Dois lobos famintos e um Chapeuzinho Vermelho 20/05/08 por fidel castro
Como não tive preceptor político, a sina e a casualidade foram componentes inseparáveis da minha vida. Adquiri uma ideologia pela minha própria conta desde o instante em que tive uma possibilidade real de observar e meditar a respeito dos anos que vivi como criança, adolescente e jovem estudante. A educação se tornou para mim no instrumento por excelência de uma mudança na época que me coube viver, da qual dependeria a própria sobrevivência da nossa frágil espécie. Depois de uma longa experiência, o que hoje penso relativamente ao delicado tema é absolutamente coerente com esta idéia. Não preciso pedir desculpas, como alguns preferem, por dizer a verdade embora seja dura. Há mais de dois mil anos, Demóstenes, orador grego famoso, defendeu com paixão nas praças públicas uma sociedade em que 85% das pessoas eram escravas ou cidadãos que careciam de igualdade e direitos como algo natural. Os filósofos partilhavam esse ponto de vista. Daí surgiu a palavra democracia. Não se lhes podia exigir mais em sua época. Hoje, que se dispõe de um enorme caudal de conhecimentos, as forças produtivas se multiplicaram inúmeras vezes e as mensagens através da mídia são elaboradas para milhões de pessoas; a maioria esmagadora, cansada da política tradicional, não quer ouvir falar nela. Os homens públicos carecem de confiança quando mais precisam dela os povos perante os riscos que os ameaçam.
Com o derrubamento da URSS, Francis Fukuyama, cidadão norte-americano de origem japonesa, nascido e educado nos Estados Unidos da América e formado numa universidade nesse mesmo país, escreve seu livro "O fim da história e o último homem", o que, com certeza, muitos conhecem, visto que foi bem promovido pelas lideranças do império. Tinha-se tornado num falcão do neo-conservadorismo e promotor do pensamento único. Restaria, segundo ele, só uma classe, a classe média norte-americana; os outros, julgo eu, estaríamos condenados a sermos mendigos. Fukuyama foi partidário decidido da guerra contra o Iraque, como o Vice-presidente Cheney e seu seleto grupo. Para ele a história finaliza no que Marx via como “o fim da pré-história”. Na cerimônia inaugural da Reunião de Cúpula América Latina e o Caribe-União Européia, celebrada no Peru no passado 15 de maio, falou-se em inglês, alemão e noutras línguas européias, sem que partes essenciais dos discursos fossem traduzidos pelas televisoras para o espanhol ou português, como se no México, no Brasil, Peru, Equador e noutros, os indígenas, negros, mestiços e brancos ―mais de 550 milhões de pessoas, em sua imensa maioria pobres― falassem inglês, alemão ou outro idioma forâneo. Contudo, agora se menciona elogiosamente a grande reunião de Lima e sua declaração final. Ali, entre outras coisas, deu-se a entender que as armas que adquire um país ameaçado de genocídio pelo império, como o tem sido Cuba desde há muitos anos e hoje o é a Venezuela, não se diferenciam eticamente das que empregam as forças repressivas para reprimir o povo e defender os interesses da oligarquia, aliada a esse mesmo império. Não se pode converter a nação numa mercadoria mais, nem comprometer o presente e o futuro das novas gerações.
É claro que da IV Frota, como força intervencionista e ameaçadora, não se fala nos discursos que daquela reunião foram televisados. Um dos países latino-americanos ali representados acaba de realizar manobras combinadas com um porta-aviões dos Estados Unidos, do tipo Nimitz, dotado com todo o tipo de armas de extermínio em massa. Nesse país, há uns poucos anos, as forças repressivas fizeram desaparecer, torturaram e assassinaram dezenas de milhares de pessoas. Os filhos das vítimas foram expropriados pelos defensores das propriedades dos grandes ricos. Seus principais líderes militares cooperaram com o império em suas guerras sujas. Confiavam nessa aliança. Por quê cair mais uma vez na mesma armadilha? Embora resulta fácil de inferir o país aludido, não desejo mencioná-lo por não ferir uma nação irmã. A Europa, que nessa reunião teve a voz ativa, é a mesma que apoiou a guerra contra Sérvia, a conquista pelos Estados Unidos do petróleo do Iraque, os conflitos religiosos no Próximo e Médio Oriente, os cárceres e as aterragens secretas, e os planos de torturas horrendas e assassinatos planejados por Bush.
Essa Europa partilha com os Estados Unidos as leis extraterritoriais que, violando a soberania de seus próprios territórios, incrementam o bloqueio contra Cuba obstaculizando o fornecimento de tecnologias, componentes e inclusive medicamentos ao nosso país. Seus meios publicitários se associam ao poder midiático do império. O que eu disse na primeira reunião da América Latina com a Europa, celebrada há nove anos no Rio de Janeiro, mantém toda sua vigência. Nada tem mudado desde então, exceto as condições objetivas, que tornam mais insustentável a atroz exploração capitalista. Por um triz o anfitrião da reunião não deu cabo da paciência dos europeus, quando no encerramento mencionou alguns pontos colocados por Cuba: 1. Cancelar a dívida da América Latina e do Caribe. 2. Investir cada ano nos países do Terceiro Mundo 10 por cento daquilo que gastam nas atividades militares. 3. Cessar os enormes subsídios à agricultura, que concorrem com a produção agrícola dos nossos países. 4. Destinar para a América Latina e o Caribe a parte que lhes corresponde do compromisso de 0,7% do PIB. Pelas caras e os olhares, observei que as lideranças européias engoliram em seco durante uns segundos. Mas, por quê amargar-se? Na Espanha seria ainda mais fácil pronunciar discursos vibrantes e maravilhosas declarações finais. Trabalhara-se imenso. Vinha o banquete. Não haveria na mesa crise alimentar. Abundariam as proteínas e os licores. Só faltava Bush, que trabalhava, incansável, pela paz no Oriente Médio, como é hábito nele. Estava dispensado. Viva o mercado! O espírito dominante nos ricos representantes da Europa era a superioridade étnica e política. Todos eram portadores do pensamento capitalista e consumista burguês, e falaram ou aplaudiram em nome dele. Muitos levaram consigo os empresários que são os alicerces e sustento dos “seus sistemas democráticos, garantes da liberdade e dos direitos humanos”. É preciso ser peritos em física das nuvens para compreendê-los. Na atualidade, os Estados Unidos e a Europa competem entre si e contra si pelo petróleo, as matérias-primas essenciais e os mercados, ao que se soma agora o pretexto da luta contra o terrorismo e o crime organizado que eles próprios têm criado com as vorazes e insaciáveis sociedades de consumo. Dois lobos famintos disfarçados de boas vovozinhas, e um Chapeuzinho Vermelho.
Com o derrubamento da URSS, Francis Fukuyama, cidadão norte-americano de origem japonesa, nascido e educado nos Estados Unidos da América e formado numa universidade nesse mesmo país, escreve seu livro "O fim da história e o último homem", o que, com certeza, muitos conhecem, visto que foi bem promovido pelas lideranças do império. Tinha-se tornado num falcão do neo-conservadorismo e promotor do pensamento único. Restaria, segundo ele, só uma classe, a classe média norte-americana; os outros, julgo eu, estaríamos condenados a sermos mendigos. Fukuyama foi partidário decidido da guerra contra o Iraque, como o Vice-presidente Cheney e seu seleto grupo. Para ele a história finaliza no que Marx via como “o fim da pré-história”. Na cerimônia inaugural da Reunião de Cúpula América Latina e o Caribe-União Européia, celebrada no Peru no passado 15 de maio, falou-se em inglês, alemão e noutras línguas européias, sem que partes essenciais dos discursos fossem traduzidos pelas televisoras para o espanhol ou português, como se no México, no Brasil, Peru, Equador e noutros, os indígenas, negros, mestiços e brancos ―mais de 550 milhões de pessoas, em sua imensa maioria pobres― falassem inglês, alemão ou outro idioma forâneo. Contudo, agora se menciona elogiosamente a grande reunião de Lima e sua declaração final. Ali, entre outras coisas, deu-se a entender que as armas que adquire um país ameaçado de genocídio pelo império, como o tem sido Cuba desde há muitos anos e hoje o é a Venezuela, não se diferenciam eticamente das que empregam as forças repressivas para reprimir o povo e defender os interesses da oligarquia, aliada a esse mesmo império. Não se pode converter a nação numa mercadoria mais, nem comprometer o presente e o futuro das novas gerações.
É claro que da IV Frota, como força intervencionista e ameaçadora, não se fala nos discursos que daquela reunião foram televisados. Um dos países latino-americanos ali representados acaba de realizar manobras combinadas com um porta-aviões dos Estados Unidos, do tipo Nimitz, dotado com todo o tipo de armas de extermínio em massa. Nesse país, há uns poucos anos, as forças repressivas fizeram desaparecer, torturaram e assassinaram dezenas de milhares de pessoas. Os filhos das vítimas foram expropriados pelos defensores das propriedades dos grandes ricos. Seus principais líderes militares cooperaram com o império em suas guerras sujas. Confiavam nessa aliança. Por quê cair mais uma vez na mesma armadilha? Embora resulta fácil de inferir o país aludido, não desejo mencioná-lo por não ferir uma nação irmã. A Europa, que nessa reunião teve a voz ativa, é a mesma que apoiou a guerra contra Sérvia, a conquista pelos Estados Unidos do petróleo do Iraque, os conflitos religiosos no Próximo e Médio Oriente, os cárceres e as aterragens secretas, e os planos de torturas horrendas e assassinatos planejados por Bush.
Essa Europa partilha com os Estados Unidos as leis extraterritoriais que, violando a soberania de seus próprios territórios, incrementam o bloqueio contra Cuba obstaculizando o fornecimento de tecnologias, componentes e inclusive medicamentos ao nosso país. Seus meios publicitários se associam ao poder midiático do império. O que eu disse na primeira reunião da América Latina com a Europa, celebrada há nove anos no Rio de Janeiro, mantém toda sua vigência. Nada tem mudado desde então, exceto as condições objetivas, que tornam mais insustentável a atroz exploração capitalista. Por um triz o anfitrião da reunião não deu cabo da paciência dos europeus, quando no encerramento mencionou alguns pontos colocados por Cuba: 1. Cancelar a dívida da América Latina e do Caribe. 2. Investir cada ano nos países do Terceiro Mundo 10 por cento daquilo que gastam nas atividades militares. 3. Cessar os enormes subsídios à agricultura, que concorrem com a produção agrícola dos nossos países. 4. Destinar para a América Latina e o Caribe a parte que lhes corresponde do compromisso de 0,7% do PIB. Pelas caras e os olhares, observei que as lideranças européias engoliram em seco durante uns segundos. Mas, por quê amargar-se? Na Espanha seria ainda mais fácil pronunciar discursos vibrantes e maravilhosas declarações finais. Trabalhara-se imenso. Vinha o banquete. Não haveria na mesa crise alimentar. Abundariam as proteínas e os licores. Só faltava Bush, que trabalhava, incansável, pela paz no Oriente Médio, como é hábito nele. Estava dispensado. Viva o mercado! O espírito dominante nos ricos representantes da Europa era a superioridade étnica e política. Todos eram portadores do pensamento capitalista e consumista burguês, e falaram ou aplaudiram em nome dele. Muitos levaram consigo os empresários que são os alicerces e sustento dos “seus sistemas democráticos, garantes da liberdade e dos direitos humanos”. É preciso ser peritos em física das nuvens para compreendê-los. Na atualidade, os Estados Unidos e a Europa competem entre si e contra si pelo petróleo, as matérias-primas essenciais e os mercados, ao que se soma agora o pretexto da luta contra o terrorismo e o crime organizado que eles próprios têm criado com as vorazes e insaciáveis sociedades de consumo. Dois lobos famintos disfarçados de boas vovozinhas, e um Chapeuzinho Vermelho.
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