Philosophy of Mathematics 17/07/08 por Michael Dummett


– os conselhos de investigação e a Academia britânica – a forçá-los a completar as suas teses doutorais no espaço de três anos de graduação; mas isso quase não é preciso. Nervosamente conscientes desde o início que se devem acotovelar para o número reduzido de posições, estão ansiosos por saltar a primeira barreira do PhD tão depressa quanto possível, e depois submeter apressadamente as suas teses não revistas para os editores as transformarem em livros.
As universidades não têm outra opção se não cooperar em organizar a confusão esquálida em que o estudo graduado se tem tornado, introduzindo os novos “incentivos” para os seus professores e leitores e disponibilizando os dados para o processo de avaliação. A questão é até que ponto elas irão absorver os valores dos seus suseranos e livrarem-se daqueles que costumavam ter. Uma vez mais, são os estudantes graduados que estão em maior risco, pois, com efeito, têm sido ensinados que a competição desleal opera tão ferozmente no mundo académico, como no mundo comercial, e o que importa não é a qualidade do que tu escreves mas a velocidade com que tu o escreves e o colocas numa publicação. Obviamente, é tão objectável num país capitalista, como num país comunista, que os políticos devam decidir como as universidades são administradas; mas é catastrófico quando esses políticos manifestam uma total ignorância da necessidade de avaliar a produtividade académica baseados em princípios muito diferentes daqueles aplicáveis na indústria. Os nossos governantes mostram uma pequena sensibilidade que, tal como na indústria, a qualidade é relevante tal como é a quantidade: os seus indicadores de performance são por vezes modificados pelo uso de critérios mais sofisticados, tais como contando o número de referências feitas por outros autores a um dado artigo. Porém, Frege nunca teria sobrevivido a tal teste: as suas publicações foram muito pouco referidas durante a sua vida. Apesar de a quantidade não ser o único critério, isto é certamente pernicioso. A razão é que a superprodução destrói o propósito genuíno da publicação académica. Há muito que se tornou impossível acompanhar a enchente de livros e revistas profissionais, cujo número aumenta todos os anos; desde que isto ocorre, a sua produção tornou-se uma irrelevância para o académico, salvo o livro ou artigo ocasional em que tropeça por acaso. Isto aplica-se particularmente à filosofia. Os historiadores podem ser capazes de ignorar muito do trabalho dos seus colegas como sendo irrelevante para os seus períodos, mas raramente os filósofos são tão especializados que haja alguma coisa que se possam permitir ignorar em virtude do seu assunto. Dada a necessidade de tempo para ensinar, para estudar os clássicos de filosofia e para pensar, eles não podem dar-se ao luxo de se deixarem arrastar pela superabundância de livros e artigos não-maus na esperança de acertarem naquele que verdadeiramente lhe lançará luz sobre os problemas com que estão envoltos; assim, se são sensatos, ignoram-nos totalmente.Os académicos que entregavam os seus prometidos manuscritos com vinte anos de atraso costumavam causar-nos graça; mas era uma graça respeitosa, porque sabíamos que o atraso era devido, não à preguiça, mas ao perfeccionismo. O perfeccionismo pode ser obsessivo, como aquele que impediu Wittgenstein de publicar outro livro durante a sua vida, e provavelmente ele assim teria feito independentemente de quanto tempo tivesse vivido; mas, como se costuma dizer, não é uma falha mal-intencionada. Todo o livro conhecido, todo o artigo conhecido, acrescenta peso às coisas para outros lerem, e, consequentemente, reduz as hipóteses de se lerem outros livros ou artigos. Portanto, a sua publicação não é automaticamente justificada por ter algum mérito em si: o mérito deve ser suficientemente grande para libertar de peso o desserviço feito por ter sido publicado de todo. Naturalmente, nenhum escritor particular pode esperar ser capaz de pesar correctamente o seu livro comparativamente a outros, mas ele devia estar consciente dos dois pratos da balança. Nós costumávamos ser ensinados a acreditar de que ninguém deveria colocar alguma coisa para publicação até que não conseguisse mais ver como tornar isso ainda melhor. Esse, eu continuo a acreditar, é o critério que devemos aplicar; é o único meio que existe de manter a qualidade do material publicado tão alta quanto possível, e a sua quantidade maleavelmente baixa. Os ideólogos, que na sua arrogância forçam-nos aos seus ideais mal concebidos, tentam fazer-nos aplicar o critério virtualmente oposto: publica assim que conseguires um editor ou editora que aceite. Externamente somos compelidos a cumprir com as suas demandas; mas vamos, internamente, continuar a manter os nossos próprios valores.

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