*(LITERATURA CLANDESTINA REVOLUCIONÁRIA)*MICHEL FOUCAULT LIBERTE-ME.

VC LEU MICHEL FOUCAULT,NÃO?ENTÃO O QUE VC ESTÁ ESPERANDO FILHO DA PUTA?ELE É A CHAVE DA EVOLUÇÃO DOS HUMANOS.HISTORIA DA LOUCURA,NASCIMENTO DA CLINICA,AS PALAVRAS E AS COISAS,ARQUEOLOGIA DO SABER,A ORDEM DO DISCURSO,EU PIERRE RIVIÉRE,A VERDADE E AS FORMAS JURÍDICAS,VIGIAR E PUNIR,HISTORIA DA SEXUALIDADE,EM DEFESA DA SOCIEDADE,OS ANORMAIS...EVOLUÇÃO OU MORTE!

Monday, March 26, 2007

Chomsky fala sobre o Irã, o Iraque e o resto do mundo



A entrevista a seguir com Noam Chomsky, realizada por Michael Shank, foi publicada originalmente no Foreign Policy in Focus, em 16 de fevereiro de 2007.
O entrevistador, Michael Shank, é colaborador do FPIF, conselheiro das Nações Unidas sobre o Oriente Médio, Sul e Ásia, além de diretor de políticas da 3D Security Initiative.
A tradução e publicação da íntegra tem permissão de John Feffer, co-diretor do Foreign Policy in Focus, e apoio do Americas Program.
Espero que a leitura seja esclarecedora de várias formas.

Noam Chomsky é um notável lingüista, escritor e especialista em relações internacionais. Em 9 de Fevereiro, em entrevista a Michael Shank, ele falou sobre os últimos acontecimentos na política americana no Irã, no Iraque, na Coréia do Norte e Venezuela.
Chomsky falou ainda sobre as mudanças climáticas, o Fórum Social Mundial e porque as relações internacionais são dirigidas como a máfia.
Shank: Com o desenvolvimento nuclear similar na Coréia do Norte e no Irã, por que os Estados Unidos estabeleceram relações diplomáticas diretas com a Coréia do Norte mas recusam-se a fazer o mesmo com o Irã?
Chomsky: Dizer que os Estados Unidos estabeleceram diplomacia com a Coréia do Norte é, de certa forma, uma má interpretação. Fez na administração Clinton, embora nenhum dos lados tenha cumprido suas obrigações. Clinton não fez o prometido, nem a Coréia do Norte, mas havia um progresso. Quando Bush tornou-se presidente, a Coréia do Norte tinha urânio e plutônio suficientes para, talvez, uma ou duas bombas, mas com pouquíssima capacidade de mísseis. Nos anos Bush, isso explodiu. A razão é que ele cancelou imediatamente a diplomacia e a tem mantido bloqueada desde então.
Eles fizeram um acordo substancial em setembro de 2005, em que a Coréia do Norte concordou em eliminar os programas de enriquecimento e desenvolvimento nuclear completamente. Em contrapartida, os Estados Unidos concordaram em parar com as ameaças de ataque e juntar-se ao plano de prover-lhes um reator de água leve, o que estava previsto no acordo. A administração Bush minou a idéia. De imediato, o consórcio que planejava o reator de água leve foi cancelado, uma forma de dizer que nós não concordaríamos com o acordo. Alguns dias depois, eles começaram a atacar as transações financeiras de vários bancos, foi feito de uma forma precisa, para deixar claro que os Estados Unidos não cumpririam com o compromisso de melhorar as relações. E, claro, as ameaças nunca cessaram. Assim terminou o acordo de setembro de 2005.
Este acordo está de volta. A forma como ele é retratado na mídia dos EUA é - como sempre, seguindo a linha partidária do governo - que a Coréia do Norte está, agora, um pouco mais disposta a aceitar a proposta de setembro de 2005. Então existe algum otimismo. Se você cruzar o Atlântico, ao Financial Times, para verificar os mesmos eventos, eles apontam que uma administração Bush em conflito - a frase é deles - precisa de um tipo de vitória, por isso, talvez exista o desejo de reestabelecer a diplomacia. Penso que seja um pouco mais exato se você der uma olhada no histórico.
Existe uma certa sensação de otimismo. Se você recordar - e a Coréia do Norte é um lugar horrível, ninguém discorda disso -, neste aspecto eles têm sido bem racionais. Tem sido uma história de toma lá, dá cá. Se os Estados Unidos se acomodam, a Coréia do Norte se acomoda. Se os Estados Unidos são hostis, eles se tornam hostis. Isto é bem avaliado por Leon Sigal, um dos maiores especialistas no assunto, em número recente da Current History. Mas este é o cenário geral e estamos em um momento em que poderia haver um acordo com a Coréia do Norte.
Isso é muito menos significativo para os Estados Unidos que o Irã. Francamente, não acho que o problema iraniano tenha muita relação com armas nucleares. Ninguém está dizendo que o Irã deva ter armas nuclerares - assim como qualquer outro país -, mas o problema no Oriente Médio, diferente da Coréia do Norte, é que ele é o centro dos recursos energéticos mundiais. Primeiro foi domínio dos britânicos e depois dos franceses, mas desde o fim da Segunda Guerra Mundial, é domínio dos EUA. Este tem sido um axioma da política externa norte-americana, que os recursos energéticos do Oriente Médio devem ser controlados. Não é, como as pessoas freqüentemente dizem, uma questão de acesso, uma vez no mar, o petróleo vai para qualquer lugar. A verdade é que mesmo se os Estados Unidos não ussassem o petróleo do Oriente Médio, a política seria a mesma. Se partíssemos para a energia solar amanhã, a mesma política seria mantida. Dê uma olhada nos arquivos internos, ou na lógica deles, a questão sempre foi controle. O controle é a fonte da força estratégica.
Dick Cheney disse no Cazaquistão, ou em outro lugar qualquer, que controlar os oleodutos é “um instrumento para intimidação e chantagem”. Quando temos o controle sobre os oleodutos, é um instrumento de benevolência. Se outros países têm o controle sobre as fontes de energia e de distribuição, então é um instrumento de intimidação e chantagem, como disse Cheney. Este tem sido o entendimento desde que George Kennan, nos dias seguintes do pós-guerra, afirmou que se os EUA tiverem o controle dos recursos do Oriente Médio, terá poder de veto nos seus rivais industriais. Ele falava especificamente sobre o Japão, mas a afirmação é geral.
Então, a situação no Irã é diferente. Ele é parte do principal sistema energético do mundo.
Shank: Então, quando os Estados Unidos consideram uma invasão, você acha que é sob a premissa de ganhar controle? É isso que os EUA ganharão invandindo o Irã?
Chomsky: Existem muitas variáveis no caso do Irã. Uma é que ele é independente e a independência não é tolerada. Nos arquivos internos, algumas vezes é chamada de desafio bem-sucedido. Uma grande maioria da população dos EUA é a favor do estabelecimento da diplomacia com Cuba, e tem sido assim há muito tempo, com alguma flutuação. Até setores do mundo dos negócios é a favor também. Mas o governo não permitirá. Atribui-se aos votos da Flórida, mas não acho que esta seja uma explicação. Acho que está relacionado com uma característica das relações mundiais que é pouco estudada. As relações internacionais são muito parecidas com a máfia. O chefão não aceita a desobediência, mesmo do dono de uma pequena mercearia que não pagou por proteção. Deve-se obediência, ou, do contrário, a idéia de que não se deve seguir ordens se alastrará até chegar a locais importantes.
Se você retornar aos arquivos, qual foi a principal razão para os EUA atacarem o Vietnã? O desenvolvimento independente pode ser um vírus que pode infectar outros. Esta é a forma como foi posta por Kissinger referindo-se a Allende no Chile. Quanto a Cuba, os arquivos internos são explícitos. Arthur Schlesinger, ao apresentar o relatório do Grupo de Estudo da América Latina ao recém chegado Presidente Kennedy, escreveu que o perigo é o contágio das idéias de Castro em lidar com as questões com as próprias mãos, o que era de grande apelo para outros na mesma região e que sofriam com os mesmos problemas. Mais tarde, documentos internos culparam Cuba de desafio bem-sucedido às políticas dos EUA, retornando 150 anos - até a doutrina Monroe - e isso não podia ser tolerado. Então, é o tipo de comprometimento do estado para garantir a obediência.
De volta ao Irã, não é só apenas por ter recursos substancias ou por ser parte do maior sistema energético do mundo, mas também por ter desafiado os Estados Unidos. Os Estados Unidos, como sabemos, derrubou o governo parlamentar iraniano, instalou um tirano brutal e ajudou a desenvolver poder nuclear. De fato, os mesmos programas que hoje consideramos uma ameaça, foram patrocinados pelo governo dos EUA, por Cheney, Wolfowitz, Kissinger e outros nos anos 70, enquanto o esteve no poder. Mas então os iranianos derrubaram o governo e mativeram alguns norte-americanos como reféns por centenas de dias. Imediadamente, os Estados Unidos apoiaram Saddam Hussein e sua guerra contra o Irã, como uma forma de punição. Os Estados Unidos continuarão a punir o Irã pelo desafio. Este é um fator em separado.
E, de novo, os desejos da população e mesmo da economia dos EUA são considerados, em sua maioria, irrelevantes. Setenta e cinco porcento da população aqui é a favor da melhoria das relações com o Irã, não das ameaças. Mas isso é deixado de lado. Não temos pesquisas do mundo dos negócios, mas é muito claro que as corporações de energia ficariam bem felizes se autorizadas a retornar ao Irã ao invés de deixar tudo aquilo para seus rivais. Mas o estado não vai permitir, o que gera confrontos neste momento, muito explicitamente. Parte da razão é estratégica, geopolítica, econômica, mas em parte é o complexo de máfia. Eles têm que ser punidos por nos desobedecer.
Shank: A Venezuela tem sido um desafiador bem-sucedido com Chavez e a proximidade com o socialismo. Como ela está em nossa lista?
Chomsky: Bem no alto. Os Estados Unidos patrocinaram um golpe militar para derrubar o governo. Na verdade, é o último e mais recente esforço no que costumava ser um lugar comum para esse tipo de medida.
Shank: Mas por que não voltamos mais nosso olhar para a Venezuela?
Chomsky: Ah, eles estão lá. Existe uma corrente constante de abuso e ataque pelo governo e, conseqüentemente, pela mídia, que são contra a Venezuela. Por várias razões. A Venezuela é independente, diversificou suas exportações em detrimento da dependência das exportações apenas para os Estados Unidos e direcionou atenções para a integração e a independência da América Latina. É o que eles chamam de alternativa boliviana e os Estados Unidos não gostam nada disso.
Novamente, é o desafio às políticas dos EUA de volta à Doutrina Monroe. Existe uma nova intepretação padrão deste tendência na América Latina, um outro tipo de linha partidária. Toda a América Latina está se direcionando para a esquerda, da Venezuela à Argentina, com raras exceções, mas existe uma esquerda ruim e uma boa. A esquerda boa é Garcia e Lula, e existe uma esquerda má que é Chavez, Morales, talvez Correa. Esta é a separação.
Para manter esta posição, é necessário recorrer a medidas elaboradas. Por exemplo, é preciso não relatar o fato de que quando Lula foi reeleito em outubro, sua primeira viagem internacional e um de seus primeiros atos foi visitar Caracas para apoiar Chavez e sua campanha eleitoral e criar uma articulação venezuelana-brasileira no Rio Orinoco, conversar sobre novos projetos e coisas do tipo. É preciso não notar o fato que poucos dias depois, em Cochabamba, na Bolívia, no coração dos caras maus, houve um encontro de líderes da América Latina, com planos para construir uma integração sul-americana, o que não está de acordo com a agenda dos EUA. Então, isto não foi percebido.
Shank: Como o impasse político no Líbano tem afetado a decisão dos EUA em entrar em guerra com o Irã? Existe mesmo uma relação entre os dois problemas?

Chomsky: Existe. Presumo que parte do motivo para a invasão EUA-Israel em julho - e foi uma invasão dos EUA com Israel, os libanêses têm razão quanto a isso - parte da razão, suponho, foi que o Hezbollah era considerado um obstáculo para uma potencial invasão dos EUA-Israel no Irã. Havia obstáculos, isto é, foguetes. E a intenção, presumo, foi limpar todo e qualquer obstáculo para deixar livre os Estados Unidos e Israel para um eventual ataque ao Irã. Esta é, pelo menos, parte da razão. A razão oficial para a invasão do Líbano não pode ser levada a sério, ou seja, a captura de dois soldados israelenses e a morte de alguns outros. Por décadas, Israel vem capturando e sequestrando refugiados libanêses e palestinos em alto mar, do Chipre ao Líbano, matando-os no Líbano, levando-os a Israel, matendo-os como reféns. Isto acontece há décadas e ninguém nunca pediu a invasão de Israel?
Claro que Israel não deseja qualquer competição na área. Mas não existe base de princípios para o ataque massivo ao Líbano, que foi horrendo. De fato, um dos últimos atos dos EUA-Israel na invasão, pouco depois do cessar fogo, foi saturar grande parte do sul com minas. Não havia um propósito militar para isso, a guerra tinha acabado, o cessar fogo estava próximo.
Grupos antiminas da ONU que trabalham lá, dizem que a escala é sem precedentes. É muito pior que qualquer outro lugar em que trabalharam: Kosovo, Afeganistão, Iraque, qualquer lugar. Supõe-se que ainda existam um milhão de minas. Muitas delas não explodem até serem tocadas, uma criança pode tocás-la, um fazendeiro pode atingí-las com uma enxada ou algo semelhante. Ou seja, basicamente o que foi feito foi deixar o sul inabitável até que as equipes de minas, para os quais nem os Estados Unidos nem Israel contribuem, limpem tudo. Todas são terras cultiváveis, isso significa que os fazendeiros não podem voltar; significa que qualquer obstáculo do Hezbollah foi minado.
Não se pode citar o Hezbollah na mídia dos EUA fora do contexto “opoiado pelo Irã”. Este é o termo. O nome certo é “Hezbollah apoiado pelo Irã”. Ele tem apoio do Irã. Mas é possível citar Israel fora do contexto “apoiado pelos EUA”. Então, é propaganda tácita. A idéia de que o Hezbollah é um agente do Irã é muito dúbio, ela não é aceita por especialistas em Irã ou por especialistas em Hezbollah. Mas esta é a política. Às vezes, você pode citar a Síria, ou seja, “Hezbollah apoiado pela Síria”, mas como a Síria não é muito de interesse, deve-se enfatizar o apoio iraniano.
Shank: Como o governo americano pode pensar como viável um ataque ao Irã dados a disponibilidade e capacidade das tropas e o sentimento do público?
Chomsky: Até onde sei, os militares nos Estados Unidos acham que é loucura. E de qualquer vazamento que obtemos da inteligência, a comunidade de inteligência acha bizarro, mas não impossível. Se você der uma olhada em pessoas que realmente estiveram envolvidas em planejamento estratégico no Pentágono por anos, gente como Sam Gardiner, elas dizem que existem coisas que realmente podem ser feitas.
Não acho que qualquer analista externo, até onde eu sei, levou muito a sério a idéia de bombardear estruturas nucleares. Eles dizem que se houver bombardeio será de solo. Ou seja, tome a estrutura nuclear mas tome o resto do país também, com uma exceção. Por acidente ou geografia, a maior parte dos recursos de petróleo no mundo está em áreas de domínio xiita. O petróleo do Irã está concentrado bem perto do golfo, uma área que é árabe, não persa. O Cuzistão é árabe e tem sido leal ao Irã, lutou a seu lado, não ao lado do Iraque, na guerra Irã-Iraque. Esta é uma fonte em potencial de desacordo. Eu ficaria surpreso se já não houver uma tentativa de apoio a grupos separatistas no Cuzistão. Forças dos EUA na fronteira do Iraque, incluindo a insurreição, estão disponíveis para “defender” um Cuzistão independente contra o Irã, que será o informado, se for possível fazê-lo.
Shank: Você acha que é para isso que a insurreição serve?
Chomsky: É uma possibilidade. Houve a divulgação de um relatório de jogos-de-guerra do Pentágono, em dezembro de 2004, quando Gardiner liderou, publicado no Atlantic Monthly. Era possível apresentar uma proposta que não levasse ao desastre, mas uma das coisas que eles levaram em consideração foi manter a presença de tropas no Iraque além do necessário para substituições, e usá-las para uma invasão por terra no Irã - presume-se que pelo Cuzistão, que é onde está o petróleo. Se fosse possível realizar isso, bastava bombardear todo o resto do país às cinzas.
De novo, eu ficaria surpreso se não houver esforços para financiar movimentos separatistas, dentre a população azeri, por exemplo. Existe uma mistura étnica complexa no Irã; grande parte da população não é persa. De qualquer forma, existem tendências separatistas e é quase certo, mesmo sem saber nada dos fatos, que os Estados Unidos estão tentando apoiá-las para rachar o país internamente. A estratégia parece ser: tentemos rachar o país internamente para levar às mais duras e brutais lideranças possíveis.
Esta é a conseqüência imediata de ameaças constantes. Todo mundo sabe disso. Esta é uma das razões de reformistas, como Shirin Ebadi e Akbar Ganji, entre outros, de reclamarem constantemente das ameaças dos EUA, que minam os esforços de reformar e democratizar o Irã. Mas este é o propósito. Como é uma conseqüência óbvia, deve-se admitir que este é o propósito. Assim como na lei, conseqüências antecipadas são tidas como evidência das intenções. E aqui é tão óbvio que não dá para duvidar seriamente das intenções.
Então, pode ser que uma das ações da política é apoiar movimento separatistas, particularmente nas regiões ricas em petróleo, nas regiões árabes próximas ao golfo, também nas regiões azeri e outras. Em segundo lugar, está a tentativa de fazer com que as lideranças sejam as mais duras, brutais e repressoras possíveis, para elevar a desordem interna e a resistência. E em terceiro, é tentar pressionar outros países, e os europeus são os mais simpáticos, para a união de esforços em estrangular a economia iraniana. A Europa parece medir os passos, mas freqüentemente fica do lado dos Estados Unidos.
Os esforços de intensificar a dureza do regime aparecem de muitas formas. Por exemplo, o Ocidente adora Ahmadinejad. Qualquer declaração dele é imediatamente anotada nas manchetes e mal traduzida. Eles o amam. Mas qualquer um que conheça alguma coisa sobre o Irã, como os conselhos editoriais, sabe que ele não pode fazer nada em matéria de política externa. A política externa está nas mãos de seu superior, o Supremo Líder Khamenei. Mas suas declarações não são divulgadas, particularmente quando elas são muito conciliatórias. Por exemplo, eles amam quando Ahmadinejad diz que Israel não deveria existir, mas não gostam quando Khamenei, logo depois, diz que o Irã apóia a posição da Liga Árabe na questão Israel-Palestina. Até onde sei, isso nunca foi divulgado. Na verdade, é mais fácil encontrar as posições conciliatórias de Khamenei no Financial Times, mas não aqui. Elas são repetidas pelos diplomatas iranianos, mas não é o suficiente. A proposta da Liga Árabe defende a normalização das relações com Israel, desde que Israel aceite o consenso internacional em torno do acordo bilateral com os palestinos, um acordo que tem sido bloqueado pelos os Estados Unidos e por Israel por 30 anos. Mas esta não é uma boa história, então ou não é mencionada ou escondida em algum lugar.
É muito difícil fazer qualquer previsão sobre a administração Bush porque ela é profundamente irracional. Eles sempre foram irracionais, desde o início, mas agora estão desesperados. Eles criaram uma catástrofe inimaginável no Iraque. Deveria ter sido uma das mais fáceis ocupações millitares da história, mas eles conseguiram torná-la um dos piores desastres militares da história. Não podem mais controlá-la e é quase impossível sair de lá, por razões que não podem ser discutidas nos Estados Unidos já que discutir porque eles não podem sair de lá seria explicar os reais motivos da invasão.
Somos encorajados a pensar que não teve qualquer relação com o petróleo, que se o Iraque expotasse picles ou geléia e o centro da produção petrolífera fosse no Pacífico Sul, os Estados Unidos teriam invadido da mesma forma. Não tem nada a ver com petróleo, que idéia maluca. Qualquer pessoa com os parafusos na cabeça sabe que isso não pode ser verdade. Permitir um próspero e independente Iraque seria um pesadelo para os Estados Unidos. Significaria uma dominação xiita, o que seria um mínimo de democracia. Haveria uma contínua aproximação com o Irã, tudo o que os Estados Unidos não querem ver. Além disso, na fronteira com a Arábia Saudita, onde a maior parte do pretróleo saudita está, existe uma grande população xiita, provavelmente uma maioria.
Qualquer ação para a independência do Iraque estimula pressões para os direitos humanos da população xiita repremida e também para um certo grau de automina. Você pode imaginar uma ampla aliança xiita no Iraque, Arábia Saudida e Irã controlando a maior parte do petróleo mundial, e independentemente dos Estados Unidos. E, muito pior, embora a Europa possa ser intimidada pelos Estados Unidos, a China não. Esta é uma das razões de porque a China é considerada uma ameaça. Estamos de volta ao princípio da máfia.
A China está ali por 3 mil anos, conteve os bárbaros, está livrando-se de um século de dominação e está se virando sozinha. Ela não se intimida quando o Tio Sam balança os punhos. Isso é amedrontador. Em particular, é perigoso no caso do Oriente Médio. A China é o centro da rede de segurança energética na Ásia, que inclui a Ásia Central e a Rússia. A Índia está ali nas beiradas, a Coréia do Norte está envolvida, e o Irã é, de certa forma, um associado. Se os recursos petrolíferos do Oriente Médio no golfo, que são os principais do mundo, caírem na rede asiática, os Estados Unidos serão, realmente, uma potência de segunda classe. Tem muito em jogo no Iraque.
Tenho certeza que estas questões são discutidas em planejamentos internos. É inconcebível que eles não pensem nisso, mas está fora da discussão pública, não está na mídia, não está nos jornais, não está no relatório Baker-Hamilton e acho que as razões são compreensíveis. Trazer a tona estes problemas seria abrir os motivos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha para a invasão. E isto é um tabu.
Existe um princípio que diz que tudo que nossos líderes fazem é por razões nobres. Pode ser um erro, pode ser feio, mas basicamente é nobre. E se você entender como objetivos moderados, conservadores, estratégicos ou econômicos, é uma ameaça para este princípio. É impressionante a extensão de como isso é levado a sério. Os pretextos originais para a invasão foram as armas de destruição em massa e as ligações com a al-Qaida, que ninguém, só talvez Cheney e Wolfowitz, levou a sério. A única pergunta que eles reinteraram foi: Saddam irá desistir dos programas de armas de destruição em massa? Esta pergunta única foi respondida meses depois, mas da forma errada. Rapidamente a política foi alterada. Em novembro de 2003, Bush anunciou sua agenda de liberdade: nossa real intenção é levar a democracia ao Iraque para transformar o Oriente Médio. Esta tornou-se a linha política, instantaneamente.
Mas é um erro escolher indivíduos por estarem próximos do universal, mesmo na academia. Na verdade, você pode encontrar artigos acadêmicos que começam com a evidência de que foi uma completa farsa, mesmo sem aceitá-la como tal. Existe um estudo muito bom sobre a agenda de liberdade na Currenty History escrito por dois acadêmicos que citam os fatos. Eles argumentam que a agenda de liberdade foi anunciada em novembro de 2003, depois do fracasso na busca por armas de destruição em massa, mas que a agenda existiria mesmo sem qualquer motivo para sua existência.
Se você der uma olhada nas nossas políticas, é o oposto completo. Veja a Palestina. Houve um eleição livre na Palestina, mas o resultado foi o errado. Instantaneamente, os Estados Unidos e Israel, com a Europa do lado, puniram o povo palestino, e com dureza, por terem votado de forma errada em uma eleição livre. Isto é aceito no Ocidente como sendo normal e ilustra o profundo ódio e desrespeito das elites ocidentais com a democracia, tão profundamente sedimentados que mal são percebidos quando estão na frente dos nossos olhos. Você pune pessoas severamente por votar errado em eleições livres, mas existe um pretexto para isso também, repetido todos os dias: o Hamas deve, primeiro, concordar em reconhecer Israel, segundo, parar com a violência e, terceiro, aceitar os acordos. Tente encontrar uma menção sequer da rejeição dos Estados Unidos e Israel aos três itens. Obviamente, eles não reconhecem a Palestina, com certeza não diminuíram a violência ou as ameaças - a verdade é que eles insistem nelas - e não aceitam os acordos passados, incluindo o mapa para a paz.
Eu suspeito que uma das razões do livro de Jimmy Carter ter sido tão atacado é porque pela primeira vez, nos meios de massa, alguém encontrou a verdade sobre o mapa da paz. Nunca vi nada nos meios de massa que debatesse a rejeição instantânea de Israel ao mapa da paz, com apoio dos Estados Unidos. Oficialmente, eles o aceitaram, mas adicionaram 14 observações que o inviabilizou. Foi feito de forma rápida. É de conhecimento público que escrevi e falei sobre o assunto, assim como outros, mas eu nunca vi ser mencionado nos meios de massa. E, claro, eles não aceitam a proposta da Liga Árabe ou qualquer outra proposta séria. Na verdade, eles estão impedindo o consenso internacional a respeito da solução bi-nacional por décadas. Mas o Hamas tem que aceitar.
Não faz qualquer sentido. O Hamas é um partido político, partidos políticos não reconhecem outros países. E o próprio Hamas deixou isso muito claro com uma trégua de um ano e meio, não responderam aos ataques israelenses e propuseram uma trégua de longo prazo, quando seria possível negociar um acordo segundo o consenso internacional e a proposta da Liga Árabe.
Tudo isso é óbvio, está na superfície, e é apenas um dos exemplos do ódio à democracia por parte das elites ocidentais. É um exemplo, mas pode-se citar casos e mais casos. O presidente anunciou sua agenda de liberdade, e se o querido líder diz alguma coisa, ela deve ser verdade, em um estilo parecido com o da Coréia do Norte. Além disso, existe uma agenda de liberdade mesmo com uma montanha de evidências contra ela, a única evidência a favor dela está em palavras, mesmo que fora de tempo.



Shank: Na eleição presidencial de 2008, como os candidados vão lidar com o Irã? Você acha que o Irã será um assunto decisivo?
Chomsky: O que eles têm dito até agora não é encorajador. Ainda penso, a despeito de tudo, que os Estados Unidos não estão muito propensos a um ataque ao Irã. Pode ser uma catástrofe enorme; ninguém sabe quais serão as conseqüências. Imagino que apenas uma adminstração muito desesperada chegaria a tanto. Mas se os candidatos democratas estiverem no caminho da vitória, a administração vai se desesperar. E tem ainda o problema iraquiano: não dá para ficar lá, mas também não dá para sair de lá.
Shank: Os senadores democratas parecem não chegar a um consenso a respeito.
Chomsky: Acho que existe uma razão, que são as conseqüências de permitir um Iraque independente e parcialmente democrático. As conseqüências não são triviais. Podemos enfiar nossas cabeças na areia e fingir que não pensamos sobre o assunto, porque não podemos permitir que o motivo da invasão pelos Estados Unidos seja revelado, seria auto-destrutivo.
Shank: Existe alguma conexão entre este assunto e nossa incapacidade de encontrar o desejo político de criar uma legislação que reduza os níveis de emissão de CO2, instituir um sistema de reciclagem, etc.?
Chomsky: O motivo dos Estados Unidos não assinarem o Protocolo de Quioto está perfeitamente claro. De novo, existe um grande apoio popular para assiná-lo, tão grande que a maioria dos eleitores de Bush em 2004 pensou que ele era a favor do protocolo, é o tipo de coisa óbvia para se apoiar. O desejo popular por fontes de energia alternativas é grande há muito tempo. Mas elas prejudicam os lucros corporativos, que é o que constitui a própria administração.
Lembro de conversar, 40 anos atrás, com um dos líderes no governo envolvido com controle bélico. Conversamos que o controle de armas poderia ser bem-sucedido e, como uma piada, ele falou “bem, seria um sucesso se as indústrias de alta tecnologia lucrassem mais com controle de armas do que com pesquisa e produção de armas. Se chegármos a esse ponto, talvez o controle de armas seja um sucesso”. Ele estava, em parte, brincando, mas existe uma grande verdade aí.
Shank: Como vamos lidar com as mudanças climáticas sem prejudicar o sul?
Chomsky: Infelizmente, os países pobres, o sul, sofrerão muito de acordo com a maioria das projeções - e assim sendo, qualquer suporte do norte está minado. Preste atenção na história do ozônio. Enquanto o hemisfério sul era o mais ameaçado, houve pouca conversa a respeito. Quando o problema foi descoberto no norte, foram tomadas medidas muito rapidamente. Agora mesmo existe um debate em torno de um esforço sério para o desenvolvimento de uma vacina contra a malária, porque o aquecimento global pode chegar aos países ricos, então alguma coisa tem que ser feita a respeito.
A mesma coisa acontece quanto aos planos de saúde. Esta é uma questão que, para a população em geral, é um problema sério, por anos. E existe o consenso para um sistema nacional de saúde no modelo de outros países industriais, com expansão do Medicare para todos, ou algo do tipo. Bem, isso está fora da agenda, ninguém pode falar sobre. As companhias de seguro não gostam da idéia, as indústrias financeiras também e por aí vai.
Agora existe uma mudança a caminho. O que está acontecendo é que as indústrias de manufatura estão começando a opoiar a idéia porque elas estão sendo prejudicadas pela ineficiência do sistema dos Estados Unidos. É a pior coisa no mundo industrial de longe, e eles estão pagando por isso. Como a compensação é, em parte, do empregador, os custos de produção deles são muito mais elevados que os dos competidores que tenham um sistema nacional de saúde. Veja a GM. Se ela produzir o mesmo carro em Detroit e em Windsor, na fronteira com o Canadá, são economizados, esqueci do número, acho que são US$ 1 mil na produção em Windsor porque lá existe um sistema nacional de saúde. É muito mais eficiente, mais barato e efetivo.
Então, a indústria de manufatura está começando a pressionar por algum tipo de sistema de saúde nacional, começando a colocar o assunto na agenda. Não importa se a população quer, o que 90% da população deseja é um tanto irrelevante. Mas se parte do capital corporativo, que é quem faz o país funcionar - outra coisa que não podemos dizer, mas que é óbvia -; se parte do setor está a favor, então o problema entra na agenda.
Shank: Então como a voz do sul será ouvida na agenda internacional? O Fórum Social Mundial é o lugar certo?
Chomsky: O Fórum Social Mundial é muito importante, mas, claro, não pode ser coberto no Ocidente. Na verdade, lembro de ler um artigo, acho que no Financial Times, sobre os dois principais fóruns acontecendo na época. Um era o Fórum Econômico Mundial em Davos e o outro era em Herzeliyah, em Israel, um fórum de direita em Herzeliyah. Claro que havia também o Fórum Social Mundial em Nairóbi, mas neste tinha apenas dezenas de milhares de pessoas de todos os lugares do mundo.
Shank: Com a tendência de denegrir o G77 nas Nações Unidas, pode-se duvidar se os países em desenvolvimento farão ouvir suas preocupações.
Chomsky: A voz dos países em desenvolvimento pode ser amplificada em muito com o apoio dos saúdaveis e privilegiados, ou então sempre serão marginalizados, como em qualquer outro assunto.
Shank: Então, depende de nós.


Saturday, March 24, 2007

A TV Globo e sua história secreta:Por José Lucas Alves Filho.





.com.br/conspiracoes/
A_TV_Globo_e_sua_historia_secreta.htm
como o link é muito grande eu cortei ele no meio,então copia e cola na barra de endereço....

Friday, March 23, 2007

Publicações Globo e a tríplice fronteira: quem é o ingênuo? Por Rubens Diniz*23/03/07



A investigação se baseia em um suposto “relatório entregue pelo Departamento do Tesouro dos EUA ao governo brasileiro”, que aponta uma série de pessoas da comunidade árabe na tríplice fronteira, que arrecadariam recursos para “bancar as atividades de grupos terroristas no Oriente Médio”. (1)
Mesmo afirmando que “até hoje não se descobriu nenhuma célula terrorista na tríplice fronteira”, e que, “o governo americano está naturalmente inclinado a potencializar o risco do terror em todo o mundo”, a revista indaga se não estaríamos sendo ingênuos, ao negarmos as acusações feitas pelos EUA. Mas realmente quem está sendo ingênuo?Para tratar de responder a pergunta, é necessário que contextualizemos um pouco o que é a região da tríplice fronteira. Formada pelas fronteiras entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai, é um ponto de conexão natural, com grandes fluxos humanos e comerciais. É ademais área que representa a simbiose da integração latino-americana. É uma região que contém ao redor de 700 mil habitantes, formada de guaranis, mestiços e uma grande comunidade de árabes, que se dividem em muçulmanos xiitas e sunitas e uma pequena população de cristãos emigrados do Líbano, Síria, Egito e dos territórios palestinos. Em sua maioria chegaram nos anos 70, com a construção de Itaipu, e se dedicam em grande parte ao comércio. Um aspecto importante sobre a região – e esquecida pela revista Época – são os seus imensos recursos hídricos. O magnífico caudal do rio Paraná que desce desde a bacia amazônica alimentando os lençóis subterrânea que conformam o Sistema Aqüífero Guarani (SAG), que é aparentemente, a maior jazida subterrânea de água doce do planeta. (8). Sua área abarca 1.195.700km2, aproximadamente 70% se encontra em solo brasileiro, 19% na Argentina, 6% no Paraguai e 6% no Uruguai. Suas reservas de água (capacidade de armazenamento) se estimam em 40 mil km3, com reabastecimento de 160 km3. Estima-se que “estas reservas podem satisfazer as demandas de água de 360 milhões de habitantes (300 litros diários por pessoa), ao longo de 100 anos, e somente teria sido consumido 10% de sua capacidade total” (2),(7). Esse “irrelevante” dado, esquecido de ser mencionado pela Época, dá a real dimensão da importância estratégica. Outro dado não mencionado pela mesma revista é a presença militar norte-americana na região. É de chamar a atenção, e deve ser motivo de análise, que justamente em uma região rica em recursos estratégicos e ponto de convergência da integração sul-americana, surjam tais acusações. Para o professor emérito da Universidade de Brasília, Luis Alberto Moniz Bandeira, autor de A formação do Império Americano, são preocupantes as manobras efetuadas pelos EUA na região da tríplice fronteira. Elas poderiam servir para dominar regiões ricas em água doce, “em uma atitude preventiva ao problema de escassez hídrica a ser enfrentado pelo mundo no futuro”. (3) Como no Iraque e no Afeganistão, os reais interesses da guerra contra o terrorismo eram de dominar os vastos recursos naturais destes povos, será que a revista não estaria sendo ingênua diante dos motivos reais que levam os Estados Unidos a realizarem tais acusações? Já não vimos um filme parecido com este?

A presença militar norte- americana na região da tríplice fronteiraA partir dos anos 90, o Pentágono desenvolveu uma nova estratégia de uso de instalações militares. Procuram construir em outros países estruturas como quartéis e pistas de pouso, onde realizam exercícios militares, e que podem ser utilizadas em uma possível intervenção militar.Esse é o caso da renovada pista de pouso Mariscal Estigarribia, no Chaco paraguaio, localizada a apenas 250 km da Bolívia e igualmente próxima do Brasil e da Argentina. É uma moderna pista de pouso com 3.800 metros de comprimento e 70 metros de largura, maior do que o aeroporto de Assunción. Tem condições de receber aviões Galaxy, os que são utilizados pelos Estados Unidos para transporte de carga e de tropas. Fora ela, no ultimo período os EUA ajudaram a construir outras estruturas nas localidades de Oviedo, Salto del Guará y Pedro Juan Caballero, que podem ser utilizadas para fins militares. (4) Mas a presença americana não pára aí: em 19 de agosto de 2004, o poder executivo promulga a Lei 2447-04, “que aprova o convênio de troca de notas entre o governo da Republica do Paraguai e o governo dos Estados Unidos da América, relativo a exercícios, seminários, conferencias e intercâmbios militares”.(4) Entre junho de 2005 e 31 de dezembro de 2006, os EUA realizaram 13 exercícios militares com a participação de 400 soldados.
Na época, o Ministro de relações exteriores, Celso Amorim, afirmava que “a presença de 400 marines em manobras militares durante alguns meses no Paraguai evidentemente preocupa, pois é um contingente importante”. Vale destacar que a postura do governo brasileiro tem sido digna e soberana, afirmando que não existem indícios nesta área de funcionamento de células terroristas. Não se pode deixar de reconhecer que o Hezbollah é o maior partido de massas do Líbano e conduz o movimento de resistência as agressões feitas por Israel, com aval dos EUA.
Mas para o tenente coronel Philip K. Abbott, do exercito dos EUA, “a tríplice fronteira é uma área ideal para o surgimento de grupos terroristas”. Ele diz também que “embora essa área não seja atualmente o centro de gravidade para a guerra total contra o terrorismo, ela tem um lugar importante na estratégia”. (5) Na mesma linha de ataque à soberania de nossos países, em 17 de julho de 2006 foi aprovada uma moção no Senado americano para a criação de uma força tarefa anti-terror no hemisfério ocidental, principalmente na região da tríplice fronteira. Tal moção foi repudiada pelo governo brasileiro. A acusação feita pelos EUA é um insulto aos povos desta região. Representa uma ingerência, um ataque à soberania destes países, e deve ser rechaçada contundentemente, assim como devem ser aclarados os reais objetivos destas acusações. Como afirma o professor Moniz Bandeira, as insistentes e repetitivas acusações de que nesta região existem terroristas fazem parte “de uma guerra psicológica, de alguns setores do Pentágono, com objetivos escusos, entre os quais obter mais recursos no orçamento e instalar no “hinterland” da América do Sul uma força de deslocamento rápido para intervir em situações de conflito de baixa intensidade...e controlar uma zona como a tríplice fronteira, com a maior reserva mundial de água potável, recurso estratégico cuja carência se previa para o futuro”(3)
O mesmo afirma que “é preciso ter claro que não significa uma operação bélica”, as estruturas bélicas construídas não são para serem ocupadas de forma imediata, coincidindo com o estudioso do tema, Ignácio J. Osacar, coordenador da comissão de Defesa do CENM (Centro de Estudos Nueva Mayoria, Argentina), que afirma que os EUA teriam a possibilidade de mobilizar uma brigada de 15 mil efetivos de modo aéreo em não mas de 72 horas, incluindo veículos blindados, helicópteros de transporte e de combate. De forma muito rápida poderia mudar a infra-estrutura de ter soldados dormindo em tendas de campanha, para bem estruturados alojamentos, com todas as condições, ou seja em condições de permanecer por tempo indeterminado. (6) Não se trata de alarmes, de teorias conspiratórias, mas quando se trata de provocações feitas por um país que tem como doutrina “defender a soberania dos EUA, seu território e interesses nacionais, no país e no exterior”, é necessário estar atento, e denunciar qualquer tentativa de ingerência e agressão. O que procura o imperialismo norte-americano é disseminar a intriga, o ódio, a fragmentação, a divisão dos povos desta região.(5)
Nossa estratégia é a luta pela integração latino-americanaA questão da tríplice fronteira é um tema nacional. As acusações são afrontosas à soberania, como também de discriminação a uma população que tem raízes históricas nesta região, e que hoje faz parte do povo brasileiro, argentino e paraguaio. A tríplice fronteira é um elo de identidade cultural em nosso processo de integração regional.O novo cenário latino-americano incomoda o imperialismo, que vê sua influencia perder espaço e trata com isto de reagir. A batalha que exercem hoje os povos do nosso continente pela integração latino americana tem significado histórico; é uma derrota do receituário neoliberal e a possibilidade de constituição de projetos autônomos, de desenvolvimento, que explorem sustentavelmente suas riquezas, é a possibilidade de fazer do continente latino-americano uma zona de paz, unidade e sem bases militares americanas.
O Fórum Social da Tríplice Fronteira tem sido um espaço organizado pelos movimentos sociais dos três países com o objetivo de dar visibilidade ao tema, de mobilizar a opinião pública, sobre a militarização da região, e os reais interesses dos EUA com suas acusações. O Fórum da Tríplice Fronteira, que já foi realizado no Paraguai e na Argentina, está em fase de organização de sua 3{ edição no Brasil, durante o segundo semestre de 2007. Em um esforço similar, a Campanha pela Desmilitarização das Américas (CADA) realizou entre os dias 15 e 20 e julho de 2006 uma Missão Internacional de Observadores ao Paraguai, que em suas conclusões afirma “que se manterá atenta a presença de tropas ou corpos de segurança estrangeiros na região.”(4)
* Rubens Diniz, psicólogo, é diretor do Centro Brasileiro de Solidariedade com os Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ) e da Campanha pela Desmilitarização das Américas-CADA










Tuesday, March 20, 2007

GIORGIO AGAMBEN:“ESTADO DE EXCEÇÃO COMO REGRA”

Friday, March 16, 2007

PETER SLOTERDIJK:foda,foda,foda...


O Desprezo das Massas é um brilhante ataque que o filósofo alemão Peter Sloterdijk desfere contra o senso comum “ilustrado”, dada a asfixia do pensamento em exercícios diletantes das formas, amante de uma álgebra inútil. Partindo de um diálogo com Elias Canetti e seu diagnóstico acerca da agressividade da massa (essa heroína apressada de uma modernidade iludida) contra o talento e a diferença antropológica vertical, e estendendo esse diálogo a Heidegger, Nietzsche, Foucault, Rorty (criticando nesse sua aposta em uma estupidez democrática anti-filosófica), entre outros, Sloterdijk chega mesmo a buscar luzes em alguns momentos da teologia da graça, mais uma vez revelando sua qualidade de não dizer o que é normalmente considerado como de “bom tom” para as “posturas inteligentes modernas”. Aliás, essa tem sido sua tônica: dizer aquilo que a militância das “massas inteligentes” desprezam: “Por essa razão em todo mundo crescem como erva daninha aquelas comissões de ética que, como institutos da destroçada filosofia, querem substituir os sábios.”

O desenvolvimento a longo prazo conduzirá a uma reforma genética das características da espécie humana? Uma antropotecnologia futura avançará até um planejamento explícito de suas características? Essas perguntas de respostas complexas estiveram no centro do já famoso discurso de Elmau: um debate sobre a evolução futura da espécie no contexto de "um humanismo que naufragou como escola da domesticação humana", e do qual ninguém poderá se furtar.Em julho de 1999 eclodiu uma polêmica num pitoresco castelo da Baviera como há muito já não se via nestes tempos de horizontes tranqüilos e conflitos pasteurizados. Uma palestra refinada e aparentemente despretensiosa — tomando como ponto de partida o diagnóstico heideggeriano da crise do humanismo e prosseguindo retroativamente pela denúncia nietzscheana da domesticação apequenadora do homem pelo homem até as acintosas recomendações de Platão sobre a arte de pastorear seres humanos — se transformaria no maior debate político-filosófico dos últimos anos a varrer uma Europa em confronto com um fim-de-século tão cheio de indagações e inseguranças quanto o foi seu início.Para onde nos levará o perigoso fim humanismo literário enquanto utopia da formação humana? Como nos posicionar frente ao homem re-desenhado, frente às manipulações genéticas que sabemos serão feitas quer se queira ou não? A discussão é fundamental e apenas ensaia seus primeiros passos. Ingressamos no terreno movediço da antropotécnica, como diria Sloterdijk. Uma leitura atenta deste texto tão recente e já célebre — e ele mesmo um revelador exemplo de uma ontextualização simplificadora por uma parte da crítica — nos mostra o autor advogando a necessidade de se definir regras éticas e controles sociais para as aplicações cronológicas já ao alcance dos grandes conglomerados da bioengenharia e, em especial, para as assustadoras possibi-lidades, já fartamente disponíveis, de seleção pré-natal dos próprios seres humanos.


GIACOMO MARRAMAO:OUTRO QUE É FODA.



Marramão discute o típico dualismo ocidental entre pensamento laico e religioso. A noção de "secularização" e "secular", em especial, merece do autor um estudo aprofundado, onde são reconstruídos os deslocamentos semânticos e as extensões metafóricas.

JACQUES RANCIÈRE:literatura de primeira qualidade.16/03/07




o Mestre Ignorante:Em 1818 Joseph Jacotot, revolucionário exilado e leitor de literatura francesa na Universidade de Louvain, começou a semear o pânico na Europa erudita. Ensinou francês a estudantes flamengos sem lhes dar uma só lição e acreditava que todo o homem tinha a mesma inteligência, que era possível aprender sozinho, sem mestre explicador.

Thursday, March 15, 2007

o maior pensador da atualidade é (GIORGIO AGAMBEN).DISCÍPULO DE FOUCAULT.

Homo Sacer: o Poder Soberano e a Vida Nua I:Em nossa época, o corpo biológico do cidadão veio a ocupar uma posição central nos cálculos e estratégias do poder estatal. A política tornou-se biopolítica, e o campo de concentração surge como o verdadeiro paradigma político da modernidade. Agamben, em sua investigação, traz à luz o vínculo oculto que desde sempre ligou a vida nua, a vida natural não politizada, ao poder soberano. E uma obscura figura do direito romano arcaico será a chave que permitirá uma releitura crítica de toda nossa tradição política: o homo sacer, um ser humano que podia ser morto por qualquer um impunemente, mas que não devia ser sacrificado segundo as normas prescritas pelo rito.

A Linguagem e a Morte: um Seminário Sobre o Lugar da Negatividade:
Na tradição filosófica ocidental, o homem representa uma ruptura do continuum natural. Como animal falante, habita a clareira em que se abre toda significação, todo dizer; como mortal, encontra sua dimensão mais autêntica na antecipação de sua própria impossibilidade radical. Questionar o lugar e a estrutura desta negatividade constitutiva é ponto de partida para uma compreensão, em toda sua profundidade, da relação essencial estabelecida entre morte e linguagem.



Estado de Exceção: O filósofo italiano Giorgio Agamben é um dos pensadores mais instigantes da atualidade. Em Estado de Exceção, terceiro lançamento da coleção Estado de Sítio, coordenada por Paulo Arantes, ele estuda a contraditória figura dos momentos antes “extraordinários” – de emergência, sítio, guerras – onde o Estado usa de dispositivos legais justamente para suprimir os limites da sua atuação, a própria legalidade e os direitos dos cidadãos. Segundo o autor, “o estado de exceção apresenta-se como a forma legal daquilo que não pode ter forma legal”. Um poder além de regulamentações e controle, que para Agamben, hoje não é mais excepcional, mas o padrão de atuação dos Estados. Estado de Exceção é uma reconstrução história e uma análise da lógica e da teoria por trás da sua evolução e conseqüências, de Hitler aos prisioneiros de Guantánamo. Para isso o autor destrincha o pensamento de Carl Schimitt (autor alemão, contemporâneo de Walter Benjamin, com quem polemizou) e seus estudos sobre ditaduras; filósofos e teóricos do direito; e as mudanças nas constituições européias e norte-americanas que levaram a instituição do estado de exceção como paradigma. “Combatentes ilegais”, Patriot Act, Bush como commander in chief dos Estados Unidos, toque de recolher, zonas de proteção em encontros de organismos internacionais, pacotes econômicos, limites e contradições das democracias modernas, guerras preventivas e o executivo legislando por decretos e medidas provisórias, são temas atuais abordados e que se relacionam diretamente com a análise de Agamben. Obra fundamental para entender o estado e a política contemporânea, Estado de Exceção expõe as áreas mais obscuras do direito e da democracia. Justamente as que legitimam a violência, a arbitrariedade e a suspensão dos direitos, em nome da segurança, a serviço da concentração de poder.

Saturday, March 10, 2007

O conflito entre esquerda e direita definiu o século 20. O que vem depois?



Da Prospect Magazine
Julian Baggini, filósofo Uma das tarefas dos políticos é entender quais valores são universais e quais não. O novo conflito é entre o universalismo liberal e um comunitarismo que afirma a necessidade das culturas de manter seus próprios valores e tradições. Será este último apenas um freio temporário do primeiro, ou o sonho universalista morrerá?
Philip Obbitt, autor de política Nação contra mercado. Partidos políticos da nação-Estado viam a lei como meio de alcançar seus objetivos morais. Partidos do mercado-Estado tentam maximizar as escolhas dos cidadãos, seja desregulamentando indústrias ou a reprodução das mulheres, sem assumir nada no sentido de concordar com objetivos comuns. Entre outras conseqüências, essa nova ordem constitucional vai gerar uma nova forma de terrorismo.
Robert Cooper, membro do governo da UE A história, disse Hegel, é a noção crescente da liberdade. No século 19, a liberdade veio com o Estado de direito e o Estado. Neste século, a liberdade virá da lei internacional, mas não há Estado internacional. A grande questão é como organizar este mundo no qual a política e a identidade são nacionais, mas só conseguimos sobreviver e prosperar se agirmos internacionalmente. Tudo bem falar de "comunidade internacional", mas quem é, e como pode funcionar?
Diane Coyle, economista Tecnocracia contra democracia. Já há áreas importantes de política pública sendo administradas por especialistas, no lugar de políticos eleitos, e funcionam melhor do que quando a pressão eleitoral afetava os resultados: a política monetária é o exemplo óbvio. Mas há tensão aqui. Por um lado, as novas tecnologias nos dão uma hiperdemocracia, uma pressão rápida e gigantesca on-line. Pelo outro, a ciência cognitiva e ciência social empírica constroem uma base de evidências mais confiável para tecnocratas sobre como as pessoas tomam decisões e quais serão suas conseqüências na prática.
Brian Eno, músico Intervencionistas versus o 'deixa estar'; globalistas versus nacionalistas; comunidade geográfica versus comunidade de escolha; vida real versus vida virtual; extensão da vida para todos versus extensão da vida para alguns. (Comentários completos sobre cada uma dessas categorias on-line em www.prospect-magazine.co.uk) Duncan Fallowell, autor Toda política no futuro será sobre sobrevivência, pura e simples. A migração em massa das regiões quentes às temperadas já começou. A batalha entre a generosidade e o interesse pessoal será cada vez mais motivo de ataques de pânico coletivos. O medo já está em toda parte.
Gerald Hotham, economista O novo alinhamento combinará conservadores sociais e igualitários de um lado, unidos sob a bandeira do patriotismo e da responsabilidade em relação aos outros cidadãos, apoiados pelos votos dos menos competitivos. Eles enfrentarão a oposição de meritocratas e libertários, apoiados pelas grandes empresas. O confronto entre a política de identidade e a política do dinheiro ficará explícito. Atualmente, as tensões são contidas porque a globalização, apesar de erodir a comunidade, está gerando prosperidade. Mas isso é instável.A globalização, ao fornecer ampla de mão-de-obra para a economia mundial, levou a um aumento dos lucros e um declínio do salário em todos os países industrializados. Nas economias emergentes da Ásia, criou condições do século 19, onde os lucros e o investimento são responsáveis por 50% do produto interno bruto. No Ocidente, enquanto os salários não se mantiveram, o consumo sim, graças a uma explosão da dívida do consumidor. Nem investimento nem dívida do consumidor podem crescer indefinidamente mais rápido do que o PIB, sem uma queda. Quando a queda chegar, as alianças vão se formar em torno de linhas nacionalistas contra globalizadoras.
Pervez Hoodbhoy, cientista As políticas global e nacional vão ficar simples e hobbesianas em 50 a 70 anos. Enquanto isso, a fome de energia vai levar os países europeus e os EUA a espremerem e roubarem as últimas gotas de petróleo das areias muçulmanas. Enquanto as pontes entre o islã e o Ocidente desmoronam, espere guerra civil global e triunfantes movimentos neotalebans em torno do globo. Se algumas capitais ocidentais forem arrasadas, as capitais muçulmanas serão atingidas por bombas nucleares em retaliação. A antiga ordem planetária está condenada a morrer. Mas o espírito humano ainda poderá prevalecer, e um novo e melhor poderá emergir.
Nicholas Humphrey, cientista Como alguém pode duvidar que a linha divisória será a religião? Por um lado, haverá os que continuam a apelar para seus valores políticos e morais e o que compreendem como vontade de Deus. Do outro, haverá os ateus, agnósticos e materialistas científicos que entendem que as vidas humanas estão sob o controle humano, sujeitas apenas às restrições relativamente negociáveis de nossa psicologia desenvolvida. O que torna o resultado incerto é que nossa psicologia evoluída quase certamente tende para a religião como uma defesa essencial contra o terror da morte e da falta de significado.
Antaole Kaletsky, jornalista O socialismo pode estar morto, mas as tensões entre os que têm e os que não têm vão dominar o próximo século, assim como fizeram em cada século anterior. O século 20 foi o único período na história em que o igualitarismo brevemente pareceu ser vencedor. No futuro, a desigualdade prevalecerá, não por ser moralmente correta ou economicamente eficiente ou até inerente à natureza humana, mas porque se tornou aceitável.As elites em todo o mundo estão descobrindo formas de acomodar e satisfazer as aspirações da maioria, sem minar suas próprias posições privilegiadas, e esse processo continuará. As batalhas do século 20 entre a elite conservadora e o proletariado igualitário acabaram. As novas tensões políticas nascerão entre uma elite de maioria conservadora e proletariado de um lado e, do outro, uma subclasse socialmente excluída que, por razões sociológicas, genéticas ou religiosas, não pode ou não aceita ser cooptada pela sociedade burguesa.
Andrew Moravcsik, acadêmico Que questão mais européia. Esquerda contra direita pode ser um tema ultrapassado na Europa, mas aqui nos EUA, não. Aqui não é apenas uma questão importante - é a única. Nós americanos habitamos a única grande democracia industrializada que ainda trava as batalhas domésticas dos anos 30 (ou de 1890), essencialmente sem mudanças. Diferentemente da Europa - nesse respeito, o Reino Unido é totalmente europeu - os americanos nunca colheram os frutos da vitória progressista em tais batalhas: o estabelecimento firme da social-democracia, do secularismo e do antimilitarismo.Em vez disso, continuamos uma nação firmemente libertária. Os custos são evidentes: 40 milhões sem seguro de saúde, a mais alta mortalidade infantil do Ocidente, uma divisão trágica entre negros e brancos, amplo domínio da religião sobre as escolhas pessoais, uma aversão à aplicação da lei internacional e ainda um fascínio insalubre com o poder militar imperial. Na Europa, tudo isso desapareceu há meio século. Aqui, depois de uma geração de domínio conservador, está ressurgindo.
Anshuman Mondal, acadêmico Não é coincidência que a distinção esquerda/direita tenha se borrado enquanto a religião ressurgiu na vida pública, porque essas categorias foram reprimidas por formas secularistas de pensar e ser. O secularismo vai continuar a ser desafiado, e em jogo estará nada menos que um tipo de "modernidade" ao qual todos nos acostumamos. Haverá também um desafio crescente à hegemonia do "ocidentalismo", à noção de que os modelos ocidentais de política, sociedade e economia representam o objetivo do desenvolvimento humano. Será a próxima etapa de descolonização.
Francis Wheen, autor A nova batalha será entre o melhor do legado do Iluminismo (racionalismo, empirismo científico, separação da Igreja e do Estado) por um lado e, do outro, várias formas de obscurantismo e relativismo destituído de valores, freqüentemente mascarado como "antiimperialismo" ou "antiuniversalismo" - para dar um verniz atraente radical a atitudes profundamente reacionárias. Algumas coisas realmente são (ou deveriam ser) universais, desde a liberdade de expressão até o valor de pi, mas, no atual ambiente, até essas podem ser apresentadas como imposições ocidentais. O que torna esta batalha tão séria são as forças que estão se unindo contra a versão iluminista da modernidade - pré-modernistas e pós-modernistas, progressistas da nova era e fundamentalistas ao estilo do Velho Testamento. Elas têm pouco em comum, além de uma grande coisa - seu ódio visceral pela razão.



Saturday, March 03, 2007

O fanatismo religioso de Bush

por Altamiro Borges:
“Bush acha que Deus fala com ele... Ele se julga em missão divina... Reiterou que sua missão é ditada do alto, a pretexto de que ‘a liberdade é uma dádiva do todo-poderoso’... Essencialmente, o que ele disse foi ter sido ‘convocado’ para esse papel... George W. Bush foi colocado na Casa Branca por Deus”.Bob Woodward, no livro Plan of attack, com base em declarações do próprio presidente-maníaco.
O choque de civilizações foi escrito em 1993. O livro de cabeceira dos republicanos afirma que o mundo vive uma fase de transição e que a maior ameaça ao “ocidente” viria da chamada “conexão islâmica-confuciana”, incluindo os países árabes e a perigosa China. Diante deste cenário apocalíptico, Huntington sugere que o “mundo ocidental” deve usar meios militares para desestabilizar as “civilizações hostis” e preservar a sua hegemonia. “Um mundo sem o primado americano terá mais violência e desordem, menos democracia e crescimento, do que um mundo no qual os EUA continuem a ter mais influência do que qualquer outro país na formação dos negócios globais”. Os atentados de 11 de setembro seriam a prova cabal do acerto desta “teoria”.
“Enviado de Deus na Terra”
Por detrás desta “teoria insana” se escondem muitos tiranos maníacos. A mídia hegemônica, que costuma fazer grosseiras caricaturas do islamismo e de outros credos, não enfatiza que o próprio George W. Bush é um ativo partidário da intolerância e do fanatismo religioso. Ele jura que é um “enviado de Deus na terra” – ou, como escreveu um colunista do Washington Post, “é o próprio aiatolá da América”. Na sessão conjunta do Congresso de setembro de 2001, quando decretou sua “guerra infinita”, o atual presidente dos EUA esbravejou: “Ou você está conosco, ou está com os terroristas. De hoje em diante, qualquer nação que continuar a acolher ou apoiar o terrorismo será encarada pelos EUA como regime hostil”.
Foi nesta ocasião que Bush pregou a “cruzada contra o terrorismo”, numa versão cristã da Jihad, a guerra santa dos mulçumanos. Poucos dias depois, o pastor Jerry Falwell, um de seus “conselheiros espirituais”, aproveitou o clima de histeria decorrente dos atentados de 11 de setembro para afirmar que “Maomé é terrorista”. Já o reverendo Pat Robertson disse que aquele ataque fora “um castigo de Deus por causa da legalização aborto e da ação das feministas e gays”. E a jornalista Ann Coulter, entusiasta da “guerra santa”, escreveu: “Devíamos invadir o país deles, matar os líderes deles e convertê-los ao cristianismo”.

O “renascimento em Cristo”
De há muito que a família Bush explora a religiosidade dos estadunidenses para escamotear seus negócios ilícitos e justificar sua política ultraconservadora. Segundo vários dos seus biógrafos, após uma longa fase de “beberrão a arruaceiro”, o atual presidente difundiu amplamente a imagem do “renascido em Cristo” – born again Christian –, o que rende muitos votos no segmento mais atrasado do eleitorado. Ele inclusive passou a fazer pregações em igrejas e nos shows evangélicos de televisão, nos quais satanizava as demais religiões e dizia que relia a Bíblia a cada dois anos. O reverendo Tony Evans, seu confidente em Dallas quando ele era governador do Texas, relata que Bush “sentia que Deus falava com ele” e rezava várias vezes ao dia “para ser, tanto quanto possível, um bom mensageiro da vontade de Deus”.
Bush gostava de relatar que o seu “renascimento em Cristo” se dera com a ajuda do pastor midiático Billy Grahan, cultuado como o “estadista evangélico da América”. Grahan é um antigo conselheiro espiritual da família Bush, tendo passado várias férias na residência de praia em Kenneebunkport, no extremo oeste dos EUA. O reverendo inclusive teria uma ligação afetiva com baby-Bush devido à semelhança do seu problema com o do seu filho, Franklin Grahan, que aos 22 anos voltou a se dedicar à religião após longa fase de vícios e internações. Segundo relato do próprio Grahan, foi numa conversa com o atual presidente, durante uma caminhada na praia de Kennebunkport, em 1986, que baby-Bush se reconverteu à religião.
“Livrar-se do último demônio”
“Quando a gente está sem Deus nesta vida, amarga terrível solidão... Há uma coisa que gostaria que você fizesse ao voltar ao Texas. Deus ama você, George. Deus está interessado em você. Para voltar a dedicar a vida a Jesus Cristo e se tornar um homem novo, você terá de se livrar daquele último demônio. George, dê isso a ele. Deus vai assumir a carga e você será libertado”, orientou o pastor. Segundo relato do próprio Bush, ele só teria se libertado dos seus “demônios” durante uma festa com os amigos texanos de Midland para comemorar o seu 40º aniversário. Após aquela longa folia, ele jurou que nunca mais iria beber.



Bush garante a sua vida mudou radicalmente depois que ele ouviu os “conselhos espirituais” do reverendo Grahan. Antes de “excomungar seus demônios”, afastando-se do alcoolismo e de outros vícios, ele havia fracassado na vida política (foi derrotado numa eleição para deputado em 1978) e no mundo dos negócios (suas três empresas do ramo de petróleo faliram entre 1976 e 1983). Após a “reconversão”, ele se tornou governador do Texas, em 1993 (reeleito em 1977), e presidente dos EUA, em 2000. Daí ele afirmar, com uma convicção hipócrita e oportunista, que é um predestinado, um “enviado de Deus na terra”.
O falso moralismo dos theocons
Na eleição de 2000, George Bush teve apoio ativo dos pastores ultraconservadores, como Pat Robertson, Jerry Falwell e do midiático Billy Grahan. Os seus cabos eleitorais foram os fanáticos das organizações religiosas de extrema direita dos EUA, como a Maioria Moral e a Coalizão Cristã, secretariada por Ralph Reed. Este só não pôde participar mais ativamente da campanha eleitoral porque foi revelada sua atuação ilegal e criminosa de lobista da Microsoft e da corrupta Enron. Para colegas evangélicos, o pastor Reed jurava que “Deus escolheu Bush porque sabia de suas qualidades de líder vigoroso e resoluto”.
A agressividade dos tele-evangelistas contra as “civilizações hostis”, as liberdades democráticas, o aborto e o homossexualismo acabou rendendo votos entre o eleitorado mais conservador e chauvinista dos EUA. Além disso, ela foi apimentada pelo falso moralismo destas seitas. Isto apesar de denúncias contra muitos pastores. Um deles, Jim Baker, dono de império de hotéis, escandalizou o país ao admitir que mantinha relações extra-conjugais e ao ser preso por desvio de dólares dos fiéis. Já Jimmy Swaggart, cuja pregação alcançava mais de 100 países, incluindo o Brasil, caiu em desgraça ao se descoberto em prostíbulos. Ele chorou, pediu desculpas e, pouco depois, voltou à ativa, tornando-se ativo apoiador de George W. Bush.
Já Pat Robertson, criador da Coalizão Cristã, detém postos de comando no Partido Republicano e possui milionários negócios, como a exploração de minas de ouro na Libéria e uma influente rede de televisão – Cristian Broadcasting Network (CBN). Seu programa diário na TV é famoso pelas agressivas campanhas contra o aborto e o casamento gay, pela obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas e pela defesa dos “valores da família”. No ano passado, causou celeuma no país ao pregar o assassinato do presidente Fidel Castro. A Coalizão diz possuir um milhão de adeptos e se vangloria de ter já elegido vários deputados, senadores e governadores. Ela tem um luxuosa sede em Washington que serve para sua ação lobista.




“A cruzada sanguinária” de Bush
Na verdade, toda esta encenação religiosa serve aos propósitos dos republicanos ultraconservadores. De há muito que o Partido Republicano sofre enorme influência da direita religiosa dos EUA, dos chamados theocons. Nela militam não apenas reverendos fascistas, como Pat Robertson e Jerry Falwell, mas vários advogados com notável dedicação às campanhas moralistas. O grupo teve muito poder nos dois mandatos de Ronald Reagan, sendo baluarte da luta contra o comunismo, e também no governo de Bush-pai. Mas depois caiu no descrédito, sendo responsabilizado pelas duas derrotas consecutivas dos republicanos. Na gestão de Bill Clinton, os theocons lideraram a campanha moralista pelo impeachment do presidente.
Com a vitória de baby-Bush e, principalmente, após os atentados de 11 de setembro de 2001, este grupo retornou com toda força ao poder e hoje ocupa postos-chaves em várias áreas do governo, especialmente no Departamento de Justiça. O atual presidente usou, de forma oportunista, de toda a carga religiosa e das contribuições dos theocons para decretar sua “guerra santa ao terrorismo” e para proclamar o “choque de civilizações” como forma de justificar as criminosas ocupações do Afeganistão e, depois, do Iraque. Ele se postou como “mensageiro de Deus” nesta “cruzada” sanguinária. A direita religiosa também conseguiu emplacar a sua política contra as liberdades civis, o direito ao aborto e o homossexualismo nos EUA.



amercia latina te espera facista.
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