas internacionais de preocupação para os EUA.” O governo de Bush segue insistindo que o genocídio vem ocorrendo em Darfur desde 2003, apesar de que uma missão da ONU, formada por um panel de seis membros, dirigido pelo juiz italiano Antonio Cassese, informou, em 2004, que não havia sido cometido genocídio em Darfur, mas que ocorreram graves abusos contra os direitos humanos. Os membros do panel defenderam julgamentos por crimes de guerra.Mercadores da morte:Os EUA, atuando através de aliados substitutos no Chade e em estados vizinhos, treinaram e armaram o Exército de Libertação Popular do Sudão (SPLA), dirigido, até sua morte em julho de 2005, por John Garang, preparado na escola das Forças Especiais dos EUA em Fort Benning, Georgia.Ao inundar de armas, primeiro o sul do Sudão, em sua parte oriental, e desde o descobrimento de petróleo em Darfur, também nessa região, Washington avivou o conflito que resultou em dezenas de milhares de mortos e em vários milhões de refugiados obrigados a deixar suas casas. A Eritréia abriga e apóia o SPLA, o grupo NDA [sigla em inglês da Aliança Democrática Nacional] que aglutina a oposição, e os rebeldes da Frente Oriental e de Darfur.Existem dois grupos rebeldes que combatem, na região de Darfur do Sudão, contra o governo central de Cartum, do presidente Omar al-Bashir – o Movimento Justiça pela Igualdade (JEM) e o Exército pela Libertação do Sudão (SLA), o maior dos dois.
Em fevereiro de 2003, o SLA lançou ataques contra posições do governo do Sudão na região de Darfur. O secretário-geral do SLA, Minni Arkou Minnawi, convocou à luta armada, acusando o governo de ignorar Darfur. “O objetivo do SLA é criar um Sudão democrático unido.” Em outras palavras, mudança de regime no Sudão.O Senado dos EUA adotou uma resolução, em fevereiro de 2006, pela qual solicitou tropas da OTAN em Darfur, assim como uma força mais robusta de manutenção de paz da ONU, com mandado firme. Um mês depois, o presidente Bush também pediu forças adicionais da OTAN em Darfur. Ah hã... Genocídio? Ou petróleo?
O Pentágono tem se ocupado com o treinamento de oficiais militares africanos nos EUA, tal como fez com oficiais latino-americanos durante décadas. Seu programa Internacional de Educação Militar e Treinamento (IMET) assegurou o aperfeiçoamento de oficiais militares do Chade, Etiópia, Eritréia, Camarões e da República Centro-Africana, todos países na fronteira com o Sudão. Grande parte das armas que exacerbaram a matança em Darfur e no sul foram levadas por tenebrosos, protegidos, “mercadores da morte” privados, tais como o tristemente célebre antigo agente da KGB, agora com escritórios nos EUA, Victor Bout. Bout foi citado repetidamente nos últimos anos por sua relação com as vendas de armas em toda a África. Estranhamente, os funcionários do governo dos EUA não tocam em suas operações no Texas e na Flórida, apesar de que está na lista de procurados da Interpol por lavagem de dinheiro.A ajuda ao desenvolvimento dos EUA para todo o Sub-Saara, incluindo o Chade, vem sendo reduzida fortemente nos últimos anos, enquanto tem aumentado a ajuda militar. A confusa mistura de petróleo com a escalada por matérias-primas estratégicas é a razão evidente. A região do sul do Sudão, desde o Nilo Superior às fronteiras de Chade, é rica em petróleo. Washington soube disso muito antes que o governo sudanês.O projeto petrolífero da Chevron em 1974:As principais empresas petrolíferas dos EUA conheciam a riqueza petrolífera do Sudão desde o início dos anos setenta. Em 1979, Jafaar Nimeiry, principal dirigente do Sudão, rompeu com os soviéticos e convidou a Chevron para desenvolver a exploração do petróleo no país. Talvez tenha sido um erro fatal. O embaixador dos EUA, George H.W. Bush, havia informado pessoalmente a Nimeiry sobre fotos tomadas de satélite que indicavam petróleo no Sudão. Nimeiry mordeu o anzol. As guerras pelo petróleo foram a conseqüência desde então.A Chevron encontrou grandes reservas de óleo no sul do Sudão. Gastou US$ 1,2 bilhão em pesquisas e comprovações. Esse petróleo provocou o que chamam de a segunda guerra civil do Sudão, em 1983. A Chevron virou alvo de repetidos ataques e assassinatos, e suspendeu o projeto em 1984. Em 1992, vendeu suas concessões petrolíferas sudanesas. Então a China começou a desenvolver os campos abandonados pela empresa em 1999, com resultados notáveis.Mas, atualmente, a Chevron não está longe de Darfur.
Petróleo do Chade e política de oleodutos:A Chevron de “Condi” Rice está no vizinho Chade, junto com a outra gigante norte-americana do petróleo, a ExxonMobil. Acabam de construir um oleoduto de US$ 3.7 bilhões de dólares, que transporta 160.000 barris de petróleo por dia de Doba, no centro do Chade, próximo do Darfur sudanês, via Camarões, até Kribi, no Oceano Atlântico, com destino às refinarias nos EUA.
Para fazê-lo, trabalharam com o “presidente vitalício” do Chade, Idriss Deby, um déspota corrupto, que foi acusado de entregar armas fornecidas pelos EUA aos rebeldes de Darfur. Deby somou-se à Iniciativa Pan Sahel, de Washington, dirigida pelo Comando Europeu do Pentágono, para treinar suas tropas com o objetivo de combater o “terrorismo islâmico”. A maioria das tribos na região de Darfur são islâmicas.Provido de ajuda militar, treinamento e armas dos EUA, Deby lançou, em 2004, o ataque inicial que provocou o conflito em Darfur, utilizando membros de sua Guarda Presidencial de elite oriundos da província, fornecendo veículos para qualquer terreno, armas e canhões antiaéreos para os rebeldes de Darfur, que combatem o governo de Cartum, no sudoeste do Sudão. Na realidade, o apoio militar dos EUA a Deby foi o detonador para o banho de sangue em Darfur. Cartum reagiu e a debacle resultante foi desatada com toda sua trágica força.As ONGs respaldadas por Washington e o governo dos EUA utilizam o genocídio não demonstrado como um pretexto para terminar levando tropas da ONU e da OTAN para as jazidas petrolíferas de Darfur e do sul do Sudão. O petróleo, não a miséria humana, está por trás do renovado interesse de Washington por Darfur.A campanha pelo “genocídio de Darfur” iniciou em 2003, ao mesmo tempo em que começou a fluir o petróleo pelo oleoduto Chade-Camarões. Os EUA tinham, então, uma base no Chade para conseguir o petróleo de Darfur e, potencialmente, apoderar-se das novas fontes chinesas de petróleo. Darfur é um território estratégico, a cavaleiro do Chade, a República Centro-Africana, o Egito e a Líbia.
De acordo com Keith Harman Snow: “Os objetivos militares dos EUA em Darfur – e visto mais amplamente no Chifre da África – são servidos hoje pelo respaldo dos EUA e da OTAN para as tropas da União Africana em Darfur. Lá, a OTAN fornece apoio por terra e nos ares para as tropas da UA, que são qualificadas de “neutras” e de “mantenedoras da paz”. O Sudão está em guerra em três frentes, cada país - Uganda, Chade, e Etiópia – com uma importante presença militar dos EUA e contínuos programas militares norte-americanos. A guerra no Sudão envolve tanto operações clandestinas dos EUA como de facções “rebeldes” treinadas pelos norte-americanos, que chegam do sul do Sudão, Chade, Etiópia e Uganda”.Deby, do Chad , olha a China também:A conclusão do oleoduto financiado pelos EUA e o Banco Mundial desde o Chade até a costa de Camarões foi planejada como parte de um plano muito mais grandioso de Washington para controlar as riquezas petrolíferas da África Central, do Sudão a todo o Golfo de Guiné.
Mas, o comparsa de Washington no passado, o presidente vitalício do Chad, Idriss Deby, começou a mostrar descontentamento com sua pequena participação nos lucros do petróleo controlado pelos EUA. Quando ele e o parlamento do Chade decidiram, no início de 2006, que utilizariam uma maior parte do faturamento do petróleo para financiar operações militares e reforçar seu exército, o novo presidente do Banco Mundial, o arquiteto da guerra no Iraque, Paul Wolfowitz, entrou em ação para suspender os empréstimos ao país. Então, em agosto, depois de que Deby alcançou sua reeleição, criou a própria companhia petrolífera do Chade, a SHT, e ameaçou com a expulsão da Chevron e da Petronas da Malásia por não pagarem dívidas com impostos, e exigiu uma participação de 60% no oleoduto do Chade. Terminou por chegar a um acordo com as companhias petrolíferas, mas ventos de mudança sopraram.
Darfur Oeste continua a ser assolado por uma nova onda de ataques. A agência de refugiados da Organização das Nações Unidas calculada hoje que mais de 13.000 sudaneses fugiram para uma área remota de Chade.De acordo com o Alto Comissário para Refugiados (UCNUR), somente esta semana mais 3.000 refugiados chegaram em Chade oriental, na área volatil de Birak, onde uma missão de auxílio foi cancelada ontem depois que homens armados a cavalo serem vistos junto a uma aldeia a arder.
A agência ainda espera aprovação do Governo de Chade para mover os refugiados a acampamentos que já abrigam 240.000 pessoas.
Uma equipe de UNHCR que alcançou a área de Birak mais cedo informou que os recém-chegados tinham vindo aí por causa de assaltos repetidos de milícias na região de Moun de Jebel de Darfur Oeste.Entretanto, o Representante Especial para Sudão, Ameerah Haq, visitou Sileah em Darfur Oeste ontem fazendo parte de uma missão de avaliação e achou o povoado – que normalmente tem uma população de 20.000 – quase vazia.Só ao redor de 300 pessoas permaneram, cidadãos principalmente idosos que não podiam fugir. O povoado foi atacado no dia 8 de fevereiro, no começo do assalto atual.
Darfur? É o petróleo, estúpido...China e EUA em nova guerra fria
Para parafrasear a famosa piada durante os debates presidenciais dos EUA, em 1992, quando um desconhecido William Jefferson Clinton disse ao presidente daquela época, George Herbert Walker Bush: “É a economia, estúpido”, a preocupação do atual governo, em Washington, por Darfur, no sul de Sudão, não é, se a olhamos mais de perto, uma genuína preocupação com o genocídio das populações naquela parte mais pobre de uma parte pobre de uma desamparada região da África.Não. “É o petróleo, estúpido.”Trata-se de uma história de dimensão cínica apropriada para um governo em Washington que não mostra consideração por seu próprio genocídio no Iraque, quando o assunto envolve o controle sobre importantes reservas de petróleo. O que está em jogo na batalha por Darfur? O controle sobre o petróleo, muito, muitíssimo petróleo.O caso de Darfur, um proibido pedaço de terra ressecada pelo sol na parte sul do Sudão, ilustra a nova Guerra Fria pelo petróleo, na qual o dramático aumento da demanda de petróleo na China, para alimentar seu explosivo crescimento, levou Pequim a embarcar em uma política agressiva de – ironicamente – diplomacia do dólar. Com seus mais de US$ 1,3 trilhões em reservas, principalmente em dólares americanos, no Peoples’ National Bank of China, Pequim está empreendendo uma ativa geopolítica de petróleo. A África é um centro importante, e na África, a região central entre o Sudão e o Chade é a prioridade. Isto define uma importante nova frente que representa, desde a invasão do Iraque pelos EUA, em 2003, uma nova Guerra Fria entre Washington e Pequim pelo controle de importantes fontes de petróleo. Até agora, Pequim jogou suas cartas com um pouco mais de esperteza que Washington. Darfur é o mais importante campo de batalha nessa competição pelo controle do petróleo, em que há muito em jogo.A diplomacia petrolífera chinesa:Nos últimos meses, Pequim lançou uma série de iniciativas orientadas a assegurar fontes de matérias-primas a longo prazo em uma das regiões melhor dotadas do planeta – o subcontinente africano. Nenhuma matéria-prima tem, no presente, prioridade maior em Pequim que a garantia de fontes de petróleo no futuro.
Calcula-se que, atualmente, a China recebe 30% de seu petróleo cru da África. Isso explica uma série extraordinária de iniciativas diplomáticas que enfureceram Washington. A China está utilizando financiamentos em dólares, sem prévias condições, para lograr acesso à vasta riqueza em matérias-primas da África, deixando de lado o típico jogo de controle de Washington, através do Banco Mundial e do FMI. Quem necessita o doloroso remédio do FMI se a China oferece condições fáceis e, além disso, constrói estradas e escolas?Em novembro do ano passado, Pequim foi sede de uma reunião extraordinária de 40 chefes de Estados africanos. Os chineses estenderam, literalmente, o tapete vermelho para os líderes, entre outros, da Argélia, Nigéria, Mali, Angola, República Centro-Africana, Zâmbia, África do Sul.A China acaba de fechar um acordo petrolífero, que vincula a República Popular da China com as duas maiores nações do continente – a Nigéria e a África do Sul. A CNPC [sigla em inglês da Corporação Nacional Petrolífera da China] obterá petróleo na Nigéria, através de um consórcio que também inclui a South African Petroleum Co., dando à China o acesso que poderia atingir 175.000 barris ao dia em 2008. É um acordo de US$ 2,27 bilhões com a Nigéria, que oferece à CNPC, controlada pelo Estado, uma participação de 45% em um grande campo petrolífero off-shore. Previamente, a Nigéria foi considerada em Washington como um ativo das principais empresas petrolíferas anglo-americanas, ExxonMobil, Shell e Chevron.A China foi generosa na outorga de empréstimos a taxas de juros reduzidos, sem juros ou em concessões diretas a alguns dos países devedores mais pobres da África. Os empréstimos foram destinados à infra-estrutura, incluindo estradas, hospitais e escolas, em agudo contraste com a brutal austeridade das exigências do FMI e do Banco Mundial. Em 2006, a China destinou mais de US$ 8 bilhões para a Nigéria, Angola e Moçambique, contra US$ 2,3 bilhões do Banco Mundial destinados a toda a África Sub-Saariana. Gana está negociando um empréstimo para a eletrificação de US$ 1,2 bilhão com a China. Diferentemente do Banco Mundial, de fato um braço da política econômica externa dos EUA, a China é sagaz ao não condicionar seus empréstimos.Essa diplomacia chinesa relacionada com o petróleo levou a uma bizarra acusação, partida de Washington, de que Pequim trata de “assegurar petróleo nas fontes,” algo que caracterizou a política exterior de Washington há um século pelo menos.Nenhuma fonte de petróleo, ultimamente, esteve mais na mira do conflito petrolífero China-EUA que o Sudão, onde se encontra Darfur.Riquezas petrolíferas de Sudão:
A CNPC de Pequim é a maior investidora estrangeira no Sudão, com cerca de cinco bilhões de dólares aplicados no desenvolvimento de campos petrolíferos. Desde 1999, a China investiu pelo menos US$ 15 bilhões no Sudão. Possui 50% de uma refinaria de petróleo perto de Cartum em sociedade com o governo sudanês. Os campos petrolíferos estão concentrados no sul, onde ocorre uma guerra civil que ferve em fogo baixo há tempo, financiada pelos EUA, em parte clandestinamente, para separar o sul do norte islâmico centrado em Cartum.A CNPC construiu um oleoduto a partir de seus blocos de concessão 1, 2 e 4 no sul do Sudão, até um novo terminal em Porto Sudão, no Mar Vermelho, de onde o petróleo é embarcado para a China em navios tanques. Oito por cento do petróleo chinês provém agora do sul do Sudão. A China recebe entre 65% e 80% dos 500.000 barris de petróleo por dia produzidos pelo Sudão. Esse país foi, no ano passado, a quarta fonte chinesa de petróleo estrangeiro por seu tamanho. Em 2006, a China ultrapassou o Japão para se converter no segundo importador de petróleo do mundo, depois dos EUA, importando 6,5 milhões de barris do ouro negro por dia. Com o crescimento de sua demanda de petróleo, que se calcula em 30% ao ano, a China ultrapassará os EUA na demanda de importação de petróleo em poucos anos. Essa realidade é o motor que impulsiona a política exterior de Pequim na África. Um olhar sobre as concessões petrolíferas no sul do Sudão mostra que a CNPC chinesa tem direitos sobre o bloco 6, que se estende em Darfur, da fronteira com o Chad e a República Centro-Africana. Em abril de 2005, o governo do Sudão anunciou que havia encontrado petróleo no sul de Darfur, onde se estima que poderá bombear, quando estiver desenvolvido, 500.000 barris por dia. A imprensa mundial esqueceu de mencionar esse fato vital ao informar sobre o conflito de Darfur.
Uso da acusação de genocídio para militarizar a região petrolífera do SudãoO genocídio foi o tema preferido, e Washington foi o regente da orquestra. Curiosamente, enquanto todos os observadores reconhecem que Darfur sofreu grande um deslocamento das populações e miséria humana, e dezenas de milhares, ou até 300.000 mortes nos últimos anos, somente Washington e as ONGs que lhe são próximas utilizam a incriminadora expressão “genocídio” quando falam de Darfur. Se conseguirem a aceitação popular da acusação de genocídio, abrem a possibilidade para uma drástica intervenção da OTAN dirigida à “mudança de regime” e, de fato, de Washington, nos assuntos soberanos do Sudão.O tema do genocídio é utilizado com um respaldo do porte de Hollywood, por gente como as estrelas pop ao estilo de George Clooney, para orquestrar o caso com vistas à concreta ocupação da região pela OTAN. Até o momento, o governo do Sudão a recusou veementemente, algo que não surpreende.O governo dos EUA utiliza repetidamente a palavra “genocídio” para se referir a Darfur. É o único governo que assim o faz. A secretária-adjunta de Estado dos EUA, Ellen Sauerbrey, à frente do Bureau of Population, Refugees and Migration (Escritório para a População, Refugiados e Migração) disse, durante uma entrevista online da USINFO [Oficina de Programas de Informação Internacional do Departamento de Estado], em 17 de novembro passado: “O contínuo genocídio em Darfur, Sudão – uma ‘brutal violação’ dos direitos humanos – está entre os principais temas internacionais de preocupação para os EUA.” O governo de Bush segue insistindo que o genocídio vem ocorrendo em Darfur desde 2003, apesar de que uma missão da ONU, formada por um panel de seis membros, dirigido pelo juiz italiano Antonio Cassese, informou, em 2004, que não havia sido cometido genocídio em Darfur, mas que ocorreram graves abusos contra os direitos humanos. Os membros do panel defenderam julgamentos por crimes de guerra.Mercadores da morte:Os EUA, atuando através de aliados substitutos no Chade e em estados vizinhos, treinaram e armaram o Exército de Libertação Popular do Sudão (SPLA), dirigido, até sua morte em julho de 2005, por John Garang, preparado na escola das Forças Especiais dos EUA em Fort Benning, Georgia.Ao inundar de armas, primeiro o sul do Sudão, em sua parte oriental, e desde o descobrimento de petróleo em Darfur, também nessa região, Washington avivou o conflito que resultou em dezenas de milhares de mortos e em vários milhões de refugiados obrigados a deixar suas casas. A Eritréia abriga e apóia o SPLA, o grupo NDA [sigla em inglês da Aliança Democrática Nacional] que aglutina a oposição, e os rebeldes da Frente Oriental e de Darfur.Existem dois grupos rebeldes que combatem, na região de Darfur do Sudão, contra o governo central de Cartum, do presidente Omar al-Bashir – o Movimento Justiça pela Igualdade (JEM) e o Exército pela Libertação do Sudão (SLA), o maior dos dois.
Em fevereiro de 2003, o SLA lançou ataques contra posições do governo do Sudão na região de Darfur. O secretário-geral do SLA, Minni Arkou Minnawi, convocou à luta armada, acusando o governo de ignorar Darfur. “O objetivo do SLA é criar um Sudão democrático unido.” Em outras palavras, mudança de regime no Sudão.O Senado dos EUA adotou uma resolução, em fevereiro de 2006, pela qual solicitou tropas da OTAN em Darfur, assim como uma força mais robusta de manutenção de paz da ONU, com mandado firme. Um mês depois, o presidente Bush também pediu forças adicionais da OTAN em Darfur. Ah hã... Genocídio? Ou petróleo?
O Pentágono tem se ocupado com o treinamento de oficiais militares africanos nos EUA, tal como fez com oficiais latino-americanos durante décadas. Seu programa Internacional de Educação Militar e Treinamento (IMET) assegurou o aperfeiçoamento de oficiais militares do Chade, Etiópia, Eritréia, Camarões e da República Centro-Africana, todos países na fronteira com o Sudão. Grande parte das armas que exacerbaram a matança em Darfur e no sul foram levadas por tenebrosos, protegidos, “mercadores da morte” privados, tais como o tristemente célebre antigo agente da KGB, agora com escritórios nos EUA, Victor Bout. Bout foi citado repetidamente nos últimos anos por sua relação com as vendas de armas em toda a África. Estranhamente, os funcionários do governo dos EUA não tocam em suas operações no Texas e na Flórida, apesar de que está na lista de procurados da Interpol por lavagem de dinheiro.A ajuda ao desenvolvimento dos EUA para todo o Sub-Saara, incluindo o Chade, vem sendo reduzida fortemente nos últimos anos, enquanto tem aumentado a ajuda militar. A confusa mistura de petróleo com a escalada por matérias-primas estratégicas é a razão evidente. A região do sul do Sudão, desde o Nilo Superior às fronteiras de Chade, é rica em petróleo. Washington soube disso muito antes que o governo sudanês.O projeto petrolífero da Chevron em 1974:As principais empresas petrolíferas dos EUA conheciam a riqueza petrolífera do Sudão desde o início dos anos setenta. Em 1979, Jafaar Nimeiry, principal dirigente do Sudão, rompeu com os soviéticos e convidou a Chevron para desenvolver a exploração do petróleo no país. Talvez tenha sido um erro fatal. O embaixador dos EUA, George H.W. Bush, havia informado pessoalmente a Nimeiry sobre fotos tomadas de satélite que indicavam petróleo no Sudão. Nimeiry mordeu o anzol. As guerras pelo petróleo foram a conseqüência desde então.A Chevron encontrou grandes reservas de óleo no sul do Sudão. Gastou US$ 1,2 bilhão em pesquisas e comprovações. Esse petróleo provocou o que chamam de a segunda guerra civil do Sudão, em 1983. A Chevron virou alvo de repetidos ataques e assassinatos, e suspendeu o projeto em 1984. Em 1992, vendeu suas concessões petrolíferas sudanesas. Então a China começou a desenvolver os campos abandonados pela empresa em 1999, com resultados notáveis.Mas, atualmente, a Chevron não está longe de Darfur.
Petróleo do Chade e política de oleodutos:A Chevron de “Condi” Rice está no vizinho Chade, junto com a outra gigante norte-americana do petróleo, a ExxonMobil. Acabam de construir um oleoduto de US$ 3.7 bilhões de dólares, que transporta 160.000 barris de petróleo por dia de Doba, no centro do Chade, próximo do Darfur sudanês, via Camarões, até Kribi, no Oceano Atlântico, com destino às refinarias nos EUA.
Para fazê-lo, trabalharam com o “presidente vitalício” do Chade, Idriss Deby, um déspota corrupto, que foi acusado de entregar armas fornecidas pelos EUA aos rebeldes de Darfur. Deby somou-se à Iniciativa Pan Sahel, de Washington, dirigida pelo Comando Europeu do Pentágono, para treinar suas tropas com o objetivo de combater o “terrorismo islâmico”. A maioria das tribos na região de Darfur são islâmicas.Provido de ajuda militar, treinamento e armas dos EUA, Deby lançou, em 2004, o ataque inicial que provocou o conflito em Darfur, utilizando membros de sua Guarda Presidencial de elite oriundos da província, fornecendo veículos para qualquer terreno, armas e canhões antiaéreos para os rebeldes de Darfur, que combatem o governo de Cartum, no sudoeste do Sudão. Na realidade, o apoio militar dos EUA a Deby foi o detonador para o banho de sangue em Darfur. Cartum reagiu e a debacle resultante foi desatada com toda sua trágica força.As ONGs respaldadas por Washington e o governo dos EUA utilizam o genocídio não demonstrado como um pretexto para terminar levando tropas da ONU e da OTAN para as jazidas petrolíferas de Darfur e do sul do Sudão. O petróleo, não a miséria humana, está por trás do renovado interesse de Washington por Darfur.A campanha pelo “genocídio de Darfur” iniciou em 2003, ao mesmo tempo em que começou a fluir o petróleo pelo oleoduto Chade-Camarões. Os EUA tinham, então, uma base no Chade para conseguir o petróleo de Darfur e, potencialmente, apoderar-se das novas fontes chinesas de petróleo. Darfur é um território estratégico, a cavaleiro do Chade, a República Centro-Africana, o Egito e a Líbia.
De acordo com Keith Harman Snow: “Os objetivos militares dos EUA em Darfur – e visto mais amplamente no Chifre da África – são servidos hoje pelo respaldo dos EUA e da OTAN para as tropas da União Africana em Darfur. Lá, a OTAN fornece apoio por terra e nos ares para as tropas da UA, que são qualificadas de “neutras” e de “mantenedoras da paz”. O Sudão está em guerra em três frentes, cada país - Uganda, Chade, e Etiópia – com uma importante presença militar dos EUA e contínuos programas militares norte-americanos. A guerra no Sudão envolve tanto operações clandestinas dos EUA como de facções “rebeldes” treinadas pelos norte-americanos, que chegam do sul do Sudão, Chade, Etiópia e Uganda”.Deby, do Chad , olha a China também:A conclusão do oleoduto financiado pelos EUA e o Banco Mundial desde o Chade até a costa de Camarões foi planejada como parte de um plano muito mais grandioso de Washington para controlar as riquezas petrolíferas da África Central, do Sudão a todo o Golfo de Guiné.
Mas, o comparsa de Washington no passado, o presidente vitalício do Chad, Idriss Deby, começou a mostrar descontentamento com sua pequena participação nos lucros do petróleo controlado pelos EUA. Quando ele e o parlamento do Chade decidiram, no início de 2006, que utilizariam uma maior parte do faturamento do petróleo para financiar operações militares e reforçar seu exército, o novo presidente do Banco Mundial, o arquiteto da guerra no Iraque, Paul Wolfowitz, entrou em ação para suspender os empréstimos ao país. Então, em agosto, depois de que Deby alcançou sua reeleição, criou a própria companhia petrolífera do Chade, a SHT, e ameaçou com a expulsão da Chevron e da Petronas da Malásia por não pagarem dívidas com impostos, e exigiu uma participação de 60% no oleoduto do Chade. Terminou por chegar a um acordo com as companhias petrolíferas, mas ventos de mudança sopraram.
Deby também enfrenta uma crescente oposição interna de um grupo rebelde do Chade, a Frente Unida pela Mudança, conhecida por seu nome francês como FUC, à qual acusa ser secretamente financiada pelo Sudão. Essa região é uma parte muito complexa do mundo da guerra. A FUC tem base em Darfur.No interior dessa situação instável, Pequim surgiu no Chade com um cofre cheio de dinheiro para ajuda. Em fins de janeiro, o presidente chinês, Hu Jintao, visitou oficialmente o Sudão e Camarões, entre outros Estados africanos. Em 2006, os dirigentes chineses visitaram não menos de 48 países africanos. Em agosto de 2006, Pequim recebeu o ministro de Relações Exteriores do Chade para conversações visando reatar os laços diplomáticos formais interrompidos em 1997. A China começou a importar petróleo do Chade, assim como do Sudão. Não é muito petróleo, mas se Pequim seguir o mesmo caminho, isso logo mudará.Em abril deste ano, o ministro de Relações Exteriores do Chade anunciou que as negociações com a China sobre uma maior participação chinesa no desenvolvimento petrolífero do Chade “progrediam bem”. Referiu-se às condições que os chineses pedem para o desenvolvimento petrolífero, qualificando-as como próprias de “sociedades mais igualitárias do que as que estamos acostumados a ter.”A presença econômica chinesa no Chade, ironicamente, poderia resultar mais efetiva em aplacar a luta e o deslocamento das populações em Darfur do que qualquer presença de tropas da União Africana ou da ONU. Isso não seria bem visto por alguns em Washington, ou no quartel-general da Chevron, porque não faria com que o petróleo caísse em suas mãos ensangüentadas e sujas de graxa.Chade e Darfur são somente uma parte do vasto esforço chinês para obter “petróleo na fonte” em toda a África. O petróleo é também o fator primordial na atual política africana dos EUA. O interesse de George W. Bush na África inclui uma nova base dos EUA em São Tomé/Príncipe, a 200 quilômetros do Golfo da Guiné, de onde pode controlar as jazidas petrolíferas de Angola, ao sul do Congo, Gabão, Guiné Equatorial, Camarões e Nigéria. É pura casualidade que sejam as mesmas áreas onde se concentram a recente atividade diplomática e os investimentos chineses.“O petróleo da África Ocidental se converteu em um interesse estratégico nacional para nós,” declarou, em 2002, o secretário-adjunto de Estado para a África, Walter Kansteiner. Darfur e Chade não são mais que uma extensão da política dos EUA no Iraque “por outros meios” – controle do petróleo em todas as partes. A China disputa esse controle “em todas partes,” sobretudo na África. Equivale a uma nova Guerra Fria não declarada pelo petróleo. AUTOR: F. William Engdahl
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