Lições do triunfo de Barack Obama na Baía de Chesapeake 12/03/08 por Amy GOODMAN
Depois das eleições primárias do Potomac, a Virgínia converteu-se em novo Massachusetts e o Texas na nova Flórida. Barack Obama reivindicou ter conseguido uma “vitória na Baía de Chesapeake”1, já que ganhou as três primárias – Maryland, o Distrito de Colúmbia e Virgínia – por uma ampla margem. Hillary Clinton, cuja campanha admitiu as ditas vitórias, vai jogar tudo nas próximas eleições primárias de Texas, Ohio e Pennsylvania, nas quais está em jogo um grande número de delegados, sem haver anunciado atos de campanha nos estados onde se celebravam as votações mais imediatas: Wisconsin e Havaí.Menciona-se habitualmente que a campanha de Clinton considera o voto latino do Texas como seu “cortafogos” (ou, como ironicamente observa The Guardian, seu “contrafogo”). Antes que as urnas fechassem nas primárias de Potomac, a senadora estava fazendo campanha em El Paso, Texas. Ao aplicar uma estratégia como a de Rudy Giuliani, de saltar e perder vários estados enquanto investe em conseguir a vitória em um estado-chave (como Giuliani fez com a Flórida), Clinton tem que fazer campanha para manter sua influência sobre os eleitores latinos, os votantes de baixa renda e as mulheres. As pesquisas de boca de urna das primárias de Potomac sugerem que Obama está começando a encurtar alguns pontos da vantagem de Clinton nesses determinantes eleitorados.Mas, enquanto que os analistas opinam sobre a disputa eleitoral democrata, inesperadamente competitiva, vale a pena considerar um fator decisivo: o nível de participação dos eleitores não tem precedentes e, mantido até novembro, poderia criar uma mudança transcendental no panorama político dos EUA.Tomemos, por exemplo, o estado de Virgínia. Poderia tornar-se democrata este estado republicano? Os democratas conseguiram convocar quase um milhão de votantes no dia das primárias, terça-feira, 12 de fevereiro, enquanto que os republicanos não ultrapassaram os 475.000. Um fato: os democratas mobilizaram duas vezes e meia mais votantes do que os que participaram nas primárias de Virgínia, em 2004, e ampliaram o número de votantes das primárias republicanas em uma relação de dois por um. Os eleitores democratas estão acudindo em massa, enquanto os republicanos da Virgínia parecem ter ficado em casa na ocasião.Isto poderia pressagiar dois importantes resultados. Em primeiro lugar, a Virgínia poderia deixar de ser um estado republicano para ser um estado democrata nas eleições de novembro. Ainda que durante décadas, a Virgínia deu seus índices eleitorais aos republicanos, John McCain deveria se precaver, já que o último candidato presidencial republicano que perdeu na Virgínia foi outro senador republicano de Arizona (Barry Goldwater, derrotado por Lyndon Johnson em 1964).
Recordemos da mesma maneira que os eleitores da Virgínia foram os primeiros a levar um afro-americano ao cargo de governador, ao eleger o democrata Douglas Wilder em 1990. Este repentino aumento da participação eleitoral poderia também dar passagem a um segundo senador democrata na Virgínia, que substituiria o senador republicano que sai, John Warner, que cumpre 81 anos esta semana.Consideremos o Colorado. Este estado também viu um enorme aumento na participação dos votantes. Nos recentes caucuses ou assembléias eleitorais (ganhas comodamente por Obama), os democratas convocaram112.000 eleitores diante dos 70.000 dos republicanos. O Colorado costuma ser descrito como um estado “púrpura”, porque está mudando de vermelho (republicano) para o azul (democrata): este estado ofereceu seus pontos ao candidato republicano em todas as eleições desde Dwight Eisenhower, salvo Johnson, em 1964, e Bill Clinton, em 1992.Em 2004, o democrata Ken Salazar ganhou a cadeira do Senado que o republicano Ben Nighthorse Campbell deixava vazia, enquanto que o irmão de Salazar, John, ganhou a cadeira da Câmara de Representantes que havia sido ocupada pelo direitista Scott McInnis durante 12 anos. Assim como Warner, o senador republicano Wayne Allard vai se aposentar, e as pesquisas, junto com o aumento da participação de eleitores, indicam que o atual representante democrata, Mark Udall, ganhará a candidatura para o Senado. Embora haja entusiasmo e confiança entre os democratas de que podem recuperar a Casa Branca em 2008, ainda necessitam decidir quem será seu candidato. A ameaça da recessão tomou conta da atenção de muita gente, mas o que está no fundo deste momento político, atrás dos resultados das pesquisas e no aumento dos votantes, é a guerra do Iraque. Em última instância, os democratas têm dois candidatos, um dos quais se opôs à guerra do Iraque e outra que a autorizou.
Há um ano, enquanto fazia campanha em New Hampshire, Clinton aconselhou seus possíveis partidários: “Se o mais importante para vocês é eleger alguém que não emitiu esse voto, ou que disse que seu voto foi um erro, então existem outros candidatos entre os quais escolher. Mas, para mim, o mais importante agora é tentar acabar com esta guerra”.Clinton obstinou-se em sua recusa a admitir que seu voto a favor da guerra foi um erro. Em uma recente transmissão de Meet the Press, assegurou que o voto que emitiu em 2002 não foi na realidade um voto a favor da guerra: “É totalmente injusto dizer que... foi um voto a favor da guerra. Foi um voto a favor de utilizar a ameaça do uso da força contra Saddam Hussein, que nunca fez nada sem que fosse obrigado a fazê-lo”. Ao que Tim Russert respondeu, recordando o seguinte: “O título da lei era ‘Resolução de autorização para o uso da força militar contra o Iraque’”.No Partido Democrata, a ala progressista e contrária à guerra experimentou uma revitalização. Agora que Dennis Kucinich e John Edwards estão fora, a atenção dos opositores à guerra centra-se em Obama (ainda que seus planos atuais para o Iraque sejam virtualmente impossíveis de diferenciar dos de Clinton: nenhum dos dois advoga por uma retirada imediata). Obama, claramente, está se vendo beneficiado pelo aumento da participação dos eleitores. Assim, estão ganhando os candidatos locais. Donna Edwards, a democrata de Maryland opositora à guerra, acaba de vencer suas eleições primárias, derrotando um rival que levava oito anos no cargo, e que votou a favor de proporcionar fundos para a guerra. Se ganhar em novembro, será a primeira mulher afro-estadounidense a representar Maryland no Congresso dos EUA.Com efeito, os votantes opositores à guerra, que pensam que seu voto importa, têm outros candidatos em quem que votar além da senadora Clinton. E existem muitos eleitores contrários à guerra buscando boas alternativas.
Recordemos da mesma maneira que os eleitores da Virgínia foram os primeiros a levar um afro-americano ao cargo de governador, ao eleger o democrata Douglas Wilder em 1990. Este repentino aumento da participação eleitoral poderia também dar passagem a um segundo senador democrata na Virgínia, que substituiria o senador republicano que sai, John Warner, que cumpre 81 anos esta semana.Consideremos o Colorado. Este estado também viu um enorme aumento na participação dos votantes. Nos recentes caucuses ou assembléias eleitorais (ganhas comodamente por Obama), os democratas convocaram112.000 eleitores diante dos 70.000 dos republicanos. O Colorado costuma ser descrito como um estado “púrpura”, porque está mudando de vermelho (republicano) para o azul (democrata): este estado ofereceu seus pontos ao candidato republicano em todas as eleições desde Dwight Eisenhower, salvo Johnson, em 1964, e Bill Clinton, em 1992.Em 2004, o democrata Ken Salazar ganhou a cadeira do Senado que o republicano Ben Nighthorse Campbell deixava vazia, enquanto que o irmão de Salazar, John, ganhou a cadeira da Câmara de Representantes que havia sido ocupada pelo direitista Scott McInnis durante 12 anos. Assim como Warner, o senador republicano Wayne Allard vai se aposentar, e as pesquisas, junto com o aumento da participação de eleitores, indicam que o atual representante democrata, Mark Udall, ganhará a candidatura para o Senado. Embora haja entusiasmo e confiança entre os democratas de que podem recuperar a Casa Branca em 2008, ainda necessitam decidir quem será seu candidato. A ameaça da recessão tomou conta da atenção de muita gente, mas o que está no fundo deste momento político, atrás dos resultados das pesquisas e no aumento dos votantes, é a guerra do Iraque. Em última instância, os democratas têm dois candidatos, um dos quais se opôs à guerra do Iraque e outra que a autorizou.
Há um ano, enquanto fazia campanha em New Hampshire, Clinton aconselhou seus possíveis partidários: “Se o mais importante para vocês é eleger alguém que não emitiu esse voto, ou que disse que seu voto foi um erro, então existem outros candidatos entre os quais escolher. Mas, para mim, o mais importante agora é tentar acabar com esta guerra”.Clinton obstinou-se em sua recusa a admitir que seu voto a favor da guerra foi um erro. Em uma recente transmissão de Meet the Press, assegurou que o voto que emitiu em 2002 não foi na realidade um voto a favor da guerra: “É totalmente injusto dizer que... foi um voto a favor da guerra. Foi um voto a favor de utilizar a ameaça do uso da força contra Saddam Hussein, que nunca fez nada sem que fosse obrigado a fazê-lo”. Ao que Tim Russert respondeu, recordando o seguinte: “O título da lei era ‘Resolução de autorização para o uso da força militar contra o Iraque’”.No Partido Democrata, a ala progressista e contrária à guerra experimentou uma revitalização. Agora que Dennis Kucinich e John Edwards estão fora, a atenção dos opositores à guerra centra-se em Obama (ainda que seus planos atuais para o Iraque sejam virtualmente impossíveis de diferenciar dos de Clinton: nenhum dos dois advoga por uma retirada imediata). Obama, claramente, está se vendo beneficiado pelo aumento da participação dos eleitores. Assim, estão ganhando os candidatos locais. Donna Edwards, a democrata de Maryland opositora à guerra, acaba de vencer suas eleições primárias, derrotando um rival que levava oito anos no cargo, e que votou a favor de proporcionar fundos para a guerra. Se ganhar em novembro, será a primeira mulher afro-estadounidense a representar Maryland no Congresso dos EUA.Com efeito, os votantes opositores à guerra, que pensam que seu voto importa, têm outros candidatos em quem que votar além da senadora Clinton. E existem muitos eleitores contrários à guerra buscando boas alternativas.
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