REGRAS PARA O PARQUE HUMANO.18/06/07 Peter Sloterdijk
O desenvolvimento a longo prazo conduzirá a uma reforma genética das características da espécie humana? Uma antropotecnologia futura avançará até um planejamento explícito de suas características?Essas perguntas de respostas complexas estiveram no centro do já famoso discurso de Elmau: um debate sobre a evolução futura da espécie no contexto de "um humanismo que naufragou como escola da domesticação humana", e do qual ninguém poderá se furtar. Em julho de 1999 eclodiu uma polêmica num pitoresco castelo da Baviera como há muito já não se via nestes tempos de horizontes tranqüilos e conflitos pasteurizados. Uma palestra refinada e aparentemente despretensiosa - tomando como ponto de partida o diagnóstico heideggeriano da crise do humanismo e prosseguindo retroativamente pela denúncia nietzscheana da domesticação apequenadora do homem pelo homem até as acintosas recomendações de Platão sobre a arte de pastorear seres humanos - se transformaria no maior debate político-filosófico dos últimos anos a varrer uma Europa em confronto com um fim-de-século tão cheio de indagações e inseguranças quanto o foi seu início.
Para onde nos levará o perigoso fim do humanismo literário enquanto utopia da formação humana? Como nos posicionar frente ao homem re-desenhado, frente às manipulações genéticas que sabemos serão feitas quer se queira ou não? A discussão é fundamental e apenas ensaia seus primeiros passos. Ingressamos no terreno movediço da antropotécnica, como diria Sloterdijk. Uma leitura atenta deste texto tão recente e já célebre - e ele mesmo um revelador exemplo de uma descontextualização simplifi-cadora por uma parte da crítica - nos mostra o autor advogando a necessidade de se definir regras éticas e controles sociais para as aplicações tecnológicas já ao alcance dos grandes conglomerados da bioengenharia e, em especial, para as assustadoras possibi-lidades, já fartamente disponíveis, de seleção pré-natal dos próprios seres humanos.
Trechos: " Com o estabelecimento midiático da cultura de massas no Primeiro Mundo em 1918 (radiodifusão) e depois de 1945 (televisão) e mais ainda pela atual revolução da Internet, a coexistência humana nas sociedades atuais foi retomada a partir de novas bases. Essas bases, como se pode mostrar sem esforço, são decididamente pós-literárias, pós-epistolares e, conse-qüentemente, pós-humanistas. Quem considera demasiado dramático o prefixo "pós-" nas formulações acima poderia substituí-lo pelo advérbio "marginalmente" - de forma que nossa tese diz: é apenas mar-ginalmente que os meios literários, epis-tolares e humanistas servem às grandes sociedades modernas para a produção de suas sínteses políticas e culturais."" O que ainda domestica o homem, se o humanismo naufragou como escola da domesticação humana? (...) O que domestica o homem, se em todas as experiências prévias com a educação do gênero humano permaneceu obscuro quem - ou o quê - educa os educadores, e para quê? Ou será que a questão sobre o cuidado e formação do ser humano não se deixa mais formular de modo pertinente no campo das meras teorias da domesticação e educação?"" Se o desenvolvimento a longo prazo também conduzirá a uma reforma genética das características da espécie - se uma antropo-tecnologia futura avançará até um planejamento explícito de características, se o gênero humano poderá levar a cabo uma comutação do fatalismo do nascimento ao nascimento opcional e à seleção pré-natal - nestas perguntas, ainda que de maneira obscura e incerta, começa a abrir-se à nossa frente o horizonte evolutivo."
A polêmica: " Peter Sloterdijk, autor do cultuado Crítica da razão cínica, símbolo de uma geração herdeira da Teoria Crítica, é o pivô de um escândalo que está dividindo a intelectualidade européia (...). Sloterdijk propõe um Conselho de cientistas e filósofos para criar um discutível Parque Genético Humano (Menschenpark), como reservatório para 'salvar e aprimorar a espécie da imbecilidade e brutalização induzida pelos mídias'. Ato contínuo, Jurgen Habermas abriu fogo contra Sloterdijk e a confusão, que promete abalar os alicerces de toda uma área do pensamento, já está na mídia européia." " Para Sloterdijk, a reação 'horrorizada' de parte da 'boa consciência' humanista contra a engenharia genética não passaria de uma tentativa de silenciar sobre a técnica seletiva, a fim de poder realizá-la exatamente em silêncio: o horror na verdade é cinismo, diz ele, evocando seu livro 'Critica da razão cínica' (1983)." Essa proposta (de uma Assembléia Geral das Ciências do Homem para discutir os limites da biotecnologia e a formulação de um código de conduta) não é tão absurda quanto pretendem os inimigos do filósofo. Ao contrário: são os postulados iniciais de Sloterdijk que podem causar preocupação: morte do humanismo, decisão de se permitir pensar no fim total dos tabus, na exigência de uma plena liberdade, ao contrário da Alemanha da culpabilidade. É nesse sentido que Sloterdijk constitui uma ruptura franca com a filosofia alemã do pós-guerra." (O texto) provocou uma verdadeira tempestade pública na Alemanha... Sujeito: o futuro do humanismo e o devir da civilização européia. Perspectivas: nada menos do que o título anuncia: "regras para o parque humano" na época da "antropotecnologia". O Monde des Débats toma portanto a iniciativa de publicar a integralidade de um texto filosófico tão longo quanto árduo, e considerado por seus adversários como explosivo, senão perigoso: é o preço por vezes a se pagar para a honestidade dos debates e das polêmicas." " Acusa-se Peter Sloterdijk de brincar com a eugenia ignorando todo e qualquer perigo, ao passo que ele toma a pluma para impedir seus adversários de minimizá-lo! Belo exemplo de incompreensão... Qual é afinal este perigo? O de não ver que uma guerra mundial começou 'a respeito das variantes da criação do homem'."
" Não importa o que tenha acontecido com esta polêmica toda, o importante para mim é que a discussão sobre a antropotecnologia finalmente tenha acontecido." Depoimento Peter Sloterdijk ao editor.
é preciso libertar a mente,o espaço está ai,doido para ser descoberto,para mostras seus mistérios.
agora filho da puta,pode subir em cima do telhado,deitar e viagar profundo.
http://www.youtube.com/watch?v=DZHw9uyj81g
Para onde nos levará o perigoso fim do humanismo literário enquanto utopia da formação humana? Como nos posicionar frente ao homem re-desenhado, frente às manipulações genéticas que sabemos serão feitas quer se queira ou não? A discussão é fundamental e apenas ensaia seus primeiros passos. Ingressamos no terreno movediço da antropotécnica, como diria Sloterdijk. Uma leitura atenta deste texto tão recente e já célebre - e ele mesmo um revelador exemplo de uma descontextualização simplifi-cadora por uma parte da crítica - nos mostra o autor advogando a necessidade de se definir regras éticas e controles sociais para as aplicações tecnológicas já ao alcance dos grandes conglomerados da bioengenharia e, em especial, para as assustadoras possibi-lidades, já fartamente disponíveis, de seleção pré-natal dos próprios seres humanos.
Trechos: " Com o estabelecimento midiático da cultura de massas no Primeiro Mundo em 1918 (radiodifusão) e depois de 1945 (televisão) e mais ainda pela atual revolução da Internet, a coexistência humana nas sociedades atuais foi retomada a partir de novas bases. Essas bases, como se pode mostrar sem esforço, são decididamente pós-literárias, pós-epistolares e, conse-qüentemente, pós-humanistas. Quem considera demasiado dramático o prefixo "pós-" nas formulações acima poderia substituí-lo pelo advérbio "marginalmente" - de forma que nossa tese diz: é apenas mar-ginalmente que os meios literários, epis-tolares e humanistas servem às grandes sociedades modernas para a produção de suas sínteses políticas e culturais."" O que ainda domestica o homem, se o humanismo naufragou como escola da domesticação humana? (...) O que domestica o homem, se em todas as experiências prévias com a educação do gênero humano permaneceu obscuro quem - ou o quê - educa os educadores, e para quê? Ou será que a questão sobre o cuidado e formação do ser humano não se deixa mais formular de modo pertinente no campo das meras teorias da domesticação e educação?"" Se o desenvolvimento a longo prazo também conduzirá a uma reforma genética das características da espécie - se uma antropo-tecnologia futura avançará até um planejamento explícito de características, se o gênero humano poderá levar a cabo uma comutação do fatalismo do nascimento ao nascimento opcional e à seleção pré-natal - nestas perguntas, ainda que de maneira obscura e incerta, começa a abrir-se à nossa frente o horizonte evolutivo."
A polêmica: " Peter Sloterdijk, autor do cultuado Crítica da razão cínica, símbolo de uma geração herdeira da Teoria Crítica, é o pivô de um escândalo que está dividindo a intelectualidade européia (...). Sloterdijk propõe um Conselho de cientistas e filósofos para criar um discutível Parque Genético Humano (Menschenpark), como reservatório para 'salvar e aprimorar a espécie da imbecilidade e brutalização induzida pelos mídias'. Ato contínuo, Jurgen Habermas abriu fogo contra Sloterdijk e a confusão, que promete abalar os alicerces de toda uma área do pensamento, já está na mídia européia." " Para Sloterdijk, a reação 'horrorizada' de parte da 'boa consciência' humanista contra a engenharia genética não passaria de uma tentativa de silenciar sobre a técnica seletiva, a fim de poder realizá-la exatamente em silêncio: o horror na verdade é cinismo, diz ele, evocando seu livro 'Critica da razão cínica' (1983)." Essa proposta (de uma Assembléia Geral das Ciências do Homem para discutir os limites da biotecnologia e a formulação de um código de conduta) não é tão absurda quanto pretendem os inimigos do filósofo. Ao contrário: são os postulados iniciais de Sloterdijk que podem causar preocupação: morte do humanismo, decisão de se permitir pensar no fim total dos tabus, na exigência de uma plena liberdade, ao contrário da Alemanha da culpabilidade. É nesse sentido que Sloterdijk constitui uma ruptura franca com a filosofia alemã do pós-guerra." (O texto) provocou uma verdadeira tempestade pública na Alemanha... Sujeito: o futuro do humanismo e o devir da civilização européia. Perspectivas: nada menos do que o título anuncia: "regras para o parque humano" na época da "antropotecnologia". O Monde des Débats toma portanto a iniciativa de publicar a integralidade de um texto filosófico tão longo quanto árduo, e considerado por seus adversários como explosivo, senão perigoso: é o preço por vezes a se pagar para a honestidade dos debates e das polêmicas." " Acusa-se Peter Sloterdijk de brincar com a eugenia ignorando todo e qualquer perigo, ao passo que ele toma a pluma para impedir seus adversários de minimizá-lo! Belo exemplo de incompreensão... Qual é afinal este perigo? O de não ver que uma guerra mundial começou 'a respeito das variantes da criação do homem'."
" Não importa o que tenha acontecido com esta polêmica toda, o importante para mim é que a discussão sobre a antropotecnologia finalmente tenha acontecido." Depoimento Peter Sloterdijk ao editor.
é preciso libertar a mente,o espaço está ai,doido para ser descoberto,para mostras seus mistérios.
agora filho da puta,pode subir em cima do telhado,deitar e viagar profundo.
http://www.youtube.com/watch?v=DZHw9uyj81g
0 Comments:
Post a Comment
<< Home