entrevista André Langaney 16/04/08
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Quais foram as certezas mais abaladas pelas descobertas científicas deste século?André Langaney: Eu acho que a biologia abalou profundamente a idéia que fazíamos da morte e do nascimento. Antigamente, a vida de um indivíduo começava no momento em que ele saía do útero da mãe e a morte ocorria quando o coração parava de bater. Hoje, a questão é muito mais complexa, induzindo uma enorme quantidade de conseqüências éticas.
No momento atual, o início da vida de um ser humano é completamente incerto, porque esse não é um acontecimento definido. Para a ciência, esse momento não começa no encontro entre um espermatozóide e um óvulo. Nem sete horas mais tarde, quando os dois núcleos se fundem. Nem mesmo quando o ovo vai descer e implantar-se no útero. Esse amontoado de células, todas idênticas, também não é um ser humano, já que ele pode dividir-se em dois para se transformar em gêmeos, clones. Esta é uma prática corrente nos experimentos feitos com animais de criação. A divisão embrionária pode ocorrer durante os quinze dias posteriores à concepção. Assim, os métodos contraceptivos que agem antes de uma, ou até duas semanas, não atingem indivíduos, mas amontoados de células potencialmente capazes de formar um indivíduo. As mulheres eliminam naturalmente uma grande quantidade de óvulos fecundados.
Onde começa o respeito à vida?Não se pode proteger todos os possíveis. Todos os dias nós perdemos 80 fios de cabelo, que levam com eles células do bulbo capilar que contêm, todas, nosso patrimônio genético. Por outro lado, é preciso respeitar a vida humana. É necessário ainda expressar claramente o que isso significa. Em algumas sociedades, as crianças tornam-se humanas quando dominam o uso da palavra, e as que são privadas disso algumas vezes são eliminadas. Essas noções são portanto arbitrárias, são convenções sociais e culturais que podem ser bastante variáveis. Atualmente, na Europa, as crianças são protegidas a partir de seu nascimento, com raras exceções. Os bebês privados de cérebro, por exemplo, ou mantidos em sobrevida artificial, são eliminados. Isso não é dito publicamente. E, a meu ver, é um erro.
O senhor é a favor de um determinado eugenismo?A palavra "eugenismo" tornou-se maldita depois do nazismo, mas, na verdade, nossa sociedade pratica, sem confessar, um eugenismo "discretamente negativo". Os direitos da criança algumas vezes entram em competição com o de se ter filhos. Do ponto de vista do cidadão que vai nascer, não acho que se deva permitir a realização, por meio de fecundação artificial, de um filho de um pai tetraplégico e de uma mãe trissômica. Mas é preciso que tudo isso seja feito de maneira oficial, a fim de evitar qualquer desvio.O problema é comparável ao da eutanásia?O fim da vida tornou-se tão incerto quanto o seu início. Então, em que momento "desligar"? Quem deve decidir? O que fazer diante de um doente de câncer que uiva de dor pedindo para que acabem com sua vida? Considero que não é no segredo de um consultório médico que uma decisão como essa deve ser tomada. A eutanásia é uma prática universal, porém jamais oficializada, com exceção apenas dos Países Baixos. Lá, o médico e a família decidem juntos, de acordo com modalidades bem definidas. Isso não deve também permitir a eliminação de tias com heranças a deixar! Seria desejável que na França também uma lei definisse e enquadrasse a eutanásia.A clonagem humana, ou os OGMs são algumas das grandes interrogações éticas do próximo século. O que o senhor pensa a respeito disso?Meu pai tem um problema de córnea. Ele precisa de um transplante, mas não existe doador para pessoas da idade dele. Se amanhã ou depois, como é provável, for possível restabelecer-lhe a visão fabricando-se uma córnea a partir de células matrizes desenvolvidas em um embrião, pode acreditar que não terei a menor dúvida. A id[eia é clonar órgãos simples, não olhos ou corações, para fins terapêuticos. O clone total é uma lenda.Em matéria de OGMs, da mesma forma, acredito que não se deva proibir nada quanto aos princípios, mas examinar com uma atenção extrema todos os casos particulares. Assim, estou pronto a assumir riscos para melhorar a saúde humana, ou o trabalho do camponês. Mas isso não deve levar à propagação anormal de pesticidas no meio ambiente, ou a privar os agricultores de grãos para as colheitas seguintes, o que é inadmissível. Como não se deve também manipular arbitrariamente os genes da colza na Europa, porque existem todas as chances de que essa planta se hibridize com crucíferas2 selvagens, podendo provocar a disseminação de determinados genes. Se se tratar de genes resistentes aos antibióticos, isso é criminoso.Porém sempre haverá loucos que farão experiências dementes em laboratórios clandestinos. Contrariamente à bomba atômica, a biologia exige poucos investimentos, e existem muitas pessoas competentes no planeta...
A lei permite evitar desvios como esses?Existe na França uma lei sobre a bioética. Mas ela não é aplicável. As técnicas progrediram rápido demais para que se possa enquadrá-las na lei. Evidentemente é preciso pôr um fim aos desvios, imediatamente, o que qualquer governo pode fazer por decreto, a partir das leis existentes e dos princípios inscritos na Constituição. Foi assim que se acabou com o fenômeno das mães de aluguel, que estava assumindo as proporções de um tráfico vil, totalmente contrário à ética.
Quais foram as certezas mais abaladas pelas descobertas científicas deste século?André Langaney: Eu acho que a biologia abalou profundamente a idéia que fazíamos da morte e do nascimento. Antigamente, a vida de um indivíduo começava no momento em que ele saía do útero da mãe e a morte ocorria quando o coração parava de bater. Hoje, a questão é muito mais complexa, induzindo uma enorme quantidade de conseqüências éticas.
No momento atual, o início da vida de um ser humano é completamente incerto, porque esse não é um acontecimento definido. Para a ciência, esse momento não começa no encontro entre um espermatozóide e um óvulo. Nem sete horas mais tarde, quando os dois núcleos se fundem. Nem mesmo quando o ovo vai descer e implantar-se no útero. Esse amontoado de células, todas idênticas, também não é um ser humano, já que ele pode dividir-se em dois para se transformar em gêmeos, clones. Esta é uma prática corrente nos experimentos feitos com animais de criação. A divisão embrionária pode ocorrer durante os quinze dias posteriores à concepção. Assim, os métodos contraceptivos que agem antes de uma, ou até duas semanas, não atingem indivíduos, mas amontoados de células potencialmente capazes de formar um indivíduo. As mulheres eliminam naturalmente uma grande quantidade de óvulos fecundados.
Onde começa o respeito à vida?Não se pode proteger todos os possíveis. Todos os dias nós perdemos 80 fios de cabelo, que levam com eles células do bulbo capilar que contêm, todas, nosso patrimônio genético. Por outro lado, é preciso respeitar a vida humana. É necessário ainda expressar claramente o que isso significa. Em algumas sociedades, as crianças tornam-se humanas quando dominam o uso da palavra, e as que são privadas disso algumas vezes são eliminadas. Essas noções são portanto arbitrárias, são convenções sociais e culturais que podem ser bastante variáveis. Atualmente, na Europa, as crianças são protegidas a partir de seu nascimento, com raras exceções. Os bebês privados de cérebro, por exemplo, ou mantidos em sobrevida artificial, são eliminados. Isso não é dito publicamente. E, a meu ver, é um erro.
O senhor é a favor de um determinado eugenismo?A palavra "eugenismo" tornou-se maldita depois do nazismo, mas, na verdade, nossa sociedade pratica, sem confessar, um eugenismo "discretamente negativo". Os direitos da criança algumas vezes entram em competição com o de se ter filhos. Do ponto de vista do cidadão que vai nascer, não acho que se deva permitir a realização, por meio de fecundação artificial, de um filho de um pai tetraplégico e de uma mãe trissômica. Mas é preciso que tudo isso seja feito de maneira oficial, a fim de evitar qualquer desvio.O problema é comparável ao da eutanásia?O fim da vida tornou-se tão incerto quanto o seu início. Então, em que momento "desligar"? Quem deve decidir? O que fazer diante de um doente de câncer que uiva de dor pedindo para que acabem com sua vida? Considero que não é no segredo de um consultório médico que uma decisão como essa deve ser tomada. A eutanásia é uma prática universal, porém jamais oficializada, com exceção apenas dos Países Baixos. Lá, o médico e a família decidem juntos, de acordo com modalidades bem definidas. Isso não deve também permitir a eliminação de tias com heranças a deixar! Seria desejável que na França também uma lei definisse e enquadrasse a eutanásia.A clonagem humana, ou os OGMs são algumas das grandes interrogações éticas do próximo século. O que o senhor pensa a respeito disso?Meu pai tem um problema de córnea. Ele precisa de um transplante, mas não existe doador para pessoas da idade dele. Se amanhã ou depois, como é provável, for possível restabelecer-lhe a visão fabricando-se uma córnea a partir de células matrizes desenvolvidas em um embrião, pode acreditar que não terei a menor dúvida. A id[eia é clonar órgãos simples, não olhos ou corações, para fins terapêuticos. O clone total é uma lenda.Em matéria de OGMs, da mesma forma, acredito que não se deva proibir nada quanto aos princípios, mas examinar com uma atenção extrema todos os casos particulares. Assim, estou pronto a assumir riscos para melhorar a saúde humana, ou o trabalho do camponês. Mas isso não deve levar à propagação anormal de pesticidas no meio ambiente, ou a privar os agricultores de grãos para as colheitas seguintes, o que é inadmissível. Como não se deve também manipular arbitrariamente os genes da colza na Europa, porque existem todas as chances de que essa planta se hibridize com crucíferas2 selvagens, podendo provocar a disseminação de determinados genes. Se se tratar de genes resistentes aos antibióticos, isso é criminoso.Porém sempre haverá loucos que farão experiências dementes em laboratórios clandestinos. Contrariamente à bomba atômica, a biologia exige poucos investimentos, e existem muitas pessoas competentes no planeta...
A lei permite evitar desvios como esses?Existe na França uma lei sobre a bioética. Mas ela não é aplicável. As técnicas progrediram rápido demais para que se possa enquadrá-las na lei. Evidentemente é preciso pôr um fim aos desvios, imediatamente, o que qualquer governo pode fazer por decreto, a partir das leis existentes e dos princípios inscritos na Constituição. Foi assim que se acabou com o fenômeno das mães de aluguel, que estava assumindo as proporções de um tráfico vil, totalmente contrário à ética.
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