explode a luta de esquerda no paraguai 18/03/08

Lugo faz da reivindicação por reajuste no preço pago pelo Brasil pela parcela pertencente ao Paraguai da energia de Itaipu seu mote de campanha. No entanto, seus dois adversários com chances reais de vitória, a governista Blanca Ovelar, do Partido Colorado, e o general da reserva Lino Oviedo, também incorporam o tema em seus discursos. Mostrar-se disposto a brigar com o Brasil por uma maior receita de Itaipu é um exercício político que rende votos e conta com elevado apoio popular no Paraguai. Como definiu Ovelar ao Valor, Itaipu "para os paraguaios é um 'despojo' de seu bem por parte dos brasileiros".


Lugo, no entanto é quem promete levar essa pressão a níveis mais altos. Avaliações ouvidas pelo Valor em Assunção dão conta que há uma expectativa de que, uma vez eleito, o ex-bispo católico ligado à Teologia da Libertação (e apoiado por movimentos populares de camponeses, indígenas, sindicatos e partidos de esquerda), deverá adotar uma retórica de confronto, encorajar manifestações de rua e recorrer a outros meios para por o Brasil "contra a parede", ainda que para fazer jus à ansiedade do público interno.
O governo brasileiro rejeita rever os termos do contrato. "O tratado é um ato juridicamente perfeito. O Brasil é sensível a demandas específicas, mas não a mudanças de preços, o que implicaria mudanças no tratado", disse o Itamaraty, por meio de sua assessoria de imprensa.





O que aconteceria se o ex-bispo - ou um dos outros candidatos - conseguisse convencer Brasília de que os preços precisam mesmo ser revistos de forma substancial? Quem pagaria a conta, segundo diagnósticos de uma fonte do governo ouvida pelo Valor, seria o consumidor brasileiro, porque, ao menos por ora, o Brasil não tem folga suficiente que o permita a prescindir da energia de Itaipu.Os cenários para a hidrelétrica caso um dos outros dois candidatos vença são menos incômodos do ponto de vista do Brasil. No início do ano, um ministro do presidente Lula disse, sob a condição de não ser identificado, que o governo preferiria uma vitória de Blanca Ovelar ou de Lino Oviedo, e não de Lugo, a quem chamou de "populista de esquerda".Ovelar, que nas últimas pesquisas disputa o segundo lugar, aparentemente não quer deixar Lugo se apresentar como o único porta-voz de um tema que tanto mobiliza o eleitorado, como é o caso das reivindicações sobre Itaipu. Assim, ela também diz que procurará o governo e parlamentares brasileiros para conseguir preços mais elevados. Mas (e é isso que reduz as expectativas em relação a suas ameaças) só depois de constituir uma comissão de especialistas que aponte se há ou não base legal para cobrar mais pela energia vendida ao Brasil.A idéia da comissão parece ter grandes chances de fazer água, pois fatalmente tocaria numa questão incômoda aos colorados: para aonde foram os recursos obtidos com a venda de energia durante os últimos governos, quando nem sequer mais e melhores de linhas de transmissão foram construídas? O Paraguai atravessa a sui generis situação de ser o país com uma das maiores relações de watts produzidos por habitante ao mesmo tempo que está ameaçado por uma crise energética no curto prazo. Muitas vezes falta luz em Assunção. O mesmo ocorre em Ciudad del Este, que está praticamente às margens de Itaipu. O país tem grande dependência de gás de cozinha, diesel e outros combustíveis mais caros que a energia hidrelétrica - caso esta chegasse a mais lares e empresas. A menos que Ovelar esteja querendo fazer uma auto-crítica pública do Partido Colorado questionando os governos por não terem conseguido melhorar a situação energética paraguaia com a verba de Itaipu, parece improvável que a comissão vá mesmo para frente."É importante trazer ao debate político o tema dos preços de Itaipu. Mas, a meu ver, a questão não é tanto renegociar o preço da energia, mas aumentar a utilização de energia no país", avalia o economista paraguaio Fernando Masi, pesquisador do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia. "Elevam-se os preços e digamos que o governo invista em programas sociais de moradia e saúde, por exemplo. E depois, como ativar a economia, como criar empregos só com a receita maior de Itaipu?"Dentre os três candidatos com chances de vitória, Oviedo (que oscila entre segundo e terceiro lugares) é o menos incisivo em relação à usina. Apoiado - moralmente, como diz - por empresários e políticos brasileiros, o general aposentado diz que pretende discutir uma revisão do Tratado de Itaipu, mas que sua prioridade no tema energético é atrair construtoras do Brasil e recursos do BNDES para tirar do papel a usina hidrelétrica de Corpus (um projeto binacional paraguaio-argentino que não avançou). Oviedo tem planos grandiosos, fala em integração hidrelétrica das usinas de Itaipu, Yacyretá e Corpus e põe num horizonte longínquo o tema de Itaipu. Esse parece ser um dos motivos decisivos para que sua eventual eleição agrade áreas em Brasília. Lula já recebeu Ovelar e Oviedo. A campanha de Lugo diz esperar que Lula o receba ainda este mês, compromisso não confirmado pela Presidência.A pouco mais de um mês da eleição e apesar da liderança de Lugo, a disputa paraguaia ainda está embolada, dizem analistas. Mas, aparentemente, quem quer que for eleito terá de dar vazão às queixas de setores da opinião pública sobre Itaipu. Um dos principais jornais do país, o "ABC Color", defensor de uma revisão do tratado, publicou em 1º de março um editorial em toda a primeira página com o título "Paraguai não é 'sócio' do Brasil, mas sim seu escravo". Em uma passeata em Assunção há alguns dias, integrantes Partido Liberal - segunda maior legenda do país, que tem o vice de Lugo - cobrou na rua a revisão do tratado.A rediscussão dos preços também conta com a simpatia de partidos e movimentos de esquerda latino-americanos que vêem em Lugo a alternativa para que o Paraguai se integre aos grupo de presidentes de esquerda e centro-esquerda na região. O PT não definiu ainda se apoiará publicamente Lugo. Mas, ao lado de integrantes PT, do PSol e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Walter Pomar prestigiou Lugo em Assunção. Num discurso ao lado dele, Pomar repetiu a toada usada pelo partido e por setores do governo quando a Bolívia nacionalizou suas reservas. Sem citar Itaipu, Pomar agradou Lugo ao dizer que "o Brasil tem muito a ganhar com a integração regional e por isso tem de arcar com parte dos custos da integração. Essa é a posição do governo e do nosso partido".


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