Entrevista Roberto Mangabeira Unger 23/04/08 Ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos do brasil.
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http://br.youtube.com/watch?v=eCXEBBv2IEU
- Qual é a fórmula que o sr. preconiza para o País? Roberto Mangabeira Unger - Eu fui convocado pelo presidente para a tarefa de ajudar a formular e debater um novo modelo de desenvolvimento para o País. Tradicionalmente, os setores avançados e internacionalizados da economia brasileira crescem e geram riqueza. E parte dessa riqueza é usada para financiar programas sociais. Agora, a Nação quer mais do que isso. Sou um inconformado com essa visão de Suécia tropical, de que esse é o único modelo possível a ser seguido. É preciso que se busque um modelo de desenvolvimento na ampliação dessas oportunidades de inclusão, não apenas de políticas compensatórias. Meu trabalho divide-se em duas vertentes. A primeira é a da visibilidade prática e política. A segunda é a da fecundidade transformadora. Escolhi essas iniciativas em cinco grandes campos: oportunidade econômica, oportunidade educativa, gestão política, Amazônia e Defesa.




Mangabeira - Uma empresa nos moldes do que faz a Embrapa na agricultura para a difusão de tecnologia industrial. Uma rede que difunda junto aos empresários novas técnicas, modelos e aprimoramento de mão-de-obra. Nós estamos ameaçados de ficar imprensados entre os países de trabalho barato e os países de produtividade alta, sem espaço nem em um nem no outro lado. Eu tenho argumentado que temos de optar pelo lado da valorização do trabalho e não pelo achatamento salarial. Nós não temos futuro como uma China com menos gente. Nós temos que resgatar da informalidade os 60% de trabalhadores brasileiros que trabalham nas sombras, isso é um desastre para o País. Não apenas um desastre econômico, mas político e moral.


Mangabeira - Há duas idéias inaceitáveis para a Amazônia que se difundem no País. Uma é a de que o único jeito de ocupar a Amazônia é abri-la sem restrições para o mercado, permitindo coisas como a pecuária extensiva. A outra é a de que a Amazônia deve ser mantida como um santuário, um parque. Mas a Amazônia não é apenas uma coleção de árvores; existe ali um grupo de pessoas. E essas pessoas não tiveram oportunidade econômica. Conduzir a atividade econômica de forma desgovernada vai transformar a questão ambiental numa questão social. Não fazer nada também. A política de desenvolvimento precisa incluir um modelo para a Amazônia.


Mangabeira - Naquele momento, eu fui levado por um excesso, por uma paixão. Queria reforçar o discurso de que precisamos tirar a política da sombra corruptora do dinheiro. Não distingui os elementos do sistema dos elementos pessoais. Hoje, sei que o governo foi vítima de um sistema perverso de construção de maiorias que precisa mudar. O que eu sei hoje é que não foi fácil para o presidente Lula fazer o convite a mim. E não foi fácil, para mim, aceitar.- Qual papel o Sr. atribui ao presidente Lula?
Mangabeira - Há uma nova classe média surgindo no País. Morena, mestiça, que inaugura uma nova cultura, um novo modo de pensar. O Brasil é um país onde só uma minoria da sociedade está organizada. É fácil comunicar-se com a minoria organizada. Mas essa minoria não é referência das necessidades de todo o Brasil. E é difícil comunicar-se com essa maioria desorganizada. Nisso, a identificação do presidente Lula e a sua facilidade de comunicação com a sociedade são fundamentais.- O Sr. foi professor do senador Barack Obama. Que previsão o Sr. faz para a disputa eleitoral americana?Mangabeira - Na Divina comédia, o castigo no inferno para quem faz previsão é ser preso com uma corda no pescoço com a cabeça sempre voltada para trás. Conheço Obama, que foi meu aluno. Ele é uma pessoa de grandes qualidades morais. Sem querer fazer previsões, eu avalio que o perfil de Obama é o que mais se aproxima do momento pelo qual estão passando os EUA.- Que momento é esse?Mangabeira - Há sinais de que os EUA estão se aproximando de um grande momento de inflexão histórica. A lógica de governo do Partido Republicano baseava- se numa conjugação dos interesses da plutocracia e da classe trabalhadora branca. Isso está sendo desmontado. A eleição de Obama pode acelerar esse processo. E pode ser muito boa para o Brasil.- Por quê?Mangabeira - Porque o Brasil é o país do mundo mais parecido com os EUA. Em ambos, houve o povoamento europeu somado à escravidão africana. Em ambos, há grandes desigualdades sociais. Imensos territórios. E, agora, tanto aqui como lá, parece haver, com essa inflexão que mencionei nos EUA, um interesse de mudar o atual modelo de desenvolvimento para a organização de uma economia menos hostil, mais hospitaleira.- Se somos tão parecidos, o que falta ao Brasil para chegar ao patamar dos EUA?Mangabeira - Vontade forte e idéia clara. Para quem tem isso, o mundo está cheio de oportunidades.

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