Pier Paolo Pasolini 02/05/07
Na cara religiosa do manco já estava completamente assinalado o destino próximo: a aurora estragada, o primeiro solzinho mau, a chegada dos meganha, a prisão, ou a tentativa de fuga, ou talvez o tiroteio. Mas nós somos burgueses e temos inato o senso da prudência, da preocupação por nossa saúde, da capacidade para deixar para amanhã o que não podemos fazer hoje, do respeito por aquilo em que a vida se consolida, se ordena e vira opinião pública e bom senso. A nossa existência flui como uma página de prosa; os rasgos e os momentos poéticos que subvertem o diabólico e mesquinho cálculo da gramática acontecem à nossa revelia, e depois podemos até trabalhá-los e refletir sobre eles por anos a fio, dão grandes conversas com os amigos.
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