*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Sunday, March 23, 2008

Robert Fisk:A única lição que aprendemos é que nunca aprendemos 23/03/08

Mas já antes usámos estes paralelismos e eles foram levados pela brisa do Tigre. O Iraque está empapado em sangue. E, no entanto, como estamos de remorsos? Claro, vai haver um inquérito público às responsabilidades - mas não é para já! Se ao menos a inadequação fosse o nosso único pecado.Hoje, estamos empenhados num debate infrutífero. Que correu mal? Como é que o povo - o populesque Romanus dos tempos modernos - não se revoltou quando lhe contaram mentiras sobre armas de destruição maciça, sobre as ligações de Saddam com Osama bin Laden e com o 11 de Setembro? Como deixámos tudo isso acontecer? E por que razão não previmos o que iria acontecer no pós-guerra?Oh, pois, os britânicos tentaram fazer com que os americanos os ouvissem, é o que nos diz agora Downing Street. Tentámos, a sério que sim, até que percebemos sem sombra de dúvida que era correcto embarcar nesta guerra ilegal. Há agora uma vastíssima literatura sobre o descalabro do Iraque e há precedentes de preparação para o pós-guerra - retomarei este ponto um pouco mais tarde - mas não essa é a questão. A nossa grave situação no Iraque assume proporções muito mais terríveis.Quando os americanos irromperam a ferro e fogo pelo Iraque em 2003, com os seus mísseis cruzeiro a zunir pela tempestade de areia em direcção a uma centena de cidades e vilas iraquianas, eu estava sentado no meu esquálido quarto do Bagdad Palestine Hotel, impedido de dormir pelo estrondor das explosões, com o nariz enfiado nos livros que tinha levado comigo para ajudar a passar as horas sombrias e perigosas. "Guerra e Paz "de Tolstoi lembrou-me como os conflitos podem ser descritos com sensibilidade, elegância e horror - recomendo a Batalha de Borodin. Num pequeno ficheiro com recortes de jornais que também tinha comigo havia uma longa tirada de Pat Buchanan, escrita cinco meses antes, e ainda hoje sinto o seu poder, a sua presciência e a sua honestidade absolutamente histórica. "Com a nossa regência ao estilo de MacArthur em Bagdad, a Pax Americana atingirá o seu apogeu. Mas a maré há-de mudar, porque os povos islâmicos sempre se mostraram excelentes em expulsar os poderes imperiais usando o terrorismo e a guerrilha.
"Livraram-se dos britânicos na Palestina e em Aden, dos franceses na Argélia, dos russos no Afeganistão, dos americanos na Somália e em Beirute, dos israelitas no Líbano. Enveredámos pelo caminho do império e depois da próxima colina encontraremos os que por lá passaram antes de nós. A única lição que aprendemos com a História é que não aprendemos com a História."
Com que facilidade os homenzinhos nos atraíram ao inferno, sem conhecimento ou, sequer, interesse pela História. Nenhum deles leu o relato da sublevação iraquiana de 1920 contra a ocupação britânica, nem do brusco e brutal acordo assinado por Churchill no ano seguinte.Nos nossos radares históricos, nem sequer apareceu Crassus, o mais abastado dos generais romanos que exigiu o título de imperador depois de ter conquistado a Macedónia - missão cumprida - e como vingança se propôs destruir a Mesopotâmia. Algures no deserto, perto do rio Eufrates, os partas, antecessores dos actuais rebeldes iraquianos, aniquilaram as legiões, cortaram a cabeça a Crassus e enviaram-na para Roma, recheada de ouro. Se fosse hoje, teriam filmado a decapitação.Com uma monumental arrogância, estes homenzinhos que nos levaram para a guerra há cinco anos mostram agora que não aprenderam nada. Anthony Blair - como deveríamos ter sempre chamado a este advogado de província - devia estar a ser julgado por hipocrisia. Em vez disso, agora pretende trazer a paz a um conflito Israelo-Árabe que tanto fez para exacerbar. E temos agora o homem que mudou de opinião quanto à legalidade da guerra - e o conseguiu fazer numa única folha A4 - a ter a audácia de sugerir que deveríamos fazer exames aos imigrantes antes de lhes conceder a cidadania britânica. A primeira pergunta, proponho eu, deveria ser: Que Procurador-Geral britânico com as mãos cobertas de sangue ajudou a mandar 176 soldados britânicos para a morte a troco de uma mentira? Segunda pergunta: Como conseguiu escapar impune?
Em certos aspectos, a natureza ligeira e idiota da proposta de Lorde Goldsmith é uma pista para toda a estrutura transitória, de papelão, da nossa tomada de decisões. As grandes questões que se nos põem - sejam elas o Iraque ou o Afeganistão, a economia norte-america ou o aquecimento global, as invasões armadas ou o terrorismo - são discutidas não segundo agendas políticas sérias, mas segundo horários televisivos e conferências de imprensa.Irão os primeiros ataques aéreos ao Iraque coincidir com o horário nobre das televisões nos Estados Unidos? Felizmente, sim. Irá a chegada das primeiras tropas a Bagdad coincidir com os telejornais do pequeno-almoço? Claro. Irá a captura de Saddam ser anunciada em simultâneo por Bush e Blair?Isto é tudo parte do problema. É verdade, Churchill e Roosevelt discutiram sobre a hora do anúncio do fim da guerra na Europa. E os russos adiantaram-se-lhes. Mas contámos a verdade. Quando os britânicos estavam a recuar para Dunquerque, Churchill anunciou que os alemães tinham "penetrado profundamente e espalhado o alarme e a confusão por onde passavam".Por que razão Bush ou Blair não nos disseram isto quando os rebeldes iraquianos começaram a atacar as tropas de ocupação ocidentais? Pois, estavam demasiado ocupados a dizer-nos que as coisas estavam a melhorar, que os rebeldes não passavam de "desesperados".A 17 de Junho de 1940, Churchill disse ao povo britânico: "As notícias de França são muito más e compadeço-me do galante povo francês que caiu nesta terrível desgraça." Por que razão nem Bush nem Blair nos disseram que as notícias do Iraque eram muito más e que se compadeciam - nem que deitassem apenas umas lágrimas por um minuto ou dois - pelos iraquianos?
Porque foram estes os homens que tiveram a ousadia, o despudor de se transvestir de Churchill, como heróis a fazer uma reposição da Segunda Guerra Mundial, enquanto a BBC chamava obedientemente "aliados" aos invasores e retratava o regime de Saddam como sendo o Terceiro Reich.Claro, quando eu andava na escola, os nossos dirigentes - Attlee, Churchill, Eden, Macmillan, ou Truman, Eisenhower e Kennedy nos Estados Unidos - tinham verdadeira experiência de guerras verdadeiras. Hoje, nenhum chefe de estado ocidental teve contacto directo com um conflito de verdade. Quando começou a invasão anglo-americana do Iraque, o mais proeminente opositor europeu à guerra era Jacques Chirac, que lutou no conflito argelino. Mas ele já se retirou. Colin Powell também, um veterano do Vietname, ele próprio enganado por Rumsfeld e pela CIA.No entanto, uma das mais terríveis ironias dos nossos tempos é que os mais sanguinários estadistas norte-americanos - Bush e Cheney, Rumsfeld e Horowitz - nunca ouviram um tiro disparado com raiva e asseguraram-se de que não teriam de lutar pelo seu país quando tiveram a oportunidade de o fazer. Não admira que títulos de Hollywood como "Choque e Pavor" sejam tão atraentes para a Casa Branca. Os filmes são a sua única fonte de experiência de conflito humano; o mesmo se aplica a Blair e Brown.
Churchill teve de prestar contas pela perda de Singapura perante um Hemiciclo lotado. Brown nem sequer prestará contas pelo Iraque até a guerra acabar.É um truísmo grotesco que hoje - depois das poses assumidas pelos nossos anões políticos há cinco anos - nem sequer nos seja permitido fazer uma sessão espírita com os fantasmas da Segunda Guerra Mundial. As estatísticas são o medium e a sala teria de estar às escuras. Mas é um facto que o número total de norte-americanos mortos no Iraque (3 mil 978) ultrapassa em muito o número de baixas americanas no desembarque original do Dia-D na Normandia (3 mil 384, entre mortos e desaparecidos) a 6 de Junho de 1944, ou mais de três vezes superior ao número total de baixas britânicas em Arnhem no mesmo ano (mil e duzentas).Correspondem a pouco mais de um terço do total de baixas (11 mil e 14) de toda a Força Expedicionária Britânica, desde a invasão germânica da Bélgica à evacuação final em Dunquerque, em Junho de 1940. O número de britânicos mortos no Iraque - 176 - é quase igual ao total de militares britânicos perdidos na Batalha do Bulge, nas Ardenas, em 1944-45 (pouco mais de 200). O número dos feridos americanos no Iraque - 29 mil 395 - é mais de nove vezes superior ao número de americanos feridos a 6 de Junho (3 mil 184) e mais de um quarto do total de americanos feridos em toda a Guerra da Coreia (103 mil e 284), entre 1950-53.As baixas iraquianas permitem uma comparação ainda mais próxima com a Segunda Guerra Mundial. Mesmo que aceitemos a mais optimista das estatísticas de civis mortos - vão de 350 mil a um milhão - esta há muito que suplantou o número de civis britânicos mortos durante os bombardeamentos aéreos de Londres em 1944-45 (seis mil) e já ultrapassa em muito o total de civis mortos em bombardeamentos aéreos em todo o Reino Unido - 60 mil e 595 mortos e 86 mil e 182 feridos graves - de 1940 a 1945.Com efeito, o número de civis iraquianos mortos desde a nossa invasão é agora superior ao número de baixas britânicas em toda a Segunda Guerra Mundial, que atingiu a impressionante cifra de 265 mil mortos (algumas histórias apontam para 300 mil) e 277 mil feridos. As estimativas mais conservadoras para os mortos iraquianos significam que a população civil da Mesopotâmia sofreu seis ou sete Dresdens - ou ainda mais terrível - duas Hiroshimas.
Em certa medida, porém, tudo isto não passa de uma digressão da terrível verdade contida no aviso de Buchanan. Mandámos os nossos exércitos para as terras do Islão. Fizemo-lo com o único encorajamento de Israel, cujo informações falsas sobre o Iraque têm sido discretamente esquecidas pelos nossos líderes enquanto choram lágrimas de crocodilo pelas centenas de milhar de iraquianos mortos.O enorme prestígio militar americano sofreu danos irreparáveis. E se há hoje, como calculo, 22 vezes mais tropas ocidentais no mundo islâmico do que havia no tempo das cruzadas dos séculos XI e XII, temos de nos perguntar o que andamos a fazer. Estamos lá pelo petróleo? Pela democracia? Por Israel? Por medo das armas de destruição maciça? Ou por medo do Islão?É com ligeireza que associamos o Afeganistão ao Iraque. Se Washington não tivesse sido desviada do curso pelo Iraque, segundo nos dizem agora, os Taliban não se teriam reinstalado no terreno. Mas a Al-Qaeda e o nebuloso Osama bin Laden não se deixaram distrair, razão por que expandiram as suas operações pelo Iraque adentro e depois usaram esta experiência para atacar o ocidente no Afeganistão com o bombista suicida, até então inédito no país.E atrevo-me a fazer uma terrível previsão: que é tão certo termos perdido o Afeganistão como é certo termos perdido o Iraque e iremos "perder" o Paquistão. São a nossa presença, o nosso poder, a nossa arrogância, a nossa recusa em aprendermos com a História, e o nosso terror - sim, o nosso terror - do Islão que nos empurram para o abismo. E enquanto não aprendermos a deixar estes povos muçulmanos em paz, a nossa catástrofe no Médio Oriente só irá piorar. Não há qualquer ligação entre Islão e "terror". Mas há uma ligação entre a nossa ocupação das terras muçulmanas e o "terror". Não é uma equação demasiado complicada. E não precisamos de um inquérito público para a acertar.

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