Lições de Confinamento 06/03/08 por Amy Goodman
Já quase com 87 anos, Yuri Kochiyama vive num pequeno quarto de um lar para idosos em Oakland, na Califórnia. As suas paredes estão revestidas de fotografias, posters, postais e recordações que relatam a história real das lutas revolucionárias do séc. XX. É uma mulher calada, humilde e pequena, e por vezes tem dificuldade em lembrar-se da palavra certa. No entanto, com um brilho nos olhos, não revela qualquer problema em recordar aquela história incrível - não dos livros, nem de documentários, mas por a ter vivido - na linha da frente.Fevereiro marca uma coincidência de aniversários na incrível vida de Kochiyama: há 66 anos, a 19 de Fevereiro de 1942, o Presidente Franklin Delano Roosevelt emitiu a Ordem Executiva 9066, autorizando o confinamento massivo dos Nipo-Americanos. Depois, foi o dia 21 de Fevereiro de 1965, em que Malcom X foi assassinado no Salão de Baile Audubon, na cidade de Nova Iorque.Kochyiama era uma jovem que vivia com os pais em San Pedro, na Califórnia, quando Pearl Harbour foi atacado. Poucas horas depois, o pai dela foi preso pelo FBI. Ela recorda:"[Os agentes do FBI] perguntaram, ‘É aqui que mora um Seichi Nakahara?' eu respondi, 'Ele acaba de chegar do hospital de uma operação a uma úlcera.' E eles entraram e levaram-no - foi tudo tão rápido, acho que nem demorou meio minuto. Nem me atrevi a perguntar o que quer que fosse. Eles já estavam a sair porta fora. Depois telefonei à minha mãe que estava ao fundo da rua, e disse-lhe ‘Vem para casa depressa. O FBI veio cá buscar o pai.'"Ele foi levado para o San Pedro Hospital, onde estavam também a ser tratados marinheiros e fuzileiros americanos feridos nos ataques japoneses. O pai de Kochiyama era a única pessoa de ascendência japonesa no hospital. Puseram-no numa cama por trás de um lençol assinalado "Prisioneiro de Guerra". Kochiyama lembra-se do que a mãe disse: "Quando ela viu a reacção dos outros [pacientes] americanos que estavam a ser trazidos de Wake Island, achou que ele não iria durar muito tempo. Por isso perguntou ao director do hospital se ele podia ficar num quarto sozinho, e quando se sentisse melhor, se o podiam levar para a... prisão, porque aquele hospital, disse ela, era muito provavelmente pior do que a prisão, por causa de todos aqueles americanos feridos."
Ele foi libertado seis semanas mais tarde e regressou a casa extremamente debilitado. Kochiyama recorda: "Ele chegou a casa por volta da hora do jantar, às 17h30. Tinham mandado uma enfermeira com ele. Na manhã seguinte, ela acordou-nos e disse: ‘Foi-se.'" O pai tinha falecido.Yuri e o resto da sua família foram capturados e enviados para Camp Rohwer, no Arkansas, parte de um contingente de mais de 120 mil nipo-americanos internados, dos quais quase 70 mil eram cidadãos americanos. Passou mais de dois anos detida. Casou depois de ser libertada e, juntamente com a família, acabou por mudar-se para Harlem, NI.Yuri estava mudada. A experiência fez com que tomasse consciência das injustiças sofridas, não só pelos nipo-americanos, mas também pelos afro-americanos e latinos. Conheceu Malcom X em 1963. Tornaram-se amigos e aliados. Ele enviou-lhe postais da sua seminal viagem a África. Ela encontrava-se na audiência quando ele foi assassinado no Salão de Baile Audubon em Harlem.Ela correu para o palco: "Malcom tinha caído para trás e estava deitado de costas. Fui lá, segurei-lhe a cabeça e apoiei-a no meu colo. As pessoas perguntam, ‘O que é que ele disse?' Ele não disse nada. Estava apenas com dificuldade de respirar. Eu disse-lhe, ‘Por favor, Malcom, por favor, não morras.' Mas ele tinha sido atingido tantas vezes."O assassínio de Malcom X levou Kochiyama a dedicar a vida à luta pela justiça social, direitos humanos, igualdade racial e direitos dos prisioneiros. É uma apoiante fiel de Mumia Abu-Jamal, que vive há um quarto de século num corredor da morte na Pensilvânia.Ao mesmo tempo que a administração Bush afirma a sua autoridade para deter "combatentes inimigos" sem acusação formada, e fanáticos no Congresso maquinam planos para capturar 12 milhões de pessoas acusadas de serem "estrangeiros ilegais" (100 vezes o numero de nipo-americanos internados), todos temos valiosas lições a aprender com Yuri Kochiyama.
Ele foi libertado seis semanas mais tarde e regressou a casa extremamente debilitado. Kochiyama recorda: "Ele chegou a casa por volta da hora do jantar, às 17h30. Tinham mandado uma enfermeira com ele. Na manhã seguinte, ela acordou-nos e disse: ‘Foi-se.'" O pai tinha falecido.Yuri e o resto da sua família foram capturados e enviados para Camp Rohwer, no Arkansas, parte de um contingente de mais de 120 mil nipo-americanos internados, dos quais quase 70 mil eram cidadãos americanos. Passou mais de dois anos detida. Casou depois de ser libertada e, juntamente com a família, acabou por mudar-se para Harlem, NI.Yuri estava mudada. A experiência fez com que tomasse consciência das injustiças sofridas, não só pelos nipo-americanos, mas também pelos afro-americanos e latinos. Conheceu Malcom X em 1963. Tornaram-se amigos e aliados. Ele enviou-lhe postais da sua seminal viagem a África. Ela encontrava-se na audiência quando ele foi assassinado no Salão de Baile Audubon em Harlem.Ela correu para o palco: "Malcom tinha caído para trás e estava deitado de costas. Fui lá, segurei-lhe a cabeça e apoiei-a no meu colo. As pessoas perguntam, ‘O que é que ele disse?' Ele não disse nada. Estava apenas com dificuldade de respirar. Eu disse-lhe, ‘Por favor, Malcom, por favor, não morras.' Mas ele tinha sido atingido tantas vezes."O assassínio de Malcom X levou Kochiyama a dedicar a vida à luta pela justiça social, direitos humanos, igualdade racial e direitos dos prisioneiros. É uma apoiante fiel de Mumia Abu-Jamal, que vive há um quarto de século num corredor da morte na Pensilvânia.Ao mesmo tempo que a administração Bush afirma a sua autoridade para deter "combatentes inimigos" sem acusação formada, e fanáticos no Congresso maquinam planos para capturar 12 milhões de pessoas acusadas de serem "estrangeiros ilegais" (100 vezes o numero de nipo-americanos internados), todos temos valiosas lições a aprender com Yuri Kochiyama.
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