2007: o pior ano da guerra americana 02/01/08 por Carlos Teixeira,fotos afeganistão.


O reconhecimento, implícito, silencioso, do fracasso da política militar americana para o Iraque consolidou-se na exoneração de Donald Rumsfeld ( afastado em novembro de 2006 ) e na sua substituição por um “kissingeriano” de última fila, Robert Gates. A imensa expectativa em “revolucionar” a arte da guerra, impondo a superioridade americana global através do uso maciço de alta tecnologia e da poupança de “manpower”, mostrou-se irreal numa guerra de tipo assimétrico, baseada na baixa organização e grande mobilidade do inimigo – e travada no meio urbano, como uma guerra das cidades.Os dados do Pentágono, põem por terra o mito de uma guerra iraquiana como sendo uma guerra “hispânica”, da mesma forma que a Guerra do Vietnã teria sido uma “guerra negra”. Na verdade, os brancos pobres e desempregados dos Estados Unidos formam a massa principal de combatentes – e daí os quase 75% de baixas ditas “brancas” –hoje no Iraque. A centralidade das tropas combatentes em pessoal de pequenas e médias cidades do interior americano, onde a desindustrialização avança sobre os setores tradicionais da economia, explica, claramente, a atual incapacidade dos estados Unidos em constituir um amplo exército de voluntários para suas necessidades.


O massacre de um povo:O pior de tudo, contudo, são as baixas de civis iraquianos, massacrados no torno dos ataques terroristas e as retaliações das milícias xiitas, sunitas e das forças “da ordem”, sejam iraquianas, sejam americanas. Números conservadores, muito conservadores, falam em 86.060 mortos civis iraquianos no final de 2007, conforme o “Iraq Body Count”. Fontes independentes, como “The Lancet”, entretanto, aproximam este número de 500 mil.Entre as forças de segurança iraquianas, um alvo preferencial da resistência, as baixas acumuladas chegaram a 16,997, conforme fontes americanas ou 7.756, conforme fontes iraquianas. A diferença explicar-se-ia pela inclusão de outras funções no computo geral. Os ataques contra policiais, bombeiros, paramédicos, funcionários de necrotérios, etc... na maioria das vezes atingindo locais de recrutamento e de preparação de jovens, visa aterrorizar a população e impedir que o frágil Estado iraquiano cumpra com suas funções mínimas. A ação sistemática contra os postos de alistamento e os serviços de segurança estão atrasando, e mesmo impedindo, a formação de um contingente apto a substituir as tropas americanas no país – um dos pilares de uma possível política de desengajamento americano na região.O número acumulado de “combatentes hostis” mortos, quer dizer de membros das variadas formas de resistência, sob registro americano, atingiram 3.415 em 2007. Mesmo aqui os números não são confiáveis e a margem de sub-registro é imensa.A morte de civis em serviço das forças armadas americanas no Iraque – os chamados “contractors” atingiu 1001 indivíduos ao final de 2007. Aqui cabe, também, desmistificar outro “senso comum” da Guerra do Iraque. Embora o número de “contractors” civis, ligados a grandes firmas de segurança atuando no país, possa chegar a algo como 40.000 homens, a maioria é formada por não-combatentes. A visão de um imenso exército civil – o segundo em “manpower”, depois dos EUA – deve ser revista. Um estudo detalhado da função, condições e forma da morte destes mil homens mostra que a grande maioria morreu em emboscadas enquanto se locomoviam no país ou prestavam serviços paralelos – pouquíssimos morreram efetivamente em combate. Da mesma forma temos que reformar nosso conhecimento sobre a atuação destes homens: a grande maioria é formada por americanos, seguidos de britânicos, sul-africanos e russos. Hispânicos e asiáticos são minoria e, quase sempre, ligados a serviços subalternos de manutenção e limpeza.



A diminuição das ações militares no país nos dois últimos meses – depois de um “pico” de abril/maio de 2007 (104 e 126 mortos, respectivamente) deve-se, em grande parte, ao maior controle sobre o uso, por parte da resistência, das chamadas “roadside bomba”, aparentemente em virtude de um controle, também maior, por parte das autoridades iranianas, temerosas de acirrar o enfrentamento com os Estados Unidos, criando a oportunidade para um “casus beli” tão buscado em Washington.

A política de Pervez Musharaff, presidente do Paquistão, de pacificar o Waziristan – na fronteira entre os dois países – e que culminou na retirada da autoridade militar paquistanesa da região, parece ter fortalecido as milícias Talibã-Al Qaeda, sem nenhum sucesso para a diminuição da ação de resistência no próprio Afeganistão. Na verdade, deu-se uma intensificação das ações insurgentes, em especial junto a Kandahar no sul do país. A ida de Romano Prodi e Nicolas Sarkozy, em dezembro de 2007, ao país – com a reafirmação do compromisso da OTAN em pacificar o Afeganistão – marca bastante bem o aprofundamento da crise de segurança regional. Sem qualquer dúvida, a morte de Benazir Bhutto e a situação de caos e insegurança no Paquistão deverão incidir fortemente sobre o Waziristan – onde se supõe estão o Mullah Omar e o próprio Bin Laden – podendo fortalecer a resistência islâmica local. Em suma, 2007 não foi um bom ano para a Guerra Americana contra o terrorismo Global, nem mesmo atingiu resultados mínimos nos conflitos do Iraque e no Afeganistão. A resolução dos conflitos em curso será parte da herança de George Bush.


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