o irã na america latina. 23/05/08
Na Conferência anual organizada pelo Conselho das Américas, que aconteceu no mês de maio, o chefe da diplomacia americana para América Latina criticou o estreitamento das relações entre alguns países da região e o Irã. O historiador Anderson Batista de Melo da UNB, especialista em Oriente Médio, fala sobre o papel do país asiático na América Latina e por que essa aproximação preocupa os Estados Unidos.
CC: Qual o significado do estreitamento das relações diplomáticas e comerciais entre o Irã e alguns países da América Latina, como Venezuela e Bolívia? Anderson Batista de Melo: Novos amigos, novos parceiros, contra velhas tradições. Hoje, o Irã busca se figurar como um dos países contrários ao alinhamento dos Estados Unidos. É mais uma forma de destaque internacional. Quando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, se aproxima de políticos como Chávez, Calderón no México, Cristina Kirchner na Argentina, Daniel Ortega na Nicarágua, ele busca apoio de uma esquerda latino-americana que tem nos seus conteúdos de ação política uma reação contrária ao imperialismo estadounidense. Assim, ele espera obter uma ampliação da sua capacidade de influência, além de ampliar os mercados para o Irã. Nesse mundo de economias integradas, de riquezas tão voláteis, nada melhor do que abrir novas frentes de influência e de possibilidades econômicas na América Latina.
CC: Qual o significado do estreitamento das relações diplomáticas e comerciais entre o Irã e alguns países da América Latina, como Venezuela e Bolívia? Anderson Batista de Melo: Novos amigos, novos parceiros, contra velhas tradições. Hoje, o Irã busca se figurar como um dos países contrários ao alinhamento dos Estados Unidos. É mais uma forma de destaque internacional. Quando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, se aproxima de políticos como Chávez, Calderón no México, Cristina Kirchner na Argentina, Daniel Ortega na Nicarágua, ele busca apoio de uma esquerda latino-americana que tem nos seus conteúdos de ação política uma reação contrária ao imperialismo estadounidense. Assim, ele espera obter uma ampliação da sua capacidade de influência, além de ampliar os mercados para o Irã. Nesse mundo de economias integradas, de riquezas tão voláteis, nada melhor do que abrir novas frentes de influência e de possibilidades econômicas na América Latina.
CC: O chefe da diplomacia americana para América Latina, Thomas Shannon, disse na Conferência anual organizada pelo Conselho das Américas que o Irã pode se tornar “um fator de violência” para o continente. O senhor concorda com a afirmação? ABM: O que entendemos como violência para o continente? Uma intervenção armada dos EUA pelo fato desses governos não estarem mais sujeitos a eles? Essa política iraniana é muito mais algo que virá a ser do que realmente uma política já implantada. Os Estados Unidos não têm mais condição de lidar com a América Latina da mesma forma que lidavam há dez, 15, 20 anos. Hoje, ao fazer ameaças veladas de iminente desestabilizações na região, por conta de um realinhamento da América Latina, os Estados Unidos acaba forçando ainda mais esse afastamento em relação à política estadounidense. CC: Esses países latino-americanos cometem um erro ao ampliar as relações com o Irã? ABM: Não, acho que não. Os líderes de Estados e os grupos de poder que estão nesses governos têm completo direito de buscar um alinhamento com quem esteja a favor deles e queria ampliar as possibilidades de mercado e de influência política. O próprio Irã defende hoje uma cadeira no Conselho de Segurança para a Venezuela, o que mostra que não há uma relação de dominação entre eles. Os Estados Unidos estão colhendo os frutos de quatro décadas de intervenções militares e ditaduras, apoiadas e forjadas por eles na América Latina.
CC: Quais as vantagens desta aproximação? Os acordos econômicos são significativos? ABM: São significativos e vantajosos. Com a Bolívia, o Irã anunciou no ano passado a possibilidade de investir até um bilhão de dólares em cooperação industrial. No caso da Venezuela, o acordo inclui a criação de uma agência comum de exploração de hidrocarboneto. Só com a Venezuela, a cifra dos 29 acordos assinados entre eles já passa de dois bilhões de dólares. Para esses países, os acordos são muito interessantes também, até numa relação de parceria e de igualdade comercial coisa que os Estados Unidos nunca ofereceram. Um dos motivos da visita de Ahmadinejad à América Latina foi fazer frente à Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. CC: Existem desvantagens nestes acordos? ABM: Isso só o tempo vai dizer. CC: Por que a preocupação dos Estados Unidos? ABM: Porque o Irã é um país claramente rival aos Estados Unidos em políticas regionais, além de estar na lista do Departamento de Estado estadunidense como uma das nações que apoia e subsidia terroristas. Os Estados Unidos e o Irã vivem em constante latência de possiblidade de enfrentamento bélico.
CC: Na Conferência organizada pelo Conselho das Américas, o chefe da diplomacia americana disse que a América Latina e o Caribe que o presidente Bush entregará ao seu sucessor são totalmente diferentes dos que herdou em 2001, o senhor concorda com essa afirmação? ABM: Com certeza. CC: Quais seriam essas mudanças? ABM: Uma América Latina mais autônoma, com uma elite menos cooptadas pelos Estados Unidos. Não que essas elites cooptadas não existam mais. Vale lembrar a frase do embaixador Juraci Magalhães, em 1964, logo depois do golpe militar: “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Não existe mais esse tipo de casta política ou, se existe, já é extremamente diminuta, numa América Latina que caminha cada vez mais em direção ao Estado de Direito para olhar sua face autóctone de liberdade. Uma América Latina muito diferente daquela América satélite que os Estados Unidos tiveram principalmente depois da Segunda Guerra Mundial. CC: Na quarta-feira, dia 14 de maio, o Irã entregou um documento à União Européia, propondo a criação de um consórcio internacional para o enriquecimento de urânio a fim de limitar os perigos da proliferação. O que isso significa? ABM: Cada vez mais, o presidente costura na periferia, fora do ambiente de tensão, acordos e situações como essa da União Européia e da América Latina. De forma muito inteligente, Ahmadinejad costura um apoio e uma aceitação tal para o Irã que torna pífio os embargos que os Estados Unidos publicaram contra o Irã.
CC: Quais as vantagens desta aproximação? Os acordos econômicos são significativos? ABM: São significativos e vantajosos. Com a Bolívia, o Irã anunciou no ano passado a possibilidade de investir até um bilhão de dólares em cooperação industrial. No caso da Venezuela, o acordo inclui a criação de uma agência comum de exploração de hidrocarboneto. Só com a Venezuela, a cifra dos 29 acordos assinados entre eles já passa de dois bilhões de dólares. Para esses países, os acordos são muito interessantes também, até numa relação de parceria e de igualdade comercial coisa que os Estados Unidos nunca ofereceram. Um dos motivos da visita de Ahmadinejad à América Latina foi fazer frente à Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. CC: Existem desvantagens nestes acordos? ABM: Isso só o tempo vai dizer. CC: Por que a preocupação dos Estados Unidos? ABM: Porque o Irã é um país claramente rival aos Estados Unidos em políticas regionais, além de estar na lista do Departamento de Estado estadunidense como uma das nações que apoia e subsidia terroristas. Os Estados Unidos e o Irã vivem em constante latência de possiblidade de enfrentamento bélico.
CC: Na Conferência organizada pelo Conselho das Américas, o chefe da diplomacia americana disse que a América Latina e o Caribe que o presidente Bush entregará ao seu sucessor são totalmente diferentes dos que herdou em 2001, o senhor concorda com essa afirmação? ABM: Com certeza. CC: Quais seriam essas mudanças? ABM: Uma América Latina mais autônoma, com uma elite menos cooptadas pelos Estados Unidos. Não que essas elites cooptadas não existam mais. Vale lembrar a frase do embaixador Juraci Magalhães, em 1964, logo depois do golpe militar: “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Não existe mais esse tipo de casta política ou, se existe, já é extremamente diminuta, numa América Latina que caminha cada vez mais em direção ao Estado de Direito para olhar sua face autóctone de liberdade. Uma América Latina muito diferente daquela América satélite que os Estados Unidos tiveram principalmente depois da Segunda Guerra Mundial. CC: Na quarta-feira, dia 14 de maio, o Irã entregou um documento à União Européia, propondo a criação de um consórcio internacional para o enriquecimento de urânio a fim de limitar os perigos da proliferação. O que isso significa? ABM: Cada vez mais, o presidente costura na periferia, fora do ambiente de tensão, acordos e situações como essa da União Européia e da América Latina. De forma muito inteligente, Ahmadinejad costura um apoio e uma aceitação tal para o Irã que torna pífio os embargos que os Estados Unidos publicaram contra o Irã.
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