fuga de cérebros,o troco.05/07/07 Não à tatuagem biopolítica
ta vendo esse homenzinho ai do lado?e quase certeza que ele tem o pensamento mais avançado dos ultimos 10 anos.ele dava aula em nova york,cargo ao qual renunciou em protesto à política de segurança do governo norte-americano.
com a palavra agamben:Os jornais não deixam margem a dúvidas: de agora em diante, quem quiser viajar aos Estados Unidos com visto será fichado e terá de deixar suas impressões digitais registradas ao entrar no país. Pessoalmente, não tenho intenção nenhuma de me submeter a tais procedimentos, e foi por isso que cancelei de imediato os cursos que deveria dar em março na Universidade de Nova York.Eu gostaria de explicar aqui a razão dessa recusa, ou seja, por que, apesar da simpatia que há muitos anos me liga a meus colegas americanos, assim como a seus alunos, considero essa decisão ao mesmo tempo necessária e inapelável e quanto eu gostaria que ela fosse compartilhada por outros intelectuaiseuropeus.Não se trata apenas de uma reação epidérmica diante de um procedimento que há muito tempo vem sendo imposto a criminosos e acusados políticos. Se o problema fosse apenas esse, é evidente que poderíamos aceitar moralmente a idéia de compartilhar, por solidariedade, as condições humilhantes às quais tantos seres humanos são submetidos hoje.Não é isso o essencial. O problema extrapola os limites da sensibilidade pessoal e diz respeito, pura e simplesmente, ao estatuto jurídico-político (talvez fosse mais simples dizer biopolítico) dos cidadãos nos Estados supostamente democráticos em que vivemos.Procura-se, há alguns anos, nos convencer a aceitar como sendo as dimensões humanas e normais de nossa existência certas práticas de controle que sempre foram vistas como excepcionais e, na realidade, inumanas.Assim, ninguém ignora que o controle exercido pelo Estado sobre os indivíduos por intermédio do uso de dispositivos eletrônicos, como cartões de crédito ou telefones celulares, já atingiu limites antes inimagináveis. Mas não é possível ultrapassar certos limiares no controle e na manipulação dos corpos sem penetrar em uma nova era biopolítica, sem dar mais um passo em direção ao que Foucault chamava de animalização progressiva do homemimplementada pelas técnicas mais sofisticadas.
O fichamento eletrônico de impressões digitais e retinas, a tatuagem subcutânea e outras práticas do mesmo gênero são elementos que contribuem para definir esse limiar. As razões de segurança que são evocadas para justificá-las não devem nos impressionar: elas não têm nada a ver com isso.A história nos ensina até que ponto práticas que, num primeiro momento, eram reservadas a estrangeiros acabaram sendo aplicadas ao conjunto dos cidadãos. O que está em jogo aqui não é nada menos que a nova relação biopolítica supostamente "normal" entre os cidadãos e o Estado. Essa relação não tem mais nada a ver com a participação livre e ativa na esfera pública, mas diz respeito ao registro e fichamento do elemento mais privado e incomunicável da subjetividade: falo da vida biológica dos corpos.Assim, aos dispositivos de mídia que controlam e manipulam a palavra pública correspondem, portanto, os dispositivos tecnológicos que inscrevem e identificam a vida nua. Entre esses dois extremos de uma palavra sem corpo e um corpo sem palavra, o espaço daquilo que antes chamávamos de política setorna cada vez mais reduzido, mais exíguo.Assim, ao aplicar ao cidadãos -ou, melhor dizendo, ao ser humano como tal-as técnicas e os dispositivos que inventaram para as classes perigosas, os Estados, que deveriam constituir o espaço da vida política, fizeram dela o suspeito por excelência, a tal ponto que é a própria humanidade que se tornou a classe perigosa. Alguns anos atrás eu escrevi que o paradigma político do Ocidente não era mais a cidade, mas o campo de concentração -que havíamos passado de Atenas a Auschwitz. Tratava-se, evidentemente, de uma tese filosófica e não de umanarrativa histórica, já que não seria o caso de confundir fenômenos que, pelo contrário, convém distinguir.Quero sugerir que a tatuagem sem dúvida surgiu em Auschwitz como a maneira mais normal e mais econômica de organizar a inscrição e o registro dos deportados nos campos de concentração.A tatuagem biopolítica que os Estados Unidos nos impõem neste momento para podermos penetrar em seu território pode muito bem ser o sinal precursor daquilo que, futuramente, nos será exigido aceitar como a inscrição normal da identidade do bom cidadão nos mecanismos e engrenagens do Estado. É por isso que devemos nos opor a ela.
com a palavra agamben:Os jornais não deixam margem a dúvidas: de agora em diante, quem quiser viajar aos Estados Unidos com visto será fichado e terá de deixar suas impressões digitais registradas ao entrar no país. Pessoalmente, não tenho intenção nenhuma de me submeter a tais procedimentos, e foi por isso que cancelei de imediato os cursos que deveria dar em março na Universidade de Nova York.Eu gostaria de explicar aqui a razão dessa recusa, ou seja, por que, apesar da simpatia que há muitos anos me liga a meus colegas americanos, assim como a seus alunos, considero essa decisão ao mesmo tempo necessária e inapelável e quanto eu gostaria que ela fosse compartilhada por outros intelectuaiseuropeus.Não se trata apenas de uma reação epidérmica diante de um procedimento que há muito tempo vem sendo imposto a criminosos e acusados políticos. Se o problema fosse apenas esse, é evidente que poderíamos aceitar moralmente a idéia de compartilhar, por solidariedade, as condições humilhantes às quais tantos seres humanos são submetidos hoje.Não é isso o essencial. O problema extrapola os limites da sensibilidade pessoal e diz respeito, pura e simplesmente, ao estatuto jurídico-político (talvez fosse mais simples dizer biopolítico) dos cidadãos nos Estados supostamente democráticos em que vivemos.Procura-se, há alguns anos, nos convencer a aceitar como sendo as dimensões humanas e normais de nossa existência certas práticas de controle que sempre foram vistas como excepcionais e, na realidade, inumanas.Assim, ninguém ignora que o controle exercido pelo Estado sobre os indivíduos por intermédio do uso de dispositivos eletrônicos, como cartões de crédito ou telefones celulares, já atingiu limites antes inimagináveis. Mas não é possível ultrapassar certos limiares no controle e na manipulação dos corpos sem penetrar em uma nova era biopolítica, sem dar mais um passo em direção ao que Foucault chamava de animalização progressiva do homemimplementada pelas técnicas mais sofisticadas.
O fichamento eletrônico de impressões digitais e retinas, a tatuagem subcutânea e outras práticas do mesmo gênero são elementos que contribuem para definir esse limiar. As razões de segurança que são evocadas para justificá-las não devem nos impressionar: elas não têm nada a ver com isso.A história nos ensina até que ponto práticas que, num primeiro momento, eram reservadas a estrangeiros acabaram sendo aplicadas ao conjunto dos cidadãos. O que está em jogo aqui não é nada menos que a nova relação biopolítica supostamente "normal" entre os cidadãos e o Estado. Essa relação não tem mais nada a ver com a participação livre e ativa na esfera pública, mas diz respeito ao registro e fichamento do elemento mais privado e incomunicável da subjetividade: falo da vida biológica dos corpos.Assim, aos dispositivos de mídia que controlam e manipulam a palavra pública correspondem, portanto, os dispositivos tecnológicos que inscrevem e identificam a vida nua. Entre esses dois extremos de uma palavra sem corpo e um corpo sem palavra, o espaço daquilo que antes chamávamos de política setorna cada vez mais reduzido, mais exíguo.Assim, ao aplicar ao cidadãos -ou, melhor dizendo, ao ser humano como tal-as técnicas e os dispositivos que inventaram para as classes perigosas, os Estados, que deveriam constituir o espaço da vida política, fizeram dela o suspeito por excelência, a tal ponto que é a própria humanidade que se tornou a classe perigosa. Alguns anos atrás eu escrevi que o paradigma político do Ocidente não era mais a cidade, mas o campo de concentração -que havíamos passado de Atenas a Auschwitz. Tratava-se, evidentemente, de uma tese filosófica e não de umanarrativa histórica, já que não seria o caso de confundir fenômenos que, pelo contrário, convém distinguir.Quero sugerir que a tatuagem sem dúvida surgiu em Auschwitz como a maneira mais normal e mais econômica de organizar a inscrição e o registro dos deportados nos campos de concentração.A tatuagem biopolítica que os Estados Unidos nos impõem neste momento para podermos penetrar em seu território pode muito bem ser o sinal precursor daquilo que, futuramente, nos será exigido aceitar como a inscrição normal da identidade do bom cidadão nos mecanismos e engrenagens do Estado. É por isso que devemos nos opor a ela.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home