Hannah Arendt e a essência do mal 05/03/08

Susan Neiman: Hannah Arendt não pretendia mostrar que existe o melhor de todos os mundos. Ela quer mostrar, entretanto, que há um mundo que amamos e no qual podemos viver. Por isso, denomino Eichmann em Jerusalém uma moderna teodicéia (nota da redação: doutrina que procura justificar a bondade divina, contra os argumentos tirados da existência do mal no mundo). Arendt tratou de mostrar que o mal como o Holocausto ou pessoas como Eichmann não contribuem para a profundidade e a essência do universo; que o Mal não é misterioso, mas sim banal – algo que entendemos e, pelo menos, de certa forma, podemos afastar.

Exatamente. Em primeiro lugar: quando o mal é demonizado, ele ganha uma força de atração, uma sensualidade, que são altamente perigosas. Em segundo lugar, há um aspecto que pode ser chamado de teológico, algo que pertence realmente às entranhas do mundo, que remete ao pecado original. Ambos dificultam muito a forma de lidar com o mal.
Hannah Arendt diz, entretanto, que não há pecado original. E que o mal não é nem necessário, nem grave. Essa afirmação é uma esperança de que o mundo pode ser mudado? Para mim, é importante mostrar que o mal não pode ser reduzido a uma criatura e que há diferentes tipos de mal. Há o mal banal, que Arendt descreveu de forma tão exata – talvez o maior perigo que enfrentamos. Mas há também outras formas. Durante a Jornada Hannah Arendt, o terrorismo foi muito tematizado. Eu não chamaria o terrorismo de banal nem tentaria encontrar um denominador comum entre um homem como Eichmann e Osama Bin Laden. Ambos são formas de mal que existem até hoje: há naturalmente Eichmanns ou mais personagens como Eichmann em nossa sociedade – trata-se de reconhecê-los e condená-los. Em seu livro, há também referências ao presidente Bush e ao terrorismo islâmico. Há paralelos que podem ser traçados?


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